CAPÍTULO 10 ∆

O sol começava a se erguer no horizonte, tingindo tudo com uma luz dourada. Eu caminhava pela matilha com Axel, Caius e Theron ao meu lado. Eles eram mais que meus betas, mais que soldados. Eram meus irmãos de batalha, minha sombra nos dias sombrios, minha voz quando a minha falhava. Eu podia ser o Alfa, o líder, mas sabia que, sem eles, manter a matilha unida seria impossível.

 — Vamos precisar reforçar isso antes do próximo inverno. Se uma nevasca cair, essas famílias vão congelar. — Disse Axel, apontando para a cerca quebrada de uma das cabanas.

Assenti, analisando a estrutura. — Envie dois dos novos recrutas para consertar isso antes do fim do dia. Se eles reclamarem, diga que eu mesmo vou até lá e arrebento a cara de cada um.

Caius riu, mas logo se controlou. — Isso vai motivá-los.

Passei os olhos pelo vilarejo. Apesar da vida dura, eles estavam bem. Crianças corriam entre as casas, lobos jovens treinavam no campo, e os mais velhos estavam reunidos no mercado, trocando histórias e suprimentos. Tudo parecia normal, mas eu sabia que o perigo nunca estava longe.

— E o estoque de comida? — perguntei a Theron, meu outro beta.

— Está baixo, Alfa, mas já enviei um grupo de caçadores para o sul. Devem voltar amanhã com algo substancial.

Assenti, mas não respondi de imediato. A fome não era um problema agora, mas com o inverno se aproximando, tudo poderia mudar. Eu não deixaria minha matilha passar necessidade.

Um som distante chamou minha atenção. Um dos batedores vinha correndo pela estrada, o rosto coberto de suor, as roupas rasgadas pela pressa.

— Alfa! — gritou ele, parando à nossa frente. Sua respiração vinha em curtos arquejos, mas a urgência em seus olhos era inconfundível.

— Fale, Alden — ordenei, minha voz cortante como o vento frio da manhã.

— Bloodfang e Shadowclaw... Eles destruíram o clã Grey. Dizimaram a Matilha Sombria.

O ar pareceu congelar ao meu redor. Meus betas ficaram imóveis, trocando olhares tensos.

— Quando isso aconteceu? — perguntei, mantendo minha voz firme, mesmo que por dentro Reven estivesse inquieto.

"Os filhos da puta estão cada vez mais próximos", rosnou Reven em minha mente.

— Há uns dois dias, durante a noite... — respondeu o batedor.

Dois dias. Meu coração apertou, mas não deixei transparecer. Faz dois dias que encontramos a forasteira.

Reven rosnou dentro de mim, sua voz carregada de desconfiança e algo que eu não queria admitir. "E se ela for uma deles? E se ela for uma sobrevivente?"

Não respondi. Precisava pensar.

— E os Grey? — perguntei, franzindo a testa. — Alguém sobreviveu?

Alden balançou a cabeça. — Até onde sei, não, Alfa. Estão todos mortos.

Soltei o ar pelo nariz, um som pesado que parecia carregar o peso da notícia. — Bom trabalho, Alden. Descanse e esteja pronto para novas ordens.

Ele assentiu, fazendo uma reverência antes de sair.

— Isso é muita coincidência — disse Caius, cruzando os braços. — Uma forasteira aparece na mesma noite em que uma matilha inteira é destruída? Ela pode estar mesmo mentindo. Talvez esteja fugindo dos Bloodfang e Shadowclaw.

— Não sabemos nada ainda — retruquei, cortando Caius com um olhar afiado. — E não vamos tomar decisões baseadas em suposições.

Axel assentiu, mas Caius parecia relutante.

Sem dizer mais nada, me virei e caminhei para a cabana do sacerdote. Se alguém pudesse me ajudar a entender essa merda toda, era ele.

A cabana de Alaric era como sempre: cheia de incensos e velas, com símbolos antigos gravados nas paredes. Ele estava sentado em um canto, os olhos fechados como se estivesse esperando por mim.

— Draven. — Sua voz era grave, como se carregasse séculos de sabedoria. — Eu sabia que você viria.

— Preciso de respostas, Alaric — falei, cruzando os braços.

— Sobre a forasteira. — Ele abriu os olhos, que brilhavam como o luar. — Você sente, não sente? Algo diferente. Algo que não consegue explicar.

— Pare com os enigmas — rosnei. — É ela? A Deusa está... está me dando outra chance?

Alaric sorriu de leve, mas havia algo mais em sua expressão. Compaixão, talvez. — A Deusa nunca erra em suas escolhas. E você sabe disso. Mas, Draven, essa loba... ela não é apenas uma segunda chance. Ela é mais que isso. Talvez ela seja a sua cura.

— Se ela é minha companheira, por que não sente o vínculo? Por que ela não reconhece?

Alaric suspirou, seus olhos fixos nos meus. — Há muitas razões para isso. Ela pode ter passado por uma rejeição recente. Quando isso acontece, o vínculo pode demorar para se manifestar novamente.

— Quanto tempo? — perguntei, a voz mais áspera do que pretendia.

— Dias. Semanas. Anos. — Ele deu de ombros, como se o tempo fosse irrelevante para ele. — Depende de quanto isso a afetou.

Fechei os punhos, minha frustração evidente. — E o que eu faço? Como lido com uma loba que nem sequer reconhece seu companheiro? Como faço isso sem perder o controle?

— Seja paciente. — Ele sorriu de canto, como se soubesse que isso seria um desafio para mim. — E pare de tratá-la como uma prisioneira. Deixe-a respirar. Dê-lhe espaço para ver quem você realmente é. Se continuar assim, só vai afastá-la ainda mais.

— Ela pode ser uma inimiga. — Minha voz estava cheia de dúvida, mas também de um temor que eu não queria admitir.

— Ela não é uma inimiga, Draven. — Alaric se levantou, colocando uma mão em meu ombro. — Ela é uma loba em busca de um novo lar. E talvez ela tenha encontrado.

— E se... se eu machucá-la?como fiz com... — Não consegui completar a frase.

— A forasteira não é Lyanna, Draven. Não cometa o erro de tratá-la como tal. Por enquanto, não conte a ela sobre o vínculo, não pode correr o risco dela rejeitá-lo, essa é sua última chance.

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