"Dizem que a dor molda quem somos. Que, ao perder tudo, renascemos mais fortes. Mas naquele momento, enquanto corria pela floresta, tudo o que sentia era o vazio devorando minha alma. A rejeição de Damon ainda queimava dentro de mim, mas a destruição que encontraria mais adiante seria a verdadeira ruína do meu coração."
Eu não sabia por quanto tempo corri pela floresta. Minhas pernas pareciam se mover sozinhas, guiadas por um instinto de sobrevivência que nem eu sabia que tinha. A dor da rejeição e o vínculo quebrado ainda pulsavam em meu peito, mas, naquele momento, o que mais me dominava era a confusão.
"Por quê?" pensei, sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. "Por que a deusa me abandonaria assim? Por que daria um companheiro que nunca foi meu de verdade?"
Akira continuava em silêncio. Sua dor refletia a minha, e isso só tornava tudo mais insuportável.
Quando finalmente parei, percebi que estava longe demais.
Girei os calcanhares e retornei para a matilha.
A lua iluminava a clareira à minha frente, mas algo no ar fez meu peito apertar. Um cheiro intenso de sangue.
"Akira?" chamei, a voz trêmula.
"Tem algo errado," ela rosnou, despertando de sua letargia. "Algo terrível aconteceu."
Antes que eu pudesse perguntar mais, ela assumiu o controle. Meu corpo se transformou rapidamente, e agora éramos uma só, correndo em direção à origem daquele cheiro metálico e sufocante.
À medida que nos aproximávamos da matilha, os sons ficaram mais claros. Gritos. O rugir de fogo consumindo madeira. Meu coração disparou, e Akira soltou um uivo de pura fúria.
"Não... não pode ser," sussurrei em pensamento.
Quando chegamos mais perto, vi o caos. Casas queimando, corpos caídos ao chão. A visão era um pesadelo, uma cena que nunca esqueceria.
De repente, uma figura cambaleante surgiu entre as árvores. Era Ryden. Seu corpo estava coberto de sangue, e ele tropeçou antes de cair de joelhos. Imediatamente voltei à minha forma humana, correndo até ele e segurando-o antes que ele atingisse o chão.
— Ryden! — gritei, meu coração afundando ao vê-lo naquele estado.
Ele tentou falar, mas o sangue borbulhou em sua boca. Ainda assim, ele segurou meu braço com força, como se estivesse lutando contra a morte para me avisar algo.
— Você... precisa fugir, Calyssa, — ele disse com dificuldade, sua voz rouca.
— Não! Eu não vou te deixar! O que está acontecendo? Onde está minha família? — Minha voz tremia, e as lágrimas escorriam enquanto eu o sacudia levemente, tentando mantê-lo acordado.
— Estão... estão todos mortos, — ele revelou, e aquelas palavras cortaram mais profundamente do que qualquer lâmina jamais poderia.
Meu mundo parou. A dor da rejeição que senti antes parecia insignificante em comparação ao que aquelas palavras carregavam.
— Não... — murmurei, as lágrimas caindo sem controle. — Não pode ser... Quem fez isso, Ryden? Quem?!
— Os Bloodfang e Shadowclaw, — ele conseguiu dizer, tossindo violentamente em seguida. — Eles... se uniram. E massacraram tudo.
A raiva tomou conta de mim, queimando como fogo. — Por quê? Por que fariam isso?
— Poder... território... vingança... Não importa, — ele respondeu, sua voz ficando mais fraca a cada palavra. — Calyssa... eles virão atrás de você. Você é a última. A única que restou.
Minha mente estava um caos. Eu não podia processar tudo ao mesmo tempo. — Não vou deixá-lo aqui, Ryden. Vou cuidar de você. Vou... — comecei a procurar algo ao meu redor, desesperada para ajudar, para salvar pelo menos uma vida. Nem que precisasse usar meu sangue para curá-lo.
— Não... Não tem salvação para mim, não temos tempo — ele disse, sua mão segurando a minha com um aperto fraco. — Calyssa, por favor... fuja.
— Não! Eu não vou te abandonar! — gritei, mas, naquele momento, ouvi vozes. Vozes distantes, mas cada vez mais próximas.
Ryden olhou nos meus olhos com uma urgência desesperada. — Fuja, Calyssa! Agora!
— Ryden, não... por favor! — supliquei, mas ele balançou a cabeça.
— Salve-se, Calyssa. Akira... leve-a para longe.
Akira rugiu dentro de mim, e, antes que eu pudesse protestar, ela tomou o controle. Meu corpo voltou à forma de lobo, e ela começou a correr, me carregando para longe.
Enquanto corríamos, pude ouvir as vozes e os uivos dos lobos inimigos nos perseguindo. Meus olhos ardiam de lágrimas, e minha mente gritava para voltar, mas Akira não me deu escolha.
"Precisamos viver, Calyssa", — ela rosnou.
Corremos por um tempo que pareceu uma eternidade, até que chegamos à beira de um precipício. Quase caí, minhas patas escorregando na terra solta, mas consegui parar a tempo.
Olhei ao redor. Lobos surgiram das sombras, cercando-nos. Akira recuou até a beira, rosnando para os inimigos que avançavam lentamente.
"Não temos para onde ir," ela disse, sua voz carregada de resignação e fúria.
A solidão não me incomoda. Sempre fui assim, isolado, separado do resto do mundo. Minha matilha, Nightbane, é o reflexo disso. Nós somos o que as outras matilhas temem: predadores que não hesitam em atacar. Não fazemos alianças, não buscamos aprovação. Somos lendas vivas, e, como todo mito, nosso nome é sussurrado com respeito e medo.
Eu sou Draven Black, Alfa da matilha Nightbane.
Minha posição como Alfa não veio de sangue ou privilégio. Eu conquistei meu lugar. Cresci órfão, lutando por cada pedaço de respeito e por cada gota de poder que possuo agora. Aos 20 anos, desafiei o Alfa anterior e tomei o trono que ele nunca mereceu. Desde então, minha palavra é lei.
Mas, mesmo entre os mais poderosos, há coisas que nos tornam únicos. Minhas presas negras, por exemplo. Um veneno mortal corre nelas, uma marca de algo que não entendo. Já me trouxe vitórias incontáveis, mas também tragédias... como a morte de minha última companheira.
Agora, anos depois, evito laços. Uma fraqueza que não posso me permitir novamente.
Caminhava naquela noite com meus betas, Caius e Axel, sob a luz prateada da lua. A noite estava agitada, os ventos trazendo aromas desconhecidos.
— Acha que os Bloodfang vão causar problemas de novo? — Caius perguntou.
— Eles sempre causam, — respondi secamente. — Mas não são estúpidos o suficiente para cruzar nossas fronteiras.
Axel riu, mudando de assunto. — Chega de guerra. Vamos falar de coisas melhores. E por melhores, quero dizer mulheres.
— Claro que você diria isso, — retruquei, minha voz carregada de sarcasmo.
— Talvez seja disso que você precise, Alfa, — Axel provocou. — Uma nova companheira para te tirar dessa constante nuvem de mau humor.
— Não preciso de ninguém, — respondi friamente. — E não se esqueça do que aconteceu com a última.
Axel insistiu. — Não acha que está na hora de reconsiderar? Uma alfa ao seu lado fortaleceria a matilha. E, francamente, a solidão pode ser perigosa.
— Só se ela cair do céu, — retruquei sarcasticamente. — Até lá, vocês dois vão parar de me irritar ou preciso lembrá-los do que acontece com lobos desobedientes?
Axel soltou um suspiro resignado, mas antes que pudesse responder, algo mudou no ar.
Foi súbito. Um som cortou a noite, um grito que ecoou de cima do penhasco.
Minha atenção foi capturada instantaneamente, e meus instintos assumiram o controle. Olhei para cima, para o alto do desfiladeiro. Algo estava caindo. Não, alguém.
— Que merda.
Corri. O mundo parecia desacelerar enquanto meus pés me levavam para o ponto exato onde o corpo cairia. Não havia tempo para pensar, apenas agir.
O impacto foi forte, mas eu não vacilei. Segurei-a com firmeza, protegendo-a contra meu peito enquanto absorvia o choque.
Ela estava inconsciente, o corpo coberto de feridas e sangue. Seus cabelos estavam emaranhados, mas havia algo em seu rosto... algo que me fez parar.
— Quem é ela? — Caius perguntou, a surpresa evidente em sua voz.
Eu não respondi. Apenas continuei olhando para ela. Meu peito subia e descia enquanto minha mente processava o que havia acabado de acontecer.
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Atualizado até capítulo 43
Comments
Solene Costa
kkkk Os betas vai fala disso eu zuaria horrores kkkk
2025-03-30
0
J.Lo
tô achando que ela vai cair do céu agora mesmo kkkkkk
2025-03-22
0
graciana bispo
pronto caiu do céu kkkkkk
2025-03-02
1