O cheiro de terra úmida e ervas amargas foi a primeira coisa que senti antes mesmo de abrir os olhos. Minha cabeça latejava, e todo o meu corpo parecia pesado, como se eu tivesse corrido por dias sem descanso. Pisquei lentamente, tentando ajustar minha visão à luz suave que preenchia o quarto.
A primeira coisa que vi foi um teto de madeira escura, com vigas robustas que pareciam tão antigas quanto a própria terra. Por um momento, não sabia onde estava. Não havia sons familiares, nenhum eco de vozes conhecidas. Tudo parecia... estranho.
"Calyssa, você precisa estar alerta," a voz grave e protetora de Akira soou em minha mente, me puxando de volta à realidade. "Não baixe a guarda."
Lembrei-me da queda. Do penhasco. Do impacto iminente que nunca chegou. Quem me salvou? Como ainda estava viva? Meu coração acelerou, e me sentei com um movimento abrupto, o que foi um erro. Minha cabeça girou, e precisei me apoiar com uma das mãos na cama.
— Calma, está tudo bem... — Uma voz feminina suave me fez levantar o olhar.
Uma jovem estava ao meu lado, segurando uma tigela de água e olhando para mim com uma expressão cuidadosa. Seus olhos tinham algo de gentil, mas havia uma cautela ali também.
— Como você está se sentindo? — perguntou ela, aproximando-se devagar, como se temesse me assustar.
Minha boca ficou seca. "Não confie nela," Akira rosnou em minha mente. Eu sabia que ela estava certa. Eu não podia confiar em ninguém aqui.
— Onde eu estou? — perguntei, ignorando a dor leve que latejava em minhas têmporas.
A jovem hesitou por um instante antes de responder. — Está na fortaleza Nightbane. Você foi trazida ferida... mas isso não faz sentido. Seus ferimentos... sumiram. É como se você tivesse se curado em poucas horas. Nunca vi algo assim antes. Bom, ninguém aqui além do nosso Alfa tem esse poder de cura.
Nightbane. Esse nome ecoou na minha mente como um alerta. Eu já tinha ouvido falar dessa matilha. Isolada, perigosa, brutal. Meu coração apertou. Não podia revelar nada sobre mim, eles não eram confiáveis. A única coisa que podia fazer para sobreviver era fingir.
"Você está certa," Akira sussurrou. "Mas cuidado com o que diz. Eles podem ser astutos."
— Qual é o seu nome? — a mulher perguntou, inclinando a cabeça ligeiramente.
Eu hesitei, fingindo confusão. — Eu... Eu não lembro.
Ela franziu o cenho, surpresa. — Não lembra? Do que você se lembra?
Desviei o olhar, tentando parecer perdida. — Nada. Isso é tão estranho... Eu não sei quem eu sou... ou de onde vim.
Ela suspirou, preocupada, e se levantou. — Isso não é bom. Preciso contar isso ao Alfa. Ele vai querer saber.
Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, a porta do quarto se abriu de forma abrupta, e um homem entrou. Meu corpo se enrijeceu imediatamente. Ele era alto, com uma presença avassaladora que preenchia o ambiente como uma tempestade iminente. Seus olhos me perfuraram, e meu instinto gritou perigo.
"É ele," Akira rosnou. "O Alfa."
Ele me olhou como se tentasse desenterrar a verdade dos meus ossos, e meu coração disparou.
— Lyss, como está a forasteira? — Sua voz era grave, um comando mascarado de pergunta.
"Forasteira," pensei, sentindo meu estômago afundar.
A jovem chamada Lyss hesitou antes de responder. — Ela não tem mais ferimentos, Alfa. Curou-se rápido demais, quase... milagrosamente. Mas há um problema.
Ele arqueou uma sobrancelha, o olhar escurecendo. — Qual?
— Ela não lembra quem é. Pode ter perdido a memória.
Seus olhos, que já eram intensos, pareciam ainda mais afiados quando se voltaram para mim. A atmosfera ficou pesada, e meu coração estava tão acelerado que eu podia ouvi-lo nos meus ouvidos.
— Droga, — ele murmurou antes de ordenar, — Lyss, nos deixe a sós.
A jovem hesitou, mas obedeceu, saindo do quarto sem questionar. Agora estávamos sozinhos, e o ar parecia carregado de eletricidade.
"Estamos perdidas," Akira sussurrou, inquieta.
Ele se aproximou devagar, como um predador estudando sua presa. Cada passo seu parecia ressoar como um trovão na minha mente.
— Quem é você de verdade? — perguntou ele, a voz baixa, quase um rosnado.
Eu o encarei, tentando esconder o pânico. — Eu... já disse, não lembro. Minha cabeça está confusa.
Ele se aproximou ainda mais, tão perto que eu podia sentir o calor de sua presença. Sua intensidade era sufocante, quase opressora. Ele inclinou a cabeça, como se quisesse ver dentro de mim.
— Levante-se, — ele ordenou, sua voz carregada de autoridade.
Minha garganta secou, mas obedeci, mesmo com as pernas trêmulas. Ele se aproximou tanto que meu corpo inteiro ficou tenso, e então ele fez algo que me pegou de surpresa: inclinou-se e cheirou meu pescoço.
Minha respiração travou, e Akira ficou em alerta máximo.
— Você não tem cheiro de amnésia, — ele murmurou, os olhos ainda fixos em mim.
Sua mão foi para minha cintura, e ele apertou levemente, como se estivesse testando minha reação. Meu corpo enrijeceu. Ele afastou uma mecha do meu cabelo, examinando minha cabeça, mas não havia mais nenhum ferimento.
— Se estiver mentindo para mim, saiba que vou dar você de comer aos meus cães, — ele disse, frio, quase casual.
Meu coração quase parou.
— Se tem algo a dizer, é melhor dizer agora, porque, de qualquer forma, eu vou descobrir quem você é.
Minha boca quase se abriu, mas fechei novamente. Eu precisava manter minha farsa. Precisava ganhar tempo.
— Eu... não lembro. — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava.
Ele me estudou por mais um momento, com aqueles olhos implacáveis, antes de se afastar bruscamente.
— Vamos descobrir se está dizendo a verdade, — ele rosnou antes de sair do quarto, deixando-me ali, sozinha e tremendo.
"Precisamos fugir daqui, Calyssa," Akira insistiu. "Ele não vai parar até descobrir quem somos."
Eu sabia que ela estava certa. Precisava de um plano. E rápido.
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Atualizado até capítulo 43
Comments
carol caroline
não tô gostando dessa palhaçada de não dizer a verdade.
2025-04-12
0
Karla Barbosa Marinho
descobre logo
2025-04-04
0
Andressa Silva
ele vai descobrir quem é ela
2025-03-03
4