Luz na Sombra.

O ar estava denso com a tensão do que Rafael Mendes estava prestes a fazer. Após a captura do líder dos assassinos, uma parte dele sentia que a justiça, ao menos para os adultos, estava sendo feita. Mas a verdadeira razão pela qual ele estava ali era a criança que havia sobrevivido a uma tragédia inimaginável: Kaio.

Rafael dirigiu-se ao orfanato onde Kaio estava sendo cuidado. O local, embora acolhedor, tinha uma atmosfera de tristeza gravada nas paredes. Quando ele entrou, foi recebido por uma funcionária que lhe indicou a sala onde Kaio estava. Rafael sentiu o coração apertar enquanto caminhava pelo corredor. Ele sabia que a criança precisava de apoio, e ele estava determinado a oferecer isso.

Quando Rafael entrou na sala, seus olhos se encontraram com os de Kaio. O menino tinha cerca de sete anos, com cabelos curtos e bagunçados, que refletiam um tom castanho claro. Seus olhos, no entanto, eram o que mais chamava a atenção. Eles eram de um azul profundo, mas naquele momento, estavam opacos e cheios de tristeza. Kaio estava sentado em um canto, os ombros curvados, e não havia mais o brilho inocente que uma vez iluminou seu olhar.

“Oi, Kaio,” Rafael disse suavemente, tentando transmitir conforto. “Eu sou o delegado Rafael. Estou aqui para você.”

O menino não respondeu imediatamente, apenas olhou para baixo, como se estivesse lutando contra a dor que o consumia. Rafael se aproximou, agachando-se para ficar ao nível dos olhos de Kaio. “Eu vim para te ajudar. Você não está sozinho. A justiça será feita por você e por sua família.”

Kaio ergueu os olhos lentamente, e Rafael pôde ver a confusão e o medo que habitavam ali. “Você promete?” o menino sussurrou, a voz fraca.

“Prometo,” Rafael garantiu, sentindo uma onda de tristeza invadir seu peito. “Mas preciso saber seu nome. Qual é o seu nome?”

“Kaio,” o menino respondeu, os lábios tremendo. “Kaio… eu só… eu só queria que eles voltassem.”

Rafael sentiu o coração apertar. “Eu também, Kaio. Mas eu vou fazer o meu melhor para garantir que pessoas como aquelas não machuquem mais ninguém. Você tem que acreditar em mim.”

A criança assentiu lentamente, mas Rafael percebeu que havia algo mais profundo ali. A dor e a perda eram visíveis, e ele sabia que o caminho para a recuperação seria longo. Mas havia algo mais que o preocupava; a expressão de Kaio estava distante, como se ele estivesse lutando com seus próprios demônios.

“Kaio, você está bem?” Rafael perguntou, a preocupação transparecendo em sua voz. “Há algo que você queira me contar?”

O menino hesitou, olhando para o chão. “Eu… eu vi um passarinho… ele caiu… e eu… eu tentei ajudar, mas… ele… ele já estava morto.” As palavras saíram de sua boca como um sussurro, e Rafael percebeu que havia mais naquela história.

“E o que você fez então?” Rafael incentivou, tentando guiá-lo.

“Eu peguei uma faca… e eu… não sei… eu só queria ver o que havia dentro,” Kaio confessou, a voz tremendo. “Mas eu não queria machucá-lo. Eu só queria entender.”

Rafael sentiu uma onda de tristeza ao ouvir isso. Ele sabia que a mente de uma criança poderia ser um lugar complicado após uma tragédia tão horrenda. “Kaio, você não precisa se sentir culpado. É normal querer entender o que aconteceu. Mas você precisa saber que a violência não é a resposta.”

“Eles me disseram que eu precisava ver um psicólogo,” Kaio disse, a voz baixa. “Mas eu não quero. Eu só quero que tudo volte a ser como antes.”

Rafael se lembrou das cicatrizes que a vida deixava nas almas inocentes. “Kaio, às vezes, falar com alguém pode ajudar. Você é forte, e eu quero que você saiba que há pessoas aqui que se preocupam com você. Você não está sozinho.”

Os olhos de Kaio se encheram de lágrimas, e Rafael viu a vulnerabilidade da criança. Ele queria fazer mais. Ele queria proteger Kaio de todo o mal que o cercava.

“Kaio, eu gostaria de fazer algo por você. Posso ajudar de alguma forma. O que você gostaria que eu fizesse?” Rafael perguntou, sentindo a necessidade de contribuir para a cura do menino.

“Eu só quero… que eles estejam seguros,” Kaio respondeu, a voz entrecortada. “E que ninguém mais sofra.”

Rafael sentiu a dor crescer dentro dele. Ele sabia que estava lutando contra um sistema falho, mas a determinação em seu coração se solidificou. “Kaio, eu prometo que farei tudo o que estiver ao meu alcance para garantir que isso aconteça. Você tem minha palavra.”

Depois de passar algum tempo com Kaio, Rafael decidiu que ele precisava de mais do que apenas um apoio emocional. A ideia de adotar Kaio começou a tomar forma em sua mente. Ele queria dar a essa criança uma chance de recomeçar, de sair das sombras do passado e encontrar a luz novamente. Mas ele sabia que precisava discutir isso com a diretora do orfanato.

Rafael se levantou e pediu para falar com a diretora. Depois de alguns minutos, ela se juntou a ele em uma sala ao lado. “Delegado Mendes, o que posso fazer por você?” ela perguntou, a expressão preocupada.

“Eu quero falar sobre Kaio,” Rafael começou, a determinação em sua voz. “Ele está passando por um momento difícil e precisa de apoio. Estou pensando em ajudá-lo, talvez até adotá-lo, se isso for possível.”

A diretora olhou para ele, surpresa. “Isso é uma decisão importante, delegado. Kaio é uma criança que passou por uma tragédia imensa. Ele precisa de um ambiente seguro e estável. Você realmente está disposto a assumir essa responsabilidade?”

“Sim,” Rafael respondeu, a certeza em sua voz. “Eu não posso mudar o que aconteceu, mas quero dar a ele uma chance. Ele merece ser feliz novamente, e eu quero fazer parte disso.”

A diretora assentiu, considerando suas palavras. “Entendo sua intenção, mas você também deve estar ciente de que a recuperação de Kaio pode ser um processo longo. Ele precisará de apoio psicológico e de um ambiente que promova a cura.”

“Estou preparado para isso,” Rafael disse, a determinação em seu olhar. “Quero ser a pessoa que ele precisa. E se isso significar passar por terapia, eu estarei ao lado dele.”

A diretora sorriu, um brilho de esperança nos olhos. “Se você estiver realmente comprometido, posso ajudá-lo a iniciar o processo. Vamos trabalhar juntos para garantir que Kaio tenha o apoio necessário.”

Rafael sentiu um peso sendo retirado de seus ombros. Ele estava determinado a dar a Kaio uma nova chance. Quando voltou para a sala onde Kaio estava, o menino o olhou com curiosidade.

“Kaio,” Rafael começou, a emoção transparecendo em sua voz. “Eu falei com a diretora. Estou aqui para ajudar você. Gostaria de ser a pessoa que cuida de você, se você quiser.”

Os olhos de Kaio se iluminaram, mas a tristeza ainda estava presente. “Você vai ficar comigo?” ele perguntou, a vulnerabilidade visível em seu olhar.

“Sim, eu vou ficar com você,” Rafael prometeu, a sinceridade em sua voz. “Eu quero que você seja feliz novamente. E vou fazer o que for necessário para ajudar você a encontrar esse caminho.”

Kaio sorriu timidamente, e Rafael sentiu um calor crescer dentro dele. Havia uma nova esperança no ar, e ele sabia que, ao cuidar de Kaio, também estava se curando.

Enquanto a noite caía sobre São Vitor, Rafael Mendes percebeu que, apesar das sombras que o cercavam, havia uma luz que começava a brilhar. Ele estava determinado a lutar por justiça, não apenas como delegado, mas como alguém que estava disposto a fazer a diferença na vida de uma criança.

A jornada pela recuperação de Kaio estava apenas começando, mas Rafael estava pronto para enfrentar qualquer desafio. Ele havia encontrado um novo propósito, e a esperança de um futuro melhor iluminava o caminho à sua frente.

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Comments

gostei muito,quero mais🥹

2024-12-08

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