A luz do amanhecer filtrava-se através das janelas quebradas do armazém, lançando sombras longas sobre o chão manchado de sangue. Rafael Mendes respirava pesadamente, ainda sentindo a adrenalina correr em suas veias. Ele havia conseguido capturar Carlos "o Sorriso", mas a vitória tinha um sabor amargo. A dor no ombro pulsava a cada movimento, um lembrete constante do preço que havia pago naquela noite.
Os sons das sirenes se aproximando trouxeram uma nova onda de realidade. Rafael olhou para Carlos, que agora estava cercado por homens da polícia, seu orgulho despedaçado. O mafioso estava na posição de derrotado, mas Rafael sabia que essa vitória era apenas uma parte de um jogo muito maior.
“Levem-no,” ele ordenou aos oficiais que chegavam, a voz firme apesar da dor. “E certifiquem-se de que ele não tenha acesso a ninguém. Ele precisa estar sob custódia máxima.”
Enquanto os agentes algemavam Carlos e o levavam para fora, Rafael se sentou em uma das cadeiras quebradas, tentando recuperar o fôlego. O que havia começado como uma missão de justiça agora se transformara em um pesadelo de violência e traição. Ele estava ciente de que essa não era a última vez que enfrentaria Carlos. O mafioso era um sobrevivente, e Rafael tinha certeza de que ele não ficaria quieto por muito tempo.
“Você está bem, Rafael?” Lucas, seu parceiro, apareceu ao seu lado, a preocupação estampada em seu rosto. Ele olhou para o ferimento no ombro do delegado, que estava começando a sangrar novamente. “Você precisa de atendimento médico.”
“Estou bem. Precisamos nos certificar de que Carlos seja realmente preso e que não tenha como escapar,” Rafael respondeu, forçando-se a se levantar. A dor era insuportável, mas ele não poderia mostrar fraqueza agora. Não depois de tudo o que havia enfrentado.
“Você não está bem, e isso é evidente,” Lucas insistiu, o olhar fixo no ferimento. “A prioridade agora deve ser sua saúde. Deixe que os outros cuidem de Carlos.”
Rafael hesitou, mas a determinação em seu olhar era inabalável. “Se eu não agir agora, Carlos pode ter uma chance de se livrar novamente. Ele tem contatos, amigos. Não podemos dar a ele essa oportunidade.”
Lucas suspirou, sabendo que discutir com Rafael era inútil quando ele estava assim tão focado. “Então vamos fazer isso rápido. Mas assim que terminarmos, você vai ao hospital.”
Enquanto Rafael se movia pelo armazém, ele começou a compilar as informações que tinha coletado. O que havia encontrado na pasta de Carlos: nomes, números de contas, e uma lista de contatos que ligava o mafioso a figuras poderosas da cidade. Ele se perguntou quantas outras vidas já haviam sido destruídas por essas conexões.
“Rafael!” A voz de Sombra ecoou, fazendo-o parar. Ela entrou no armazém, seus olhos cheios de uma mistura de alívio e preocupação. “Eu soube do que aconteceu. Você está ferido?”
“É apenas um arranhão,” ele disse, tentando desviar a atenção. “O importante é que pegamos Carlos. Precisamos garantir que ele não saia dessa.”
Sombra se aproximou, analisando o estado dele. “Você não parece bem. A luta foi intensa, e você sabe que isso não é apenas físico. O que você está sentindo? O que aconteceu lá dentro?”
“Eu vi o que Carlos fez com o homem que se opôs a ele. A violência… é tudo o que ele conhece,” Rafael respondeu, sua voz tingida de frustração. “E agora, eu me pergunto se me tornei o que tanto desprezava.”
“Você não é Carlos. Você está lutando por algo maior. A justiça, a verdade. Mas precisa cuidar de si mesmo, ou a luta será em vão,” Sombra disse, a preocupação visível em seu olhar. “Se você cair, quem vai lutar por todos nós?”
Rafael sentiu um peso se formando em seu peito. Ele estava lutando contra seus próprios demônios, e a linha entre a justiça e a vingança estava se tornando cada vez mais turva. “Eu sei, mas não posso parar agora. Não quando estou tão perto.”
A sirene dos carros de polícia se tornou um som constante ao fundo, e Rafael lembrou-se da urgência da situação. “Precisamos levar essas informações para a central. Isso pode ser a chave para derrubar toda a rede de Carlos.”
Enquanto se dirigiam para o carro, Rafael sentiu uma onda de dor irradiar do ombro. Ele estava perdendo sangue, e isso o deixava mais fraco a cada minuto. Mas a determinação o impelia a seguir em frente. A cidade precisava de um novo começo, e ele era a única pessoa que poderia proporcionar isso.
No caminho para a delegacia, o silêncio entre eles era pesado. Sombra olhava pela janela, perdida em pensamentos, enquanto Rafael tentava se concentrar no que estava por vir. Ele sabia que, assim que Carlos fosse interrogado, poderia começar a desmantelar a rede que o mantinha no poder. Mas também sabia que a violência que presenciara naquela noite deixara marcas indeléveis em sua alma.
Ao chegarem à delegacia, a equipe estava em alvoroço. O ambiente costumava ser um lugar de justiça, mas agora parecia um campo de batalha. Os detetives se moviam rapidamente, discutindo estratégias, enquanto outros examinavam documentos que Rafael sabia que seriam cruciais.
“Rafael!” Um dos oficiais o chamou, seu rosto pálido. “Carlos está sendo interrogado, mas ele não está colaborando. Ele está mais confiante do que nunca.”
“Precisamos pressioná-lo. Ele tem que entender que não pode escapar,” Rafael disse, sua voz carregada de urgência. “Onde está Lucas?”
“Ele está com a equipe na sala de interrogatório. Estão preparando as perguntas,” o oficial respondeu, seus olhos fixos no ferimento de Rafael.
“Eu vou até lá,” Rafael decidiu, ignorando a dor que pulsava em seu ombro. Ele se dirigiu à sala de interrogatório, sua determinação renovada.
Ao entrar, a atmosfera era tensa. Lucas estava sentado à mesa, franzindo a testa enquanto Carlos estava encostado na cadeira, um sorriso arrogante nos lábios. “Olha quem decidiu se juntar à festa,” Carlos disse, seu tom desdenhoso. “O herói ferido.”
Rafael se aproximou, ignorando a provocação. “Você sabe que não vai escapar dessa, Carlos. Temos suas conexões, suas operações. Seu tempo acabou.”
Carlos riu, um som cruel. “Você realmente acha que pode me intimidar? Você não é mais do que um delegado ferido e desesperado. Eu sou o rei aqui.”
“Rei?” Rafael respondeu, sua voz baixa e controlada. “Você é um homem com um trono feito de mentiras. E essa mentira vai desmoronar.”
Lucas observou a interação, percebendo que Rafael estava à beira do abismo emocional. Ele se levantou e se aproximou de Rafael, tentando transmitir um pouco de calma. “Precisamos ser estratégicos. Não podemos deixar que Carlos ganhe a vantagem.”
Carlos, percebendo a tensão, começou a se divertir. “Olha só, seus amigos estão preocupados com a sua saúde. Você realmente acha que eles vão te ajudar a sair dessa? Você está sozinho, delegado.”
Rafael respirou fundo, tentando se controlar. “Você não entende o que está prestes a acontecer. A cidade não vai mais aceitar seu reinado de terror. Você vai pagar por tudo o que fez.”
Carlos balançou a cabeça, o sorriso se desvanecendo. “Você é ingênuo. A cidade está cheia de pessoas como eu. E eu sempre vou encontrar uma maneira de voltar.”
“Não por muito tempo,” Rafael retrucou, sua voz agora mais firme. “Eu tenho provas, e estou disposto a usá-las. Se você não colaborar, vai se ver diante de um tribunal. E lá, não haverá como escapar.”
Carlos olhou para Rafael, os olhos cheios de desdém. “Você acha que pode me intimidar com ameaças? Eu não tenho medo de você ou da sua justiça. A única coisa que você vai conseguir é se machucar ainda mais.”
A tensão na sala aumentava, e Rafael sentiu a pressão subindo. A raiva e a dor se misturavam, e ele sabia que precisava agir. “Você pode se recusar a falar, mas a sua queda já começou.”
Ele se virou para Lucas, que o observava com preocupação. “Prepare-se para os próximos passos. Precisamos de um plano para garantir que Carlos não tenha como escapar.”
Mas antes que pudessem continuar, um estrondo ressoou do lado de fora. O barulho de tiros ecoou pelo corredor, e a equipe começou a se mover rapidamente. “O que foi isso?” Lucas gritou, enquanto todos se levantavam em um frenesi.
Rafael sentiu um frio na espinha. A última coisa que precisava era de mais violência. “Verifique o que está acontecendo!” ele ordenou, tentando manter o foco.
Dois oficiais correram para fora da sala, e Rafael e Lucas se seguiram, prontos para enfrentar o que quer que estivesse acontecendo. Ao saírem, a cena que encontraram era um caos total.
Homens armados, desconhecidos, estavam em confronto com os oficiais. As balas zuniam pelo ar, e a delegacia, que sempre foi um símbolo de segurança, havia se transformado em um campo de batalha. Rafael se sentiu paralisado por um momento, mas a determinação rapidamente tomou conta. Ele não poderia deixar que Carlos escapasse, não agora.
“Precisamos proteger Carlos!” Rafael gritou, o coração acelerado. “Se ele escapar, todo o nosso trabalho terá sido em vão!”
Lucas assentiu, e os dois correram em direção à sala de interrogatório, mas o caminho estava bloqueado. Um dos homens armados se virou, a arma apontada diretamente para eles. Rafael não hesitou. Com um movimento rápido, ele se jogou para o lado enquanto Lucas sacava sua arma.
Os tiros ecoaram, e Rafael viu Lucas disparar contra o atacante. O homem caiu, mas havia mais deles, e a situação estava se tornando cada vez mais crítica.
“Rafael, para a sala!” Lucas gritou, e os dois correram, encontrando abrigo atrás de uma mesa. O som da violência era ensurdecedor, e Rafael sentiu o medo se misturar à adrenalina.
“Carlos precisa ser protegido!” Rafael gritou, tentando se concentrar. “Se ele sair daqui, será uma catástrofe.”
“Eu vou atrás dele,” Lucas disse, decidindo. “Fique aqui e cubra-me.”
Rafael estava prestes a protestar, mas Lucas já tinha desaparecido na confusão. Ele olhou ao redor, a cena se desenrolando em uma cacofonia de gritos e disparos. O que deveria ser um dia de justiça agora se tornava uma luta pela sobrevivência.
Ele se levantou, determinado a não deixar que essa oportunidade escorregasse por suas mãos. Ele avançou, tentando encontrar uma maneira de se mover através do caos e proteger Carlos. Mas a violência era desenfreada, e cada movimento que fazia parecia ser um passo mais próximo do perigo.
Ele encontrou um grupo de oficiais tentando controlar a situação, mas os invasores estavam em número superior. Rafael se uniu a eles, disparando sua arma e tentando criar uma brecha para avançar.
Enquanto a luta continuava, Rafael se sentiu tomado pela intensidade do momento. Ele estava no centro de uma batalha que não escolhera, mas que agora se tornara inevitável. A adrenalina o impulsionava, e cada tiro disparado o lembrava do que estava em jogo.
Finalmente, ele conseguiu chegar à sala de interrogatório novamente. Carlos estava lá, cercado por oficiais, mas a expressão no rosto do mafioso era de desprezo. “Você realmente acha que pode me manter aqui? Isso é apenas o começo.”
“Cale-se!” um dos oficiais gritou, mas Carlos apenas riu.
Rafael sentiu a frustração crescer. “Você não vai escapar, Carlos. Esta é sua última chance de se render.”
Mas antes que pudesse continuar, a porta se abriu com força, e Lucas entrou, ofegante. “Rafael! A situação está piorando. Precisamos sair daqui!”
“Não posso deixar Carlos escapar!” Rafael insistiu, sentindo a pressão aumentar.
“Não se preocupe com ele. O que importa agora é a sua segurança. Se você não sair, não haverá mais justiça a ser feita,” Lucas disse, puxando Rafael para trás.
Justo quando Rafael estava prestes a ceder, um estrondo violento ecoou pelo corredor. A porta da delegacia foi arrombada, e a entrada estava cheia de homens armados, mais do que podiam contar. O medo tomou conta da sala, e os oficiais começaram a recuar, a situação se tornando desesperadora.
“É hora de ir!” Lucas gritou, puxando Rafael para fora da sala. “Precisamos encontrar uma saída!”
Eles correram pelo corredor, passando por colegas que estavam lutando para conter o ataque. O caos era total, e a delegacia, que sempre foi um símbolo de segurança, agora estava em ruínas.
Rafael olhou para trás, vendo Carlos sendo puxado por um dos invasores. O mafioso estava sorrindo, um sorriso que dizia tudo. Ele havia orquestrado tudo isso, e a luta que Rafael pensou que estaria vencendo agora se tornava uma luta pela sobrevivência.
“Rafael!” Lucas chamou, puxando-o para a saída. Eles precisavam sair dali antes que fosse tarde demais.
A cena ao ar livre era caótica. A polícia estava em confronto com os atacantes, mas Rafael sabia que não havia mais tempo a perder. Ele e Lucas correram para o estacionamento, onde seus colegas tentavam organizar uma defesa.
“Precisamos de reforços!” Rafael gritou, mas a situação estava fora de controle. A batalha pela cidade estava apenas começando.
Enquanto as balas zuniam ao redor deles, Rafael sentiu a determinação crescer. Ele havia enfrentado a violência antes, mas agora estava lutando por algo muito maior. Ele estava lutando por todos que já haviam sofrido nas mãos de Carlos.
No calor do momento, Rafael percebeu que a linha entre a justiça e a vingança estava se tornando cada vez mais tênue. Ele precisava manter o foco, mas a dor e o caos ao seu redor estavam testando seus limites.
“Vamos, Rafael!” Lucas gritou, puxando-o para um carro. “Precisamos de um plano!”
Rafael assentiu, respirando fundo enquanto se preparava para o que estava por vir. Ele sabia que ainda havia uma batalha a ser vencida, e estava determinado a lutar até o fim. A cidade de São Vitor precisava de um novo começo, e ele não iria desistir.
A luta pela justiça estava apenas começando, e Rafael Mendes estava preparado para enfrentar os demônios que o aguardavam nas sombras. A verdadeira batalha estava diante dele, e ele estava determinado a não deixar que a escuridão vencesse.
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Atualizado até capítulo 20
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