Capítulo 18: O Chamado do Fragmento
A noite havia caído rapidamente, cobrindo o campo com uma escuridão densa e opressiva. Dante, agora conhecido como o Receptáculo do Abismo, caminhava em direção à cratera onde o fragmento que mudaria o destino do mundo havia se alojado. A terra ainda estava quente, como se o impacto do meteoro tivesse deixado uma cicatriz ardente, e o som do vento cortando a paisagem era o único que quebrava o silêncio.
Os fragmentos de cristais negros, resquícios de uma era esquecida, estavam espalhados pela área. Muitos caçadores haviam vindo atrás deles, mas poucos retornaram. Os que retornaram, falaram de corações corrompidos e mentes dilaceradas. Dante não sabia se esse destino o aguardava, mas não podia parar. Não agora, não depois de tudo o que havia aprendido.
— Dante.
A voz suave, mas firme, interrompeu seus pensamentos. Ele se virou e encontrou Lyra, a maga cínica e desconfiada, mas também a única pessoa em quem ele confiava agora. Seus olhos estavam cansados, mas havia algo mais neles, algo que ele não conseguia identificar.
— Você está atrasada. – Dante respondeu, não escondendo o tom sarcástico que já estava se tornando habitual.
Lyra não sorriu, mas sua expressão suavizou, como se o comentário tivesse sido apenas uma forma de manter a tensão. Ela olhou para o fragmento flutuando acima da cratera, sua luz esverdeada refletindo em seu rosto.
— Eu estava observando o campo. – Ela falou, dando alguns passos até ele. – A presença que sentimos... Não é só você. Não é só o fragmento. Há algo mais. Algo mais sombrio.
Dante não precisou perguntar para saber a que ela se referia. Ele sentia também. Uma pressão no ar, como se o próprio céu estivesse sufocando a terra, tentando impedir que o destino se desenrolasse. Ele olhou para o fragmento mais uma vez. Era pequeno, mas a energia que exalava dele parecia infinita.
— E o que faremos? – Ele perguntou, sabendo que ela já tinha uma resposta.
— O que temos que fazer. – Lyra respondeu com uma confiança fria, mas seus olhos traíam a incerteza que ela tentava esconder. – Você está pronto, Dante?
Ele a encarou, e por um momento, o vento parou, como se o próprio mundo estivesse aguardando sua resposta.
— Eu não tenho escolha. – Ele murmurou, a verdade simples que sempre o acompanhara. – Nunca tive.
Lyra não disse mais nada, mas sua presença ao lado dele significava mais do que qualquer palavra poderia expressar. Juntos, eles caminharam em direção ao centro da cratera, onde o fragmento flutuava, aguardando o toque de um novo portador.
Quando chegaram ao centro, Dante estendeu a mão, sentindo a energia pulsante do fragmento, uma força que fazia sua alma tremer. Ele sabia que não poderia mais voltar atrás. Este era o ponto sem retorno, e a escolha que ele tomasse agora definiria o futuro. A única questão era: ele controlaria a escuridão ou se tornaria parte dela?
— Dante. – Lyra sussurrou, seus olhos fixos no fragmento. – Sinta o que ele oferece, mas não permita que ele tome o controle.
Dante assentiu lentamente, seus dedos tocando a superfície do fragmento. No instante em que entrou em contato com ele, uma onda de poder o atravessou, esmagando seu corpo e sua mente em um turbilhão de imagens e sons. Ele viu o mundo antes da queda do cometa, viu a civilização florescendo sob os deuses, e então, a escuridão que os consumiu. Ele sentiu os gritos das almas perdidas, o grito de centenas de vidas, de milhares de vidas que haviam sido destruídas pela energia que agora corria dentro dele.
Sua visão se distorceu, e por um momento, ele teve a sensação de estar em dois lugares ao mesmo tempo. Como se o próprio abismo estivesse dentro de sua mente, tentando devorá-lo. O poder do fragmento ameaçava engolir tudo o que ele era, mas Dante lutou. Lutou contra a voz que sussurrava em sua mente, contra o desejo de abandonar seu corpo e se entregar à escuridão. Ele respirou fundo e, com uma força de vontade que ele não sabia que possuía, ele se agarrou à sua própria essência e se recusou a ceder.
A dor foi imensa. Cada centímetro de sua pele parecia que estava sendo rasgado. Ele gritou, mas continuou a segurar o fragmento, sentindo o poder finalmente se estabilizar dentro dele. O fragmento começou a brilhar intensamente, liberando uma onda de energia que quase derrubou Lyra.
— Dante! – Lyra gritou, correndo para segurá-lo, mas ele a afastou com um movimento brusco.
A dor começou a desaparecer à medida que a escuridão se acalmava. Dante sentiu o poder do fragmento agora em total controle de seu corpo, mas ele também sentiu... algo mais. Algo que não era apenas a escuridão, mas uma presença que o observava, aguardando.
— Você... não... está... sozinho. – Ele ouviu uma voz baixa, sibilante, dentro de sua cabeça. Uma voz familiar, uma voz que ele não reconhecia.
— O que é isso? – Dante murmurou, sua voz rouca.
— O Fragmento tem um espírito, Dante. – Lyra disse, seus olhos agora fixos nele com uma mistura de medo e fascinação. – Um espírito que pode tanto te salvar quanto destruir.
Dante olhou para ela, confuso, mas antes que pudesse questionar mais, o campo ao redor deles começou a tremer. O fragmento na sua mão brilhou ainda mais intensamente, e de repente, uma enorme rachadura se abriu no céu.
— O que está acontecendo? – Lyra gritou, tentando se manter em pé.
Dante sentiu uma presença, algo que surgia de dentro da rachadura no céu. Algo enorme, imenso, uma sombra que se estendia por todo o horizonte. A presença que Dante sentira antes, agora tomava forma. E não estava mais apenas na sua mente.
— Nós... despertamos. – A voz dentro de sua cabeça sibilou novamente.
A terra estremeceu com um rugido ensurdecedor, e de dentro da rachadura, uma colossal sombra começou a emergir. A escuridão se materializou, transformando o campo em uma paisagem de puro caos. A luta de Dante para controlar o fragmento havia liberado algo muito maior do que ele poderia ter imaginado.
— Dante! O que você fez? – Lyra gritou, agora desesperada, mas Dante estava em transe. O poder que ele agora controlava era imenso demais, e os limites de sua própria sanidade estavam começando a se desfazer.
O abismo estava agora diante deles, e Dante sentiu o peso do mundo em seus ombros. Ele havia despertado algo que não poderia ser detido.
— Estamos... todos perdidos. – Ele murmurou para si mesmo.
A sombra começou a descer sobre eles, e a última esperança que Dante tinha se dissipou. A batalha estava apenas começando. E ele sabia que, de alguma forma, ele seria o centro dessa guerra. A única pergunta que restava era: ele conseguiria manter sua humanidade enquanto lutava contra o próprio abismo que havia liberado?
Continua...
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Atualizado até capítulo 30
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