Capítulo 3: A Corrupção do Abismo
Dante caminhava pelos campos devastados, seus passos ecoando na vastidão da terra que parecia nunca ter visto vida verdadeira. O céu, cinza e carregado, parecia refletir o vazio dentro de si. Ao seu redor, os ventos sibilavam, trazendo consigo o cheiro de algo putrefato, como se a própria terra estivesse morrendo. Era uma sensação que ele conhecia bem.
Ele não se importava. Não mais.
A missão que havia aceitado na noite anterior o trouxera até aqui, até um vilarejo isolado onde a corrupção das Sombras Eternas tomava conta das almas dos inocentes. Uma terra condenada, onde a luta pela sobrevivência se transformara em um ciclo eterno de desespero. Dante não sabia o que o aguardava, mas isso não importava.
Apenas a batalha, o poder, e a vingança.
Ele olhou para a lâmina que carregava. Sua espada não era mais uma simples lâmina forjada em aço. Ela agora estava imbuída de uma energia sombria que dançava ao longo da lâmina com um brilho púrpura. Era o poder que ele tivera a sorte – ou a maldição – de obter quando se tornara um Receptáculo do Abismo.
— Será que o poder da escuridão será o suficiente para me livrar de todos os fantasmas que me perseguem? — pensou Dante, o peso de sua própria dúvida preenchendo o espaço vazio em sua mente.
Seus olhos se estreitaram quando avistou, ao longe, o vilarejo. Ele sabia que a corrupção das Sombras Eternas estava lá. O que ele não sabia era a intensidade do mal que aguardava dentro das suas fronteiras. Ou o que ele enfrentaria ao cruzar os portões.
Ao se aproximar, o ar tornou-se mais denso, como se a própria atmosfera estivesse sendo comprimida pela presença de algo maligno. E então, ele viu.
O vilarejo parecia intacto à distância, mas algo estava errado. Havia uma quietude que, mais do que tranquila, era mortal. Quando Dante passou pelos campos que margeavam o vilarejo, o silêncio o envolveu. Não havia sons de animais ou aves. As casas estavam em ruínas, mas mesmo as sombras que se projetavam das ruínas pareciam mais sombrias do que o normal. Como se algo tivesse devorado toda a luz.
— Não há mais luz aqui. — A voz que ressoou em sua mente era a sua própria, mas diferente. Era mais grave, mais ameaçadora.
Ele apertou a espada com mais força, seus dedos se contraindo ao redor da empunhadura. A escuridão ao seu redor parecia reagir ao seu desconforto. Ele se forçou a seguir em frente.
A medida que entrava no vilarejo, a sensação de ser observado aumentava. Algo estava esperando por ele, algo que sabia de sua chegada. A tensão cresceu, e Dante percebeu que não estava sozinho.
— Não posso me dar ao luxo de hesitar... ou de mostrar fraqueza. — Ele sabia que não havia mais tempo a perder.
De repente, uma figura emergiu das sombras. Um homem, ou pelo menos parecia ser humano, mas seus olhos estavam completamente negros, sem íris ou pupilas. Sua pele tinha uma tonalidade acinzentada e uma energia corrupta emanava dele.
— Você chegou. — A voz do homem foi baixa, mas cheia de uma autoridade sobrenatural. Ele deu um passo à frente, e Dante sentiu o peso da presença do homem, como se o próprio espaço ao redor dele estivesse se distorcendo.
— "Quem é você?" — Dante perguntou, sua voz firme, mas com a cautela de quem sabia que nada, neste mundo, deveria ser subestimado.
O homem sorriu, um sorriso que parecia mais uma contorção do rosto do que uma expressão de alegria.
— Eu sou... o Guardião deste lugar. O que resta de quem ousou desafiar a verdadeira essência do Abismo. — A figura fez um gesto abrangente, como se se referisse a toda a corrupção do vilarejo. — Mas eu não sou seu inimigo. Você... é. — Ele apontou para Dante, e a escuridão ao seu redor parecia ganhar vida.
Dante levantou a espada, pronto para atacar, mas hesitou por um momento. Algo naquele homem, ou naquilo que ele representava, fez com que seu instinto gritasse. Ele sentiu a energia sombria, e algo dentro dele também se agitava. A espada nas suas mãos vibrava, respondendo à energia do inimigo. Era o Fragmento Sombrio, chamando-o, pedindo mais poder.
— Você não entende o que está acontecendo, não é mesmo? — A voz do Guardião soou como um sussurro que atravessava o vento. — O Abismo que você carrega... está crescendo em você. Você não pode lutar contra isso. Não mais.
Dante franziu a testa, sentindo o peso daquelas palavras. Ele sabia que o poder que agora possuía não era algo que poderia controlar indefinidamente. Mas isso não o impediria de lutar. Ele não podia se dar ao luxo de duvidar agora.
— "Eu sou mais forte do que você imagina." — Ele rosnou, avançando em direção ao Guardião com velocidade impressionante.
A espada cortou o ar com um grito, mas o Guardião apenas sorriu, erguendo uma mão. A escuridão ao redor dele se condensou em uma barreira sólida, bloqueando o golpe com facilidade. Dante recuou, sua expressão se tornando mais feroz.
— Você carrega o Fragmento, mas ele ainda não é seu mestre. É ele quem vai te consumir, Dante Vale. — O Guardião riu, seu som distorcido pela energia escura.
Dante deu um passo atrás, seu corpo vibrando com a energia do Fragmento. Sentiu seu poder crescente, sua força se expandindo a cada segundo. Mas também sentia a sombra dentro de si, como um veneno silencioso. Não importava o quão forte ele ficasse, aquele poder ainda o consumiria.
— "Eu não sou seu escravo!" — Ele gritou, desferindo outro golpe com ainda mais força, tentando atravessar a barreira.
A espada atravessou a barreira sombria, cortando-a como se fosse papel, e o impacto gerou uma explosão de energia que os fez recuar. Dante, ofegante, sentiu a corrente de poder pulsando dentro dele. Ele não sabia por quanto tempo poderia resistir ao controle do Fragmento. Mas ele não tinha escolha.
O Guardião, agora visivelmente irritado, levantou a mão para o céu. Uma onda de energia sombria surgiu, como uma tempestade, convergindo para ele.
— Se você quer ser o mestre do Abismo, então venha me tomar!
O ar ao redor de Dante se distorceu enquanto ele canalizava toda a sua energia no Fragmento, sentindo seu corpo tremendo de poder. Não sabia o que aconteceria quando o usasse por completo. Mas não havia mais tempo para hesitar.
O impacto foi brutal.
Fim do Capítulo 3
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Atualizado até capítulo 30
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