o Guardião do abismo

Capítulo 16: O Caminho da Corruptela

O vento frio cortava o campo devastado, levantando nuvens de poeira enquanto Dante caminhava com passos pesados. Ele não sentia o frio. O Fragmento que possuía, o Fragmento Sombrio, aquecia sua alma com um calor estranho, como se uma chama ardente estivesse queimando dentro de seu peito. Mas esse calor não era reconfortante. Era um lembrete constante do preço que ele estava pagando por poder. A corrupção que começava a tomar conta de seu corpo.

— Você está começando a se perder, Dante... — disse uma voz suave, mas implacável, vinda do interior de sua mente.

Dante olhou para o céu turvo. Não havia mais estrelas. O que restava eram apenas fragmentos de um mundo que ele mal reconhecia. Ele havia ouvido a voz de sua própria consciência muitas vezes, mas agora ela soava mais distante, mais como uma advertência que ele já não queria ouvir.

— Eu sei o que estou fazendo, Asta — respondeu, sua voz fria e sem emoção.

Asta era a entidade misteriosa que havia se manifestado quando ele tocou o Fragmento Sombrio pela primeira vez. Ela não era uma pessoa, mas algo mais — uma espécie de guia ou consciência que o acompanhava enquanto ele usava o poder sombrio. No começo, ela o advertia sobre o perigo de cair na corrupção. Agora, no entanto, parecia que suas palavras eram meras sugestões, palavras sem peso.

— Não se engane, Dante. O Fragmento está ganhando mais controle sobre você a cada dia. Seu corpo, sua alma... está tudo se transformando. Você não será capaz de resistir por muito mais tempo.

Dante apertou o punho em torno de sua espada. O metal gelado se sentia estranho nas suas mãos, como se ele não fosse mais o mesmo homem que o empunhava. A lâmina estava manchada de energia negra, e quando ele a olhava, parecia que ela sussurrava para ele, chamando-o a seguir um caminho sem retorno.

— Eu não tenho escolha, Asta. Não há nada mais que eu possa fazer. O que quer que esteja acontecendo com este mundo... eu preciso impedir.

Asta se calou, mas Dante sabia que ela o observava. Ele se perguntava o quanto daquilo ainda era ele, o quanto da sua humanidade restava.

À sua frente, uma vila em ruínas surgia no horizonte. A missão que ele tinha aceitado o levaria até ali. Informações sobre um ninho de Sombras Eternas haviam chegado, e ele sabia que não podia deixar a ameaça crescer. Mas não era apenas isso. Ele sentia, em sua pele, que algo mais estava esperando por ele, algo que ele ainda não conseguia entender completamente.

Ao chegar à entrada da vila, os estalos da madeira queimada e os restos das casas desmoronadas indicavam que o lugar havia sido abandonado há semanas. Mas Dante sentia a presença de algo, algo ainda vivo, à espreita.

— Você pode sentir, não é? — Asta interrompeu seus pensamentos. — Não é um ninho comum. Algo mais está aqui.

Dante assentiu, a sensação de perigo pressionando sua mente. Ele se aproximou de uma das casas destruídas e, com um movimento rápido, destruiu a porta enfraquecida com um golpe de sua espada. O interior estava escuro, mas uma estranha luz vermelha dançava nas sombras. Ele seguiu até o centro da casa, onde o chão estava coberto por runas antigas e fracas.

— O que são essas runas? — Asta perguntou, sua voz mais distante do que o habitual.

Dante se agachou, tocando as runas. Instantaneamente, um choque de energia percorreu seu corpo, fazendo com que ele cambaleara para trás. O poder que irradiava delas era frio, inumano, e ele sentiu que algo dentro de si estava cedendo, como se a própria essência de sua alma estivesse sendo puxada para esse poder antigo.

— São runas de selamento — Dante murmurou. — E elas não foram usadas para proteger este lugar... Mas para aprisionar algo.

De repente, uma presença imensa preencheu o ar. Dante se levantou rapidamente, a lâmina brilhando com um tom sombrio. Uma figura encapuzada emergiu das sombras, sua forma alta e magra flutuando quase sem tocar o chão. Seus olhos, de um vermelho intenso, fixaram-se em Dante com uma intensidade que fez sua pele arrepiar.

— Então você finalmente chegou — disse a figura, sua voz ecoando em um tom vazio, como se fosse múltiplas vozes ao mesmo tempo.

— Quem é você? — Dante perguntou, sua espada pronta para atacar.

A figura sorriu, uma expressão vazia, desprovida de qualquer emoção.

— Eu sou o guardião do selo. E você, Dante Vale, é a chave para o fim do mundo.

A sensação de frio aumentou à medida que palavras vazias saíam da boca da figura. Dante sentiu que algo se movimentava dentro dele, como se o Fragmento Sombrio quisesse tomar o controle. Ele resistiu à tentação, mas a luta interna estava ficando cada vez mais difícil.

— O que quer de mim? — Dante disse, tentando manter sua voz firme.

O guardião deu um passo à frente, e as runas ao redor começaram a brilhar com uma luz vermelha intensa.

— Você não entende, não é? O Fragmento Sombrio foi criado para algo maior. Você acha que é o único que carrega o peso de uma maldição? Esse poder que você usa agora... ele não foi feito para destruir, mas para transformar. Quando o cometa caiu, tudo foi planejado. Você é apenas uma peça no jogo de forças muito mais antigas.

Dante estremeceu. As palavras do guardião faziam sentido, mais do que ele gostaria. Ele não havia escolhido o Fragmento Sombrio; o poder o escolheu, e agora ele estava preso. A cada dia que passava, ele sentia a corrupção ganhando mais terreno.

— O que você quer? — Dante repetiu, sua voz agora mais baixa.

— Simples. Você deve liberar a verdadeira essência do Fragmento Sombrio, Dante. Você é o único que pode. Liberando-o, a destruição virá. O mundo será consumido pela escuridão, e nós, finalmente, teremos o que desejamos. Um novo começo.

A luz das runas explodiu em uma onda de energia, empurrando Dante para trás. Ele caiu no chão, a dor consumindo seu corpo, e uma onda de desespero tomou conta dele. Ele sentiu a luta interna crescer, como se o Fragmento Sombrio estivesse chamando-o para se entregar completamente.

Mas ele não podia. Não ainda.

Dante se levantou, a lâmina de sua espada brilhando com uma energia negra imensa. Ele olhou para o guardião, sua visão ficando embaçada pela dor.

— Eu não vou permitir isso. — Sua voz soou mais firme, mais resoluta do que ele se sentia. — Eu vou parar você.

O guardião sorriu, como se tivesse esperado por essa resposta.

— Então, prove-o.

A batalha começava agora, e Dante sabia que, de alguma forma, ela seria mais difícil do que qualquer outra que ele tivesse enfrentado. Porque, ao enfrentar o guardião, ele estava também enfrentando a corrupção que crescia dentro dele, uma luta interna que poderia ser sua maior inimiga.

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