Capítulo 7: O Eco da Escuridão
A noite caiu rapidamente sobre as colinas arrasadas. O vento frio cortava a pele, e o céu estava coberto por nuvens negras, como se o próprio cometa que havia fragmentado o mundo estivesse observando de perto. Dante Vale, agora marcado como Receptáculo do Abismo, estava em silêncio, seus olhos fixos naquela única chama que queimava distante, nas ruínas da antiga fortaleza.
— Então... você finalmente chegou — uma voz suave, mas carregada de poder, ecoou atrás dele.
Dante não se virou imediatamente. O instinto lhe dizia que ele não deveria. A força daquela presença já era suficiente para saber que não era um inimigo qualquer.
— Eu sabia que você viria, Dante Vale — continuou a voz, mais próxima agora. Ele ainda não a conhecia, mas sua energia era palpável. “A energia do Fragmento...”
Finalmente, Dante virou-se lentamente. Na sua frente estava uma mulher encapuzada, com um manto de um tecido negro que parecia absorver a luz ao seu redor. Seus olhos, ocultos pela sombra do capô, brilhavam com uma intensidade que fazia o ar ao redor dele parecer pesar mais.
— Você... — Dante olhou para ela, uma sensação estranha lhe invadindo. Algo nela lhe parecia familiar, mas ele não sabia o que. — Quem é você?
A mulher sorriu de forma enigmática, o que apenas aumentou a inquietação de Dante.
— Eu sou a guardiã das chaves. Aqueles que possuem o poder do Fragmento, como você, estão predestinados a enfrentá-las. Sou a primeira delas, Dante Vale. O primeiro teste.
Dante franziu o cenho. Um "teste"? Era como se as palavras da mulher estivessem codificadas em algum tipo de profecia que ele ainda não entendia.
— O que você quer dizer com "primeiro teste"? Eu não estou aqui para desafios... — Dante sentiu o peso do Fragmento dentro de si, pulsando como um coração sombrio. Sua mente começava a se encher de pensamentos caóticos, mas ele os empurrou para longe. Não poderia se permitir fraquejar.
A mulher deu um passo à frente, a terra abaixo dela se quebrando ligeiramente, como se a própria gravidade a temesse.
— Você não tem escolha. O Fragmento escolheu você. E como seu portador, você deve entender que não se trata de poder apenas. Você está agora em um caminho sem retorno — ela disse, com uma voz calma, mas penetrante. — O que você busca, Dante Vale? Poder, vingança, ou... redenção?
Dante hesitou por um momento. Sua jornada até aquele ponto havia sido marcada por vingança, sim, mas algo estava mudando. Cada novo poder que ele adquiria com a ajuda do sistema fazia seu corpo tremer de uma maneira estranha. Cada vez que usava suas habilidades, sentia uma parte de si mesmo sendo consumida.
— Eu... não sei mais — ele respondeu, sua voz mais baixa, refletindo o conflito interno que ele nem mesmo queria admitir. — Tudo o que sei é que eu preciso destruir a corrupção. Eu preciso... punir os que me traíram. E quem mais estiver no meu caminho.
A mulher observou-o por um instante, como se o estivesse avaliando, antes de dar uma leve risada.
— Vingança... Um caminho tão comum e ao mesmo tempo tão vazio. Você verá. Quando a escuridão tomar seu coração, Dante, o que restará de você? Uma sombra? Um eco? Ou algo mais? — ela disse, virando-se lentamente e estendendo a mão em direção a ele. — Venha. O primeiro teste aguarda.
Dante não respondeu de imediato. Ele sentia a necessidade de lutar, de mostrar a força que havia adquirido, mas algo dentro dele se agitava. A mulher tinha algo em sua presença que o fazia questionar suas próprias motivações. No fundo, ele sabia que a vingança não seria o suficiente.
No entanto, ele também sabia que, por mais que tentasse, não havia mais retorno. O poder do Fragmento havia moldado sua vida de uma forma que ele não conseguia mais reverter.
Ele deu um passo à frente.
— Onde está o teste? — Dante perguntou, sua voz agora mais firme, mas com um tom de cansaço.
A mulher fez um gesto com a mão, e a terra diante deles se partiu, revelando uma caverna escura, cuja entrada era cercada por runas antigas que pareciam brilhar com uma energia inumana. A escuridão ali dentro parecia viva, pulsando como um monstro esperando para devorar.
— O teste... — ela disse suavemente, suas palavras reverberando nas paredes da caverna. — É o que mais tememos. O que você mais teme. O que está oculto dentro de você. Prepare-se, Dante. Porque ao entrar, você não encontrará mais a mesma pessoa.
Dante olhou para a entrada da caverna, o coração batendo mais rápido. Ele sentia que o momento havia chegado, aquele momento que ele sabia que estava se aproximando desde que o Fragmento tinha se apoderado de sua alma.
Mas ele não tinha escolha. Não podia mais recuar. Ele precisava seguir em frente, mesmo que isso significasse enfrentar o que estava mais profundo dentro de si mesmo.
Com um suspiro de resignação, Dante deu um passo para dentro da caverna. O ar parecia denso, como se a própria escuridão estivesse tentando engolí-lo.
Dentro da caverna, ele podia ouvir algo — uma voz baixa, quase imperceptível, que ecoava nas paredes escuras. Era como se sua própria mente estivesse tentando se comunicar com ele, mas de uma maneira distorcida.
— Você... não pode... não pode escapar... — a voz murmurou.
Dante parou, seu corpo tenso. Ele não conseguia identificar de onde vinha a voz, mas sabia que ela estava falando diretamente com ele.
— Você... é o fragmento... e o fragmento é você...
Sua visão se turvou por um momento. Ele sentiu o poder da escuridão tentando dominá-lo, como se a própria caverna estivesse tentando engolir sua alma. O Fragmento dentro dele começou a brilhar com mais intensidade, como se estivesse se alimentando dessa escuridão.
Dante fechou os olhos, respirando fundo. Ele não podia permitir que a sombra tomasse conta. Ele precisava manter o controle.
— Eu... sou mais forte que isso — ele murmurou para si mesmo.
Mas a voz continuava, cada vez mais alta, mais intensa.
— Você é... nada. O que restou de você? Uma sombra do passado... O que você busca? Poder... ou sua própria destruição?
Dante, em um impulso, ergueu sua espada, cortando o ar ao seu redor, tentando afastar a voz, afastar a escuridão. Mas, no fundo, ele sabia que a batalha mais difícil ainda estava por vir. Não seria contra os monstros à sua frente, mas contra aquilo que se escondia dentro de sua própria alma.
E, enquanto ele avançava mais profundamente na caverna, a verdade se tornava mais clara: o maior inimigo de Dante não era o mundo lá fora, mas o abismo dentro dele.
Fim do Capítulo 7.
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Atualizado até capítulo 30
Comments
FERREIRA S.
slk a profundidade do personagem é de outro nível
2024-12-01
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