Capítulo 6: O Despertar das Sombras
Dante olhou fixamente para a superfície quebrada do cristal. O fragmento flutuava diante dele, iluminando as ruínas ao seu redor com um brilho sombrio, quase hipnótico. Cada respiração sua estava pesada, como se o ar tivesse se tornado denso e difícil de atravessar. O Fragmento Sombrio Puro, como ele havia aprendido a chamar, estava com ele há apenas algumas horas, mas já sentia que o poder emanado daquele pequeno objeto estava tomando conta de sua alma. O medo, no entanto, não era o que dominava seus pensamentos. Era a curiosidade — e a urgência.
— Você realmente acha que esse poder vai te salvar, Dante? — a voz de Rhea cortou o silêncio. Ela apareceu atrás dele, uma sombra ágil que se moveu tão silenciosamente quanto o vento. A maga tinha uma expressão preocupada, mas sua postura era firme. Ela não confiava nesse fragmento.
Dante não respondeu de imediato. Seu olhar estava fixo no cristal flutuante. O poder que ele sentia dentro de si era… profundo. Profundo demais.
— Talvez não seja uma questão de salvação — disse ele, por fim, com uma voz quase inaudível. — Mas uma questão de sobrevivência.
Rhea franziu a testa. Ela não gostava daquilo. Ela nunca gostou de qualquer coisa que tocasse as energias sombrias. Mas, olhando para ele, ela sabia que não adiantaria questionar mais. Dante havia tomado sua decisão. Ele sempre tomava.
— Cuidado com o que deseja, Dante — ela alertou, sua voz carregando um tom sombrio. — Esse poder tem um custo. E não é um custo que você está preparado para pagar.
Dante não olhou para ela, mas sentiu seu olhar pesado sobre suas costas. Ele queria responder, mas algo o impedia. Algo dentro de si, algo que não podia ser explicado. Quando o fragmento tocou suas mãos pela primeira vez, ele sentiu uma onda de poder que lhe era desconhecida. Era como se seu corpo estivesse sendo preenchido por uma energia antiga, primordial. E, por mais que fosse aterrador, também era… fascinante.
Ele girou o fragmento em suas mãos, sentindo as vibrações que ele emitia, e murmurou baixinho:
— Eu não tenho escolha.
Foi quando o ar ao redor deles mudou.
Uma força invisível atingiu Dante com uma intensidade tão forte que ele foi lançado para trás, caindo de costas sobre as pedras. O fragmento em suas mãos brilhou intensamente, como uma estrela em expansão.
— Cuidado! — gritou Rhea, correndo para ele. Mas ela estava atrasada.
O solo abaixo deles rachou com um estrondo ensurdecedor, e uma onda de energia sombria começou a emergir da terra. Dante tentou se levantar, mas seus músculos estavam paralisados. Uma pressão esmagadora o fazia imobilizar-se, e a sensação de que algo estava prestes a se libertar foi quase insuportável.
Ele tentou lutar contra a força que o prendia, mas era em vão.
— Não... — ele murmurou, seus olhos se arregalando. — O que é isso?
De repente, o chão à sua frente se rompeu. Uma figura emergiu, imensa e envolta em uma névoa negra. Seu corpo era uma massa de sombras que se entrelaçavam, suas formas indefinidas, mas com olhos brilhando como brasas no centro de um inferno. O monstro rosnou, sua boca se abriu em um sorriso maligno, revelando dentes afiados como lâminas.
— Mais um… — a criatura disse, sua voz rouca e cheia de desprezo. — O Fragmento desperta, e você é o próximo a cair.
Dante tentou se arrastar para trás, mas a força do fragmento ainda o mantinha preso. A criatura avançava lentamente, sua sombra se espalhando pelo campo de batalha.
Rhea, por outro lado, já estava em movimento, suas mãos conjurando feitiços de proteção, mas ela sabia que as magias comuns não afetariam aquela criatura. Era um monstro das profundezas, um ser alimentado pela energia sombria que havia se libertado do abismo.
— Dante! — gritou Rhea, enquanto um círculo de energia se formava ao seu redor. — Você precisa se levantar! Não pode deixá-lo te dominar!
Dante, ainda com a sensação de que seu corpo estava preso por correntes invisíveis, olhou para o monstro. Seus olhos brilharam com um brilho roxo, e uma onda de energia sombria começou a se concentrar ao redor de sua mão. Ele nunca havia sentido um poder como aquele antes. Algo dentro dele queria resistir, mas outra parte desejava se entregar.
Ele olhou para Rhea, e por um momento, sentiu o peso de suas palavras. Não pode deixar isso te dominar. Ela estava certa. Ele não podia deixar que esse poder, que surgia do abismo, tomasse conta de sua vontade.
Com um esforço imenso, Dante esticou o braço para frente, concentrando toda a energia sombria no Fragmento. A criatura à sua frente avançou, mas, antes que ela pudesse atacá-lo, uma explosão de energia o envolveu. A pressão que o prendia desapareceu.
Ele estava livre.
Mas não era mais o mesmo.
Dante se ergueu com uma velocidade sobrenatural, seus olhos agora completamente negros, exceto pelos finos traços de luz roxa que brilham dentro deles. O poder do Fragmento não só havia lhe dado liberdade, mas também o transformara em algo… mais.
A criatura recuou, claramente surpresa com o aumento repentino de poder de Dante. Ele não sabia ao certo o que acontecera, mas uma coisa era clara: ele não estava mais lutando com as mesmas ferramentas de antes. Ele sentia a força do abismo, mas, agora, era ele quem controlava.
Dante avançou, seu corpo movendo-se com uma fluidez e velocidade que Rhea jamais imaginaria que ele fosse capaz de alcançar. Ele levantou a espada, agora imbuída com a energia do Fragmento, e cortou o ar com um golpe preciso. A criatura tentou se esquivar, mas era tarde demais. O golpe atingiu-a com uma força avassaladora, separando sua massa de sombras.
Mas a criatura não morreu.
Com um rugido, ela se regenerou, suas sombras se retorcendo e reformando seu corpo. Dante ficou em silêncio por um momento, observando. Agora que ele estava livre da pressão da energia, ele podia perceber o que estava acontecendo. Ele não estava apenas lutando contra um monstro. Estava lutando contra o próprio abismo dentro de si.
Ele sentiu o poder pulsar dentro de seu corpo, ameaçando consumir tudo. Mas ele tinha que controlar. Ele tinha que manter o controle.
— Eu não sou seu escravo… — murmurou, em um tom de determinação. — Eu sou o mestre disso.
Com um último movimento rápido, ele disparou uma onda de energia negra em direção à criatura. A explosão de poder foi tão intensa que iluminou o céu ao redor deles. A criatura rugiu uma última vez, e, então, se desintegrou, dissolvendo-se em uma névoa sombria.
Rhea olhou para Dante, seus olhos estreitos de preocupação. Ele estava respirando pesadamente, a expressão em seu rosto refletindo a luta interna que ele acabara de travar. Ela sabia que ele havia vencido, mas a um custo.
Ele havia tocado o abismo. E o abismo agora o tocava.
Fim do Capítulo 6
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Atualizado até capítulo 30
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