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Capítulo 9: Fragmentos da Verdade
Dante olhou para o horizonte, os olhos fixos na lua cheia que se erguia sobre as montanhas distantes. A escuridão parecia absorver tudo ao seu redor, como se o mundo ao seu redor fosse apenas uma extensão do abismo que ele agora carregava dentro de si. O Fragmento Sombrio pulsava com uma energia fria em sua mão, como se estivesse se alimentando de sua própria alma. Cada vez mais, ele sentia o peso daquela relíquia em seu coração.
— O que você espera, Dante? — A voz de Lyra veio de trás, interrompendo seus pensamentos. Ele não se virou, mas soubera que ela estava lá. A guerreira sempre o seguia silenciosamente, como se estivesse vigiando cada passo que ele dava. — Ainda não disse nada sobre o que aconteceu com o fragmento. Está começando a me preocupar.
Dante suspirou, apertando o fragmento com mais força, como se estivesse tentando controlá-lo. A energia escura se intensificava em seu corpo, fazendo seu coração bater mais rápido. Ele sabia que o tempo estava se esgotando. Cada missão, cada batalha, estava se tornando mais difícil de suportar. E, no fundo, ele sabia que o Fragmento estava mudando-o.
— Você não entende... não entende o que ele faz comigo. — Dante finalmente falou, sua voz baixa, mas cheia de um peso difícil de ignorar. Ele sentia a corrupção tomando conta dele, mas ao mesmo tempo, uma parte de seu ser ainda lutava para manter o controle. — Ele está me consumindo. Cada vez que uso um poder novo, uma parte de mim se perde. Não sei quanto tempo mais poderei resistir.
Lyra deu um passo à frente, seu olhar duro, mas preocupado. Ela sempre fora uma guerreira imbatível, forte como uma rocha, mas havia algo em Dante que a confundia. Ele não era como os outros caçadores. Sua força não vinha de uma habilidade natural ou de um treinamento imenso. Ele estava mudando por causa de algo além de sua compreensão, algo que ela não conseguia entender completamente.
— E ainda assim, você continua lutando. — Lyra disse, com uma leveza que não correspondia ao peso da situação. Ela cruzou os braços, observando-o com uma expressão que ele não podia decifrar. — Talvez seja porque no fundo, você saiba que não pode parar. Não depois do que viu.
Dante virou-se para ela, o olhar fixo no rosto dela. Seus olhos estavam sombrios, como se refletissem o próprio abismo que ele sentia dentro de si. O que Lyra dizia era verdade. Ele sabia disso. Havia algo mais no Fragmento, algo que o atraía para ele, algo que o impedia de parar.
— Você não entende... — Dante repetiu, agora com mais intensidade. — Eu não sou o herói dessa história. Eu sou apenas uma marionete. O Fragmento me controla tanto quanto eu tento controlá-lo. E cada vez mais, eu me pergunto se essa luta vale a pena.
Lyra não respondeu imediatamente. Ela olhou para o céu noturno, os ventos suaves movendo seu cabelo. Depois, ela se aproximou dele com passos lentos, até ficar ao seu lado. Olhou para a lua também, e então falou:
— Eu entendo mais do que você imagina, Dante. — Ela fez uma pausa, os olhos distantes. — Quando você perdeu sua equipe, quando você foi deixado para trás, eu... Eu também perdi algo. Não fui tão forte quanto você, mas percebi que a dor nos molda. A dor nos leva até onde estamos agora. Você quer saber se vale a pena? A verdadeira questão é: até onde você está disposto a ir para encontrar a verdade sobre si mesmo?
Dante sentiu o peso das palavras dela. Ele queria responder, mas algo dentro dele se partiu. A verdade. O que ele realmente procurava? Poder? Vingança? Ou algo ainda mais profundo, algo que ele não queria admitir nem para si mesmo?
— Você já se perguntou o que aconteceu com os outros Fragmentos? — Lyra perguntou, interrompendo seus pensamentos. — Com aqueles que usaram e caíram? Existem mais fragmentos como o seu, e muitos deles estão espalhados por aí. O que acontece quando todos eles se reunirem?
Dante fechou os olhos, seu coração acelerando mais uma vez. Ele não queria pensar sobre isso. Ele sabia que havia mais fragmentos, fragmentos que ele não podia controlar. E ele tinha o pior deles, o Fragmento Sombrio. Era um poder imenso, mas ao mesmo tempo, um veneno que corroía tudo o que tocava.
— Eu não posso parar agora, Lyra. — Ele falou finalmente, sua voz mais baixa. — Eu sei o que acontece com aqueles que caem. Eu vi. Vi com meus próprios olhos. Mas se eu não continuar, se eu não fizer o que tenho que fazer, tudo o que perdi terá sido em vão.
Lyra não disse nada por um longo tempo. Ela sabia que ele estava falando a verdade, mas ela também sabia que estava se perdendo. Ele estava se distanciando dela, e isso a incomodava mais do que ela queria admitir. Ela não sabia o que Dante estava enfrentando, mas ela sentia que ele estava se afastando de tudo o que importava.
— Então, o que você fará quando não sobrar mais nada de você? — Lyra perguntou, seu tom sério. — Quando o poder do Fragmento for tudo o que restar e você não reconhecer mais a si mesmo? O que vai acontecer quando você estiver no fundo do abismo e não houver mais nada para lutar por?
Dante olhou para ela, o olhar vazio, e por um momento, ele pensou que ela poderia ter razão. Ele estava indo em direção a um caminho sem volta. Mas naquele momento, ele não sabia como parar. Ele não sabia como lutar contra a força que o consumia.
— Eu não sei... — Ele murmurou, mais para si mesmo do que para ela. — Mas não tenho escolha, Lyra. Não tenho escolha a não ser continuar.
Ela olhou para ele, seus olhos refletindo a compreensão que ele não queria ver. Mas antes que pudesse dizer algo, um estrondo profundo sacudiu o chão, interrompendo sua conversa. Uma sombra se levantou da escuridão, uma presença monstruosa que parecia ter saído do próprio abismo.
— Dante, olhe! — Lyra gritou, apontando para o horizonte, onde uma figura gigantesca surgia das sombras.
Dante e Lyra correram em direção à ameaça. O som da batalha se aproximava. Dante sentiu o poder do Fragmento agitar-se dentro dele, mas desta vez, ele não hesitou. Ele sabia o que fazer. Ele estava pronto para a luta, mas uma parte de si ainda questionava: seria isso o que ele realmente queria?
À medida que a sombra se aproximava, Dante sentiu uma determinação renovada. O poder do Fragmento poderia estar consumindo-o, mas enquanto ainda restasse algo de sua humanidade, ele lutaria.
A batalha estava prestes a começar. E Dante, com sua espada em mãos, estava pronto para enfrentar não apenas os monstros à sua frente, mas também os demônios dentro de si.
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Atualizado até capítulo 30
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