Capítulo 8: O Véu do Abismo
Dante sentiu o peso da lâmina contra sua palma, o metal gelado contrastando com o calor que emanava de seu corpo. Cada respiração sua ecoava na vastidão da caverna, um som abafado por um vento frio que cortava a escuridão. A energia do Fragmento Sombrio pulsava em suas veias, como se seu próprio sangue fosse alimentado pela força de um abismo profundo e desconhecido.
— Você está pronto para encarar isso? — A voz de Lysandra surgiu por trás, tensa e cheia de receio.
Dante não virou a cabeça, fixando o olhar na parede de pedra à sua frente, onde a figura se erguia, imponente e ameaçadora. O monstro que surgira das sombras da caverna tinha uma presença física e espiritual que era quase palpável. Seus olhos, dois pontos de luz vermelha, brilhavam na escuridão como faróis, e sua pele estava revestida de uma substância viscosa que refletia a luz do fragmento.
— Nunca estive mais pronto — Dante respondeu, sua voz baixa, mais para si mesmo do que para Lysandra. Ele não sabia mais o que significava estar "pronto" para algo. Desde que o Fragmento Sombrio tomara conta de seu corpo, nada mais parecia simples.
— Cuidado com a corrupção — Lysandra disse, avançando com cautela. — Não podemos deixar que ele tome conta de você também.
Dante acenou com a cabeça, mas as palavras dela já estavam se esvaindo, como se uma parte de sua mente estivesse sendo consumida por algo maior, algo além do controle humano. Ele sentiu o peso da espada se intensificar enquanto se aproximava da criatura. Um poder frio e profundo emanava de cada movimento do monstro.
— Ele não vai me controlar. — Dante sussurrou, sua mão apertando a empunhadura da espada até os ossos doerem. — Não agora.
O monstro rugiu, um som que reverberou nas paredes da caverna, como se as próprias rochas tremessem em resposta à sua presença. Ele avançou com uma velocidade surpreendente, suas garras afiadas brilhando à luz do Fragmento. Dante se preparou. Cada célula de seu corpo estava em alerta, cada músculo tenso, pronto para agir.
Ele ergueu a espada com um movimento rápido, o fio cortando o ar como um raio. Mas o monstro desvia com facilidade, suas garras atingindo a rocha ao lado de Dante, criando uma explosão de fragmentos de pedra que voaram pelo ar.
— Não é possível... — Dante murmurou, os olhos arregalados. O monstro tinha velocidade e força que ele não esperava.
— Cuidado! — Lysandra gritou, apontando para a criatura.
O monstro se virou com uma rapidez surpreendente, seus olhos vermelhos brilhando com um ódio imenso. Ele rosnou, e de repente, uma onda de energia negra se desprendeu de seu corpo, uma onda de corrupção pura que parecia fazer o próprio ar ficar espesso e venenoso.
Dante deu um passo para trás, sentindo uma pressão em seu peito, como se estivesse sendo esmagado por uma força invisível. Ele tentou se concentrar, tentando afastar a sensação de que algo dentro de si estava tentando se soltar, algo escuro e incontrolável.
— Não! — ele gritou para si mesmo, tentando manter o controle. O poder do Fragmento Sombrio dentro dele se agitou, respondendo à ameaça iminente. Ele podia sentir a escuridão ao seu redor, tentando invadir sua mente, tentando engolir sua essência.
Mas então, algo inusitado aconteceu. A energia do Fragmento pareceu se alinhar com a sua própria vontade. Em um momento de clareza, Dante entendeu que, por mais perigoso que fosse, o poder do Fragmento não era algo que ele precisava temer. Era algo que ele poderia dominar.
— Véu do Abismo — ele murmurou.
O ar ao seu redor mudou instantaneamente. O vento parou, e uma escuridão profunda envolveu Dante, como uma capa. Ele sentiu a presença do monstro, mas não o viu mais. Era como se a caverna inteira fosse engolida por um manto de sombra que cobria tudo, exceto ele e o monstro.
A criatura rugiu, mas não pôde ver nada. Dante estava fora de seu campo de visão. A espada brilhou com uma energia negra, e Dante a levantou. Ele sentiu sua mente focada, a corrupção do Fragmento dentro dele agora controlada, usada como uma ferramenta e não como uma ameaça.
Com um movimento rápido, ele disparou na direção do monstro, sua espada cortando o ar com uma precisão mortal. A lâmina encontrou resistência, mas não parou. Ela penetrou a carne do monstro com facilidade, e o corpo do ser sombrio se retorceu em agonia.
O monstro caiu no chão com um estrondo, e a sombra ao redor de Dante começou a se dissipar lentamente. Ele ficou de pé, respirando pesadamente, mas sentindo uma sensação de poder crescente. A energia do Fragmento estava sob seu controle, ao menos por enquanto.
— Você... você fez isso? — Lysandra perguntou, os olhos arregalados de surpresa.
Dante olhou para a espada manchada de sangue e, pela primeira vez desde que ele havia encontrado o Fragmento, sentiu algo parecido com uma sensação de controle. A luta ainda não estava vencida, mas ele sabia que, de alguma forma, estava mais perto de entender o poder que possuía.
— Eu fiz — ele respondeu, a voz mais firme. — Mas isso foi só o começo.
Lysandra se aproximou, cautelosa, observando a mudança em Dante. Ela sabia que ele estava mais forte, mas também mais perigoso. A linha entre herói e monstro era tênue, e ele estava mais perto do abismo do que nunca.
— Precisamos sair daqui — ela disse. — E logo.
Dante olhou para ela, seus olhos agora mais frios, mais calculistas. Ele sabia que, enquanto sua jornada o levasse mais fundo nesse caminho de poder, ele enfrentaria escolhas difíceis. Mas uma coisa era certa: o Fragmento Sombrio, seja como uma bênção ou uma maldição, estava agora entrelaçado em seu destino.
Ele se virou e caminhou para a saída da caverna, o som de seus passos ecoando pela pedra fria. O poder em suas mãos era algo que ele não poderia mais ignorar. E à medida que avançava, uma nova sensação de propósito tomava conta dele. Ele não estava mais apenas fugindo de seu passado — agora, ele estava indo em direção ao futuro que escolheria.
Fim do Capítulo 8.
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Atualizado até capítulo 30
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