Capítulo 2: O Fragmento Sombrio
O vento uivava através da planície desolada, trazendo consigo o cheiro de terra queimada e o eco distante das ruínas que haviam sido uma cidade próspera. Dante Vale se manteve imóvel, observando o céu escuro. O fragmento brilhava acima dele, como uma estrela distante, pulsando em uma frequência que apenas ele parecia perceber. Seu peito apertava, e a sensação de ser observado o fazia querer arrancar sua alma do corpo. Ele sabia que não estava sozinho.
O campo de batalha à sua frente era um cenário de morte e destruição. Os corpos dos monstros caídos, vítimas de sua espada, estavam espalhados pelo chão, com os olhos ainda brilhando de um vermelho doentio, como se o próprio inferno tivesse aberto suas portas para o mundo. O céu acima estava nublado, obscurecido pela presença de algo muito mais ameaçador do que qualquer inimigo físico: o Fragmento Sombrio.
"Você deveria tê-lo destruído quando teve a chance."
A voz era baixa, vinda de um ponto desconhecido. Dante girou rapidamente, a lâmina de sua espada se erguendo automaticamente, pronta para cortar. Mas nada. Apenas o vento e o som do movimento de sua própria respiração quebrando o silêncio.
"Mostre-se!" Dante gritou, sua voz cortando o ar denso.
O silêncio voltou. Mas logo, ele sentiu. Algo estava se movendo nas sombras à sua esquerda. A presença não era humana — era mais antiga, mais cruel. Algo que Dante não tinha nome, mas que sabia o que significava.
"Você já me conhece, Dante," a voz falou novamente, mais próxima desta vez. E, de repente, uma figura surgiu das sombras, como se estivesse sendo formada pelo próprio vazio. Uma mulher de olhos intensos e cabelos negros como a noite. Ela estava envolta por um manto escuro que parecia ser feito de puro éter, distorcendo a realidade ao seu redor.
Dante apertou os dentes, reconhecendo a figura. Ela não era uma desconhecida.
"Você?" Ele disse com desconfiança. "O que você quer agora, Fenix?"
Fenix, a maga exilada, sorriu de forma enigmática. "Eu sou uma sombra de seu passado, Dante. Você deveria ter me deixado para trás." Ela se aproximou, seu olhar implacável e frio. "Mas como sempre, você escolhe os caminhos mais tortuosos."
Dante a observou com desdém. Ele não entendia completamente as intenções dela, mas sabia que ela estava envolvida com as forças que o haviam forçado a carregar o peso de um poder que não queria. Fenix havia sido uma aliada, uma vez — uma aliada no treinamento. Mas as escolhas dela haviam o afastado, e ele nunca mais a vira depois de sua queda. Agora, ela estava de volta.
"Eu não escolhi nada," Dante respondeu, sua voz baixa, mas firme. "Este poder não é algo que eu quisesse. Eu sou apenas um produto das circunstâncias."
Fenix deu uma risada baixa, quase divertida, e se aproximou ainda mais, agora a apenas alguns metros de distância. "Você se engana. Você sempre foi um escolhido, Dante. O Fragmento que você carrega é a chave para o que está por vir. E não importa o quanto você tente se esquivar, você não poderá fugir de seu destino."
Dante sentiu um calafrio. As palavras de Fenix o afetaram, mas ele se manteve firme. Ele havia caído em muitas armadilhas no passado, mas não mais. Ele não permitiria que sua mente fosse manipulada por palavras vazias.
"Você está dizendo que tudo isso é parte de um plano maior?" Dante perguntou, seus olhos se estreitando. "Que eu sou apenas uma peça nesse jogo sujo?"
Fenix observou-o com um olhar que misturava pena e reconhecimento. "Você é mais do que isso. Você é o primeiro de muitos, Dante. O Fragmento Sombrio é apenas o começo. E, mesmo que você tente, não conseguirá evitar o que está por vir."
A sensação de desespero crescia dentro de Dante. Ele sabia que ela estava falando sobre algo maior. Algo que ele não conseguia entender completamente. O Fragmento em sua posse não era apenas um objeto — era um símbolo, uma chave. Mas para o quê?
"Eu não sou seu peão," Dante disse, determinado. "E se você veio até aqui para tentar me manipular novamente, saiba que você está perdendo seu tempo."
Fenix sorriu levemente, mas havia uma sombra de tristeza em seus olhos. "Você não tem escolha, Dante. Nenhum de nós tem. O Fragmento Sombrio é imenso, mais do que sua mente pode compreender neste momento. Mas logo, logo você entenderá."
Ela se virou para a vasta paisagem à frente, e Dante a seguiu com o olhar. Algo se movia nas profundezas da terra, uma presença imensa que ele podia sentir em suas entranhas. O Fragmento começou a brilhar mais intensamente, como se respondesse àquela força oculta.
"Eu o avisei," Fenix disse suavemente, sem olhar para ele. "O Abismo está chamando, e você não pode fugir dele."
Antes que Dante pudesse reagir, Fenix desapareceu nas sombras, como se nunca tivesse estado ali. O vento parou abruptamente, e um silêncio mortal se instaurou. O campo de batalha estava agora mais quieto do que antes, como se até o mundo estivesse esperando algo acontecer.
Dante se aproximou do Fragmento, sua mão estendendo-se automaticamente em direção à pedra flutuante. Ele sabia que não tinha escolha. Era como se o destino o tivesse marcado. O poder do Fragmento se estendia por todo o campo, absorvendo o ambiente, conectando-se com ele. Era quase como uma sensação de fome, algo que ele podia sentir dentro de seu peito.
Ele fechou os olhos por um momento, respirando fundo. Sabia que sua jornada estava apenas começando, e a revelação de Fenix ainda ressoava em sua mente. Não podia mais fugir. O poder do Fragmento Sombrio o chamava, e ele já não tinha certeza de onde esse chamado o levaria.
Com uma última olhada para as sombras ao seu redor, Dante fez sua escolha. Ele tocou o Fragmento.
Instantaneamente, uma onda de energia negra e roxa invadiu seu corpo, e ele sentiu como se fosse arrancado de sua própria pele. Seu coração disparou, e sua visão ficou turva, como se o mundo ao seu redor estivesse sendo distorcido. O Fragmento não o abençoava — ele o consumia, absorvia tudo o que Dante era, tudo o que ele ainda poderia ser.
E, no centro de sua mente, uma voz sussurrou.
"Bem-vindo ao Abismo, Dante Vale."
O som de um risada distante ecoou pela vastidão escura que envolvia seu ser.
Esse é o segundo capítulo, em que Dante começa a perceber o peso de sua conexão com o Fragmento Sombrio, enquanto os segredos ao seu redor começam a se desdobrar lentamente.
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Atualizado até capítulo 30
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