Conto II - Entre Amigos

..."Entre Amigos" - Parte IV...

Clara sentia o peso do cansaço quando Lucas sugeriu que eles continuassem a noite no terraço. A ideia parecia tentadora; a brisa fresca era exatamente o que ela precisava para clarear os pensamentos que os dois haviam embaralhado com tanta facilidade.

— Mais vinho ou uma pausa? — perguntou Rafael, já caminhando com a garrafa na mão.

Ela sorriu, seguindo-o.

— Acho que vou ficar na água por enquanto.

— Amadora — provocou ele, piscando.

Lucas veio logo atrás, segurando duas taças, uma das quais ofereceu a Clara.

— Pelo menos mantenha o estilo — disse ele, entregando o copo com água para ela e segurando o vinho para si.

Clara riu. Lucas estava mais relaxado do que ela jamais tinha visto. Ele parecia finalmente confortável, e a mudança era tão refrescante quanto a brisa noturna.

No terraço, as luzes da cidade se estendiam à frente deles, um mar de brilhos que parecia quase tão caótico quanto os pensamentos de Clara. Rafael sentou-se na borda baixa, de frente para os dois.

— Vamos admitir — disse ele, girando a taça na mão. — Esse é o Natal mais... incomum que já tivemos juntos.

— Com certeza — respondeu Clara, recostando-se na cadeira e tentando não pensar na intensidade que sentira nos últimos minutos.

Lucas olhou para Rafael, um sorriso calmo nos lábios.

— Incomum é uma boa palavra. Mas não sei se é ruim.

Rafael arqueou uma sobrancelha, surpreso.

— Olha só, o Lucas otimista apareceu.

Lucas apenas riu, sem se deixar afetar pela provocação. Ele estava claramente em seu elemento agora, e Clara percebeu como ele podia ser charmoso quando não estava tão tenso.

— Acho que tudo depende de perspectiva — respondeu Lucas, inclinando-se para Clara. — Por exemplo, o que você acha?

Ela mordeu o lábio, percebendo que os dois estavam, mais uma vez, focados nela.

— Eu acho... que precisamos relaxar mais e falar menos sobre sentimentos — disse ela, rindo, tentando quebrar o clima.

Rafael soltou uma gargalhada.

— Concordo plenamente. Clara sempre tentando salvar o momento.

— Talvez porque vocês dois insistem em torná-lo mais complicado do que precisa ser — respondeu ela, levantando-se e indo para a borda do terraço.

A brisa acariciava seus cabelos enquanto ela olhava para o horizonte. Por um momento, ela podia sentir os olhares deles, mas estava determinada a manter o controle.

— Clara. — A voz de Lucas a chamou, mais próxima do que ela esperava.

Quando ela se virou, ele estava ali, a apenas alguns passos, o vinho ainda na mão. Rafael observava de longe, mas desta vez não interrompeu.

— Você sabe que não precisamos complicar nada, certo? — perguntou Lucas, a voz suave.

Ela arqueou a sobrancelha.

— Não? Porque parece que é exatamente isso que está acontecendo.

Lucas deu um passo à frente, encurtando a distância entre eles.

— Só se você permitir.

As palavras pairaram no ar, e Clara sentiu o calor subir pelas bochechas. Ele parecia tão diferente de antes — confiante, direto, mas ainda assim gentil. Era difícil ignorar o efeito que ele estava tendo sobre ela.

Rafael pigarreou, quebrando o momento.

— Tudo bem, Romeo, acho que já chega de discurso por hoje.

Lucas se afastou, rindo, mas não sem antes lançar a Clara um olhar que dizia que a conversa ainda não tinha terminado. Rafael, por outro lado, não perdeu tempo em assumir o lugar dele, aproximando-se com seu sorriso habitual.

— Não deixe ele te convencer de que é o herói perfeito — brincou Rafael, encostando-se à borda ao lado dela. — Eu também tenho meus méritos.

Clara revirou os olhos, rindo.

— Vocês dois são impossíveis.

— Talvez. Mas também somos irresistíveis — respondeu ele, piscando.

A leveza da resposta a fez rir, mas ela sabia que havia algo mais por trás das palavras de Rafael. Apesar do tom brincalhão, ele parecia estar esperando por algo — talvez uma reação, talvez uma decisão.

A noite continuou com os três conversando, rindo e deixando o clima tenso de antes se dissipar. Mas, no fundo, Clara sabia que não poderia fugir para sempre das escolhas que teria que fazer.

Enquanto Clara observava a cidade, o rosto de Lucas, com sua calma recém-descoberta, e o sorriso atrevido de Rafael continuavam a persegui-la.

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