Conto II - Entre Amigos

..."Entre Amigos" - Parte I...

Lucas , Clara e Rafael

A sala estava perfeitamente decorada. A árvore de Natal brilhava com luzes piscantes em tons de dourado e branco, enquanto a mesa ostentava uma seleção caprichada de petiscos e uma garrafa de vinho aguardava para ser aberta. Clara suspirou, satisfeita com o resultado. Não era uma festa grande – na verdade, eram apenas os dois melhores amigos dela –, mas era tudo o que queria.

Lucas chegou primeiro, como sempre. Ele tinha aquele jeito pontual que Clara achava encantador e, ao mesmo tempo, previsível. Ele usava uma camisa azul escura que realçava os ombros largos e segurava uma garrafa de vinho com o rótulo cuidadosamente escolhido.

— Achei que isso poderia combinar com a sua decoração perfeita — disse ele, entregando a garrafa com um sorriso tímido.

Clara riu, aceitando o presente.

— Sempre tão certinho, Lucas. Mas eu gosto disso em você.

O comentário o fez desviar os olhos, como se quisesse esconder o leve rubor que subiu ao rosto. Esse era Lucas: silencioso, observador, mas com uma intensidade que ela sentia sem precisar de palavras.

Minutos depois, Rafael chegou. Ele entrou de forma espalhafatosa, como se o mundo inteiro estivesse esperando por sua presença. Carregava uma sacola com uma garrafa de tequila e alguns limões, e já foi declarando:

— Natal sem tequila? Não enquanto eu estiver aqui!

Clara revirou os olhos, mas não conteve o sorriso. Rafael era assim – intenso, divertido e sempre disposto a provocar. Ele a puxou para um abraço apertado, demorando-se um pouco mais do que o necessário antes de soltá-la. Seus olhos escuros brilharam com algo que Clara não conseguiu identificar completamente, mas que a fez sentir o estômago revirar.

— E você vem aqui para bagunçar minha noite calma e sofisticada? — brincou ela, tentando ignorar o calor que o olhar de Rafael provocava.

— O caos é meu presente pra você — respondeu ele com uma piscadela.

Com os três reunidos, a noite começou com o tom habitual de conforto. Clara e os dois amigos estavam juntos há anos, mas aquela noite parecia diferente. Talvez fosse o clima natalino, o vinho ou o fato de que ela havia escolhido um vestido vermelho curto que destacava suas curvas.

Enquanto as horas passavam, as conversas leves deram lugar a brincadeiras mais provocantes. Rafael, sempre o mais direto, fazia questão de comentar como o vestido caía bem em Clara.

— Você tá perigosa hoje. Cuidado pra não deixar a gente hipnotizado.

Clara riu, mas percebeu Lucas lançando um olhar cortante para Rafael. Era algo sutil, mas que ela notou. Lucas era sempre discreto, mas havia algo em seu jeito mais quieto naquela noite que chamou sua atenção.

Mais tarde, com algumas taças de vinho a mais, Rafael decidiu ser ainda mais ousado.

— Então, Clara... — disse ele, inclinando-se um pouco na direção dela. — Já decidiu quem merece ser seu favorito esse ano?

Ela franziu a testa, confusa.

— Meu favorito?

Rafael sorriu, os olhos brilhando.

— Nós dois estamos competindo pelo título de melhor amigo há anos. Acho que é hora de você declarar o vencedor.

— Ah, por favor — interveio Lucas, com um sorriso forçado. — Não precisa disso.

Mas Rafael continuou:

— Não? Clara merece escolher. Afinal, somos só nós três aqui, não é?

Clara sentiu o ar ficar mais pesado. Não era a primeira vez que Rafael fazia comentários desse tipo, mas naquela noite parecia diferente. Havia algo em sua voz – e nos olhares que Lucas lançava a ela – que a fez perceber que estava no centro de uma tensão que ia além da amizade.

— Vocês dois são impossíveis — respondeu ela, tentando soar leve, mas sua voz saiu mais baixa do que esperava.

Lucas desviou o olhar, mas Rafael não desistiu.

— Só diz o que você sente, Clara. Eu sei que você pensa nisso às vezes.

Ela sentiu o rosto esquentar.

— Penso no quê?

Rafael inclinou-se ainda mais, e sua voz era quase um sussurro:

— Em nós. Nos dois. Ou talvez... nos três.

O coração de Clara disparou. Pela primeira vez, ela percebeu que estava em um ponto sem volta. Ela riu nervosamente, tentando desconversar, mas a intensidade nos olhos de Rafael e o silêncio atento de Lucas deixaram claro que aquela conversa era só o começo.

Ela levantou-se abruptamente, indo até a cozinha.

— Acho que precisamos de mais vinho.

Enquanto ela pegava outra garrafa, sentiu uma presença atrás de si. Virando-se, deu de cara com Lucas. Ele estava mais perto do que esperava, e seu olhar era tão penetrante que a fez esquecer como respirar.

— Clara... — disse ele, a voz baixa, quase hesitante. — Eu nunca quis que você se sentisse pressionada.

— Pressionada? — Ela tentou sorrir, mas o nervosismo a dominava.

— Rafael sempre foi mais... direto. Mas só quero que saiba que, pra mim, você sempre foi... mais do que uma amiga.

O mundo pareceu parar. Antes que Clara pudesse responder, Rafael apareceu na porta, recostando-se no batente com um sorriso de canto.

— E aí? Vocês dois vão ficar aí nesse clima tenso ou vão compartilhar com o resto de nós?

Lucas lançou um olhar frustrado para Rafael, mas Clara percebeu algo em seu próprio corpo – um calor crescente que ela não sabia de onde vinha. Pela primeira vez, ela pensou em como seria cruzar essa linha.

E talvez fosse exatamente isso que ela quisesse.

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