Conto II - Entre Amigos

..."Entre Amigos" - Parte II...

Clara ficou entre os dois, o coração batendo rápido demais para que pudesse fingir que tudo estava normal. Os olhos de Lucas estavam cravados nos dela, sérios e intensos, enquanto Rafael a observava com aquele sorriso despreocupado que a deixava tão confusa quanto atraída.

— O vinho está aqui, mas acho que a conversa ficou mais interessante, não é? — provocou Rafael, cruzando os braços no batente.

— Vocês dois são insuportáveis — respondeu Clara, tentando soar casual, mas sua voz soou trêmula.

Ela passou por Rafael, voltando à sala, mas sentiu o olhar dele em suas costas, como um peso gostoso que a fazia querer se virar e desafiar aquele sorriso atrevido. Quando chegou ao sofá, Lucas já estava ao seu lado novamente, quieto, mas perto o suficiente para que a presença dele fosse inegável.

Rafael sentou-se do outro lado, mas não desviava os olhos.

— Sabe, Clara, às vezes eu me pergunto como você nos suporta. Quero dizer, deve ser difícil lidar com dois caras como nós, não é?

Ela arqueou a sobrancelha, percebendo a malícia nas palavras.

— Talvez seja mais fácil do que você imagina.

Rafael riu, mas Lucas interveio, a voz baixa e firme:

— Você não precisa disso, Clara. Não precisa entrar no jogo dele.

O olhar de Lucas foi direto para Rafael, e o clima na sala ficou ainda mais pesado. Clara percebeu, pela primeira vez, a tensão real entre os dois. Não era só uma brincadeira de amigos – havia algo mais ali, algo que ela talvez tivesse ignorado por muito tempo.

— Jogo? — Rafael inclinou-se para frente, descansando os cotovelos nos joelhos. — Só estou sendo sincero, Lucas. Algo que você deveria tentar de vez em quando.

Lucas ficou em silêncio, mas Clara percebeu o maxilar dele se contrair. Ela sabia que Lucas era reservado, mas nunca o tinha visto tão desconfortável, tão prestes a explodir.

— Rafael, chega — disse Clara, tentando cortar o clima. — Vocês dois estão se comportando como adolescentes.

Mas Rafael apenas riu, relaxando contra o sofá.

— Tudo bem. Não quero estragar o Natal. Mas sabe, Clara, uma coisa é certa: você faz a gente perder a cabeça.

O comentário foi direto, e o olhar de Rafael também. Clara sentiu o rosto esquentar, mas não conseguiu desviar os olhos dele.

Lucas, no entanto, levantou-se abruptamente.

— Vou pegar um pouco de ar.

Clara observou enquanto ele saía pela porta que dava para a varanda, o corpo tenso e o passo firme. Sentiu um aperto no peito.

— Você não precisava provocar tanto — disse ela, voltando-se para Rafael.

Ele deu de ombros, mas o sorriso tinha desaparecido.

— Talvez ele precise ouvir a verdade, Clara. Ele não vai mudar se continuar fingindo que não sente nada por você.

— E você? O que está tentando provar? — retrucou ela, cruzando os braços.

Rafael a encarou por um longo momento antes de responder.

— Que eu não finjo.

As palavras pairaram no ar entre eles, e por um momento Clara não soube o que dizer. Rafael era ousado, sim, mas nunca tinha sido tão direto. Era como se ele estivesse tirando todas as camadas e mostrando algo que ela não esperava ver.

Antes que pudesse responder, ouviu a porta da varanda se abrir novamente. Lucas voltou, o rosto ainda sério, mas parecia mais calmo. Ele olhou diretamente para Clara.

— Podemos conversar? Sozinhos?

Rafael suspirou, levantando-se.

— Vou dar espaço. Mas não demorem muito.

Ele saiu da sala, deixando Lucas e Clara sozinhos. O silêncio entre eles era denso, mas Clara percebeu que Lucas estava diferente. Ele parecia mais determinado, menos hesitante.

— Clara, eu preciso ser honesto — começou ele, aproximando-se. — Eu sei que nunca fui tão direto quanto o Rafael, mas... eu me importo com você. Mais do que como amiga. Sempre me importei.

Clara sentiu o chão desaparecer sob seus pés.

— Lucas, eu...

Ele deu um passo mais perto, pegando as mãos dela.

— Eu não quero que você sinta que precisa escolher. Não é isso. Mas eu precisava dizer, porque fingir que está tudo bem... não está mais funcionando pra mim.

Ela olhou nos olhos dele, tão cheios de verdade, e sentiu algo se quebrar dentro dela. Mas antes que pudesse responder, Rafael apareceu na porta da sala novamente, encostando-se ao batente com os braços cruzados.

— Tudo bem aí? — perguntou ele, mas havia algo na voz dele, um tom menos brincalhão.

Clara se afastou de Lucas, sentindo a tensão crescer novamente.

— Acho que preciso de um minuto.

Ela passou pelos dois, indo para o quarto. Trancou a porta e encostou-se nela, tentando acalmar o coração. Mas a verdade era que, no fundo, não sabia como lidar com o que estava acontecendo.

Uma batida na porta a tirou de seus pensamentos.

— Clara? — Era Rafael. — Posso entrar?

Ela hesitou, mas abriu a porta. Ele estava ali, encostado no batente, o rosto mais sério do que ela estava acostumada.

— Não vou demorar. Só queria dizer que, seja lá o que você decidir... eu espero que seja honesta. Com a gente. Mas, principalmente, consigo mesma.

Antes que ela pudesse responder, ele se inclinou, deixando um beijo leve no canto da boca dela. O toque foi breve, mas Clara sentiu uma onda de calor que percorreu todo o corpo. Rafael saiu logo em seguida, deixando-a sozinha com seus pensamentos.

Na sala, Lucas ainda estava lá, sentado no sofá, esperando. Clara sabia que a noite estava longe de terminar – e que as escolhas que faria mudariam tudo para sempre.

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Essa Noite Vai Ser Longaaaa🫣🫣🫣

2024-11-26

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