O Beijo Sob As Estrelas

Os dias de primavera vinham sendo generosos com a propriedade de Blackwood Hall. As árvores estavam em plena floração, os campos exalavam um perfume doce, e as noites eram límpidas, repletas de estrelas que pareciam mais brilhantes do que nunca. A relação entre Collin e eu continuava a evoluir, como uma flor que desabrocha lentamente, mas com a promessa de uma beleza deslumbrante.

Aquela noite, um convite inesperado chegou até mim. Collin apareceu à porta do meu quarto, usando uma camisa simples e botas gastas, o que era inusitado para o conde geralmente tão impecável.

– Sophie, quer me acompanhar? – perguntou ele, um sorriso hesitante brincando em seus lábios.

– Para onde? – respondi, curiosa, embora sentindo meu coração acelerar.

– Há algo que quero lhe mostrar. Pensei que esta noite seria perfeita.

Hesitei por um momento, mas a promessa oculta em seus olhos era irresistível. Vesti um xale leve sobre meus ombros e segui Collin para fora da mansão.

O caminho estava iluminado apenas pela luz suave da lua, e o som de nossos passos sobre a grama molhada preenchia o silêncio entre nós. A proximidade de Collin era reconfortante, mas também eletrizante. À medida que caminhávamos, comecei a perceber pequenos gestos dele: a maneira como segurava galhos para que eu passasse, como ajustava seu ritmo ao meu e como olhava para mim, como se eu fosse a única pessoa que importava.

Depois de alguns minutos, chegamos ao lago, o mesmo lugar onde ele havia me levado dias atrás. Desta vez, porém, o cenário estava diferente. No centro da clareira, uma manta estava estendida no chão, cercada por lanternas que lançavam uma luz dourada sobre o ambiente.

– O que é isso? – perguntei, surpresa.

– Uma ideia que tive – disse ele, parecendo um pouco nervoso. – Você disse que gosta de lugares tranquilos, então achei que este seria perfeito.

Minha respiração ficou presa na garganta. Era o gesto mais atencioso que alguém já fizera por mim.

– Collin... Isso é lindo.

Ele sorriu, aliviado com minha reação, e gesticulou para que eu me sentasse. Enquanto ele se acomodava ao meu lado, percebi o quão perto estávamos. Sua presença era calorosa, quase tangível.

Passamos o que pareceram horas conversando sobre coisas triviais e profundas. Ele me contou histórias de sua infância, do tempo em que fugia das aulas para explorar a propriedade. Eu, por minha vez, compartilhei memórias de minha vida com minhas irmãs, os risos e as brigas que moldaram minha infância.

– Deve ter sido interessante crescer com tantas irmãs – comentou ele, inclinando-se ligeiramente em minha direção.

– Interessante é uma palavra delicada para descrever – brinquei, sorrindo. – Mas eu daria qualquer coisa para reviver aqueles momentos.

Ele ficou em silêncio por um momento, observando-me.

– Você sente falta delas.

– Sim, mas... talvez menos do que pensei que sentiria – confessei, surpresa com minha própria honestidade. – Acho que estar aqui, com você, me ajudou a encontrar um novo lugar no mundo.

Ele parecia absorver minhas palavras, seus olhos intensos fixos nos meus.

– Sophie, você é... – Ele parou, como se estivesse buscando as palavras certas.

– O que sou? – incentivei, minha voz mais baixa.

– Especial – disse ele finalmente, sua voz carregada de uma sinceridade que fez meu coração vacilar.

Antes que eu pudesse responder, ele desviou o olhar, aparentemente envergonhado por sua confissão.

A noite avançava, e a conversa diminuiu. O silêncio entre nós não era desconfortável, mas cheio de possibilidades. O céu acima estava repleto de estrelas, e a lua lançava seu brilho prateado sobre o lago.

– Você sabia que há constelações que só podem ser vistas em determinadas épocas do ano? – perguntei, tentando aliviar a tensão que parecia crescer.

– Não, mas acredito em você. – Ele sorriu, mas sua atenção parecia estar totalmente focada em mim, não no céu.

De repente, senti seus dedos roçarem os meus. Era um toque tão sutil que poderia ter sido acidental, mas a corrente que percorreu meu corpo deixou claro que não era.

– Sophie – disse ele, sua voz quase um sussurro.

– Sim? – respondi, minha respiração presa.

Ele virou-se totalmente para mim, e por um momento, ficamos ali, apenas olhando um para o outro. Havia algo em seus olhos, uma intensidade que nunca tinha visto antes.

– Há algo que quero fazer há algum tempo – ele admitiu, sua voz rouca.

– O que é? – perguntei, embora já soubesse a resposta.

Ele se inclinou lentamente, dando-me tempo para recuar se quisesse. Mas eu não queria. Fechei os olhos, e então, seus lábios tocaram os meus.

O mundo pareceu parar. O toque de seus lábios era suave, mas firme, como se ele estivesse colocando todos os seus sentimentos naquele único gesto. Meu coração batia tão rápido que achei que ele poderia ouvi-lo.

Quando ele se afastou ligeiramente, abriu os olhos, como se estivesse avaliando minha reação.

– Sophie, eu...

– Não diga nada – interrompi, antes de inclinar-me e puxá-lo de volta. Desta vez, o beijo foi mais profundo, mais confiante, como se ambos tivéssemos decidido deixar todas as dúvidas para trás.

Quando finalmente nos separamos, estávamos ofegantes, mas sorrindo.

– Isso foi... inesperado – ele admitiu, passando a mão pelos cabelos.

– Foi? – provoquei, ainda sentindo o calor do beijo em meus lábios.

– Talvez nem tanto – confessou ele, rindo baixinho.

O caminho de volta à mansão foi feito em silêncio, mas não era o mesmo silêncio de antes. Havia algo diferente entre nós, algo que não precisava ser dito. Quando chegamos à porta do meu quarto, ele hesitou.

– Sophie, obrigado por confiar em mim.

– Collin, acho que confio mais em você do que jamais confiei em alguém.

Ele sorriu, e por um momento, achei que fosse me beijar novamente. Mas, em vez disso, ele apenas pegou minha mão e levou-a aos lábios, deixando um beijo suave em meus dedos antes de se virar e desaparecer no corredor.

Fechei a porta, encostando-me a ela enquanto tentava controlar meu coração acelerado. Algo havia mudado naquela noite, algo que eu sabia que não poderia ser desfeito.

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