Conectando os Pontos

A determinação de João para encontrar Miguel tornou-se um foco em sua vida, mas o caminho a seguir não era tão simples quanto ele havia imaginado. Nos dias que se seguiram, ele dedicou seu tempo a pesquisar a nova família de Miguel. Com cada clique na internet, a ansiedade crescia, mas ele não podia ignorar a necessidade de saber mais sobre o irmão que ele nunca conheceu. Ele criou uma lista de perguntas, cada uma mais premente que a anterior, enquanto tentava compor a imagem do que Miguel poderia ser.

Naquele sábado ensolarado, João decidiu que era hora de agir. Ele se encontrou com Clara no parque, determinado a dividir seus planos. Ao chegar, ele encontrou Clara sentada em um dos bancos, os cabelos ao vento, enquanto observava as crianças brincando ao redor. Sua presença tranquila sempre trouxe a João um senso de paz.

“Oi, Clara,” ele disse, respirando fundo para conter a adrenalina. “Eu pensei bastante e decidi que quero tentar entrar em contato com a família de Miguel.”

“Ótimo!” Clara sorriu, levantando-se para abraçá-lo. “Como você pretende fazer isso?”

João puxou um pedaço de papel do bolso, onde anotara todas as informações que havia conseguido reunir até aquele momento. “Eu encontrei alguns registros da adoção e algumas redes sociais que parecem pertencer a eles. A mãe de Miguel parece ter um perfil público. Estou pensando em enviar uma mensagem.”

“Isso pode ser um bom primeiro passo,” Clara disse, analisando a lista. “Mas como você se sente sobre isso? Você está pronto para isso?”

João hesitou. “Eu não sei… É tão estranho. Ao mesmo tempo que estou empolgado, tenho medo do que eles vão dizer. E se Miguel não quiser me conhecer?”

“Lembre-se de que você não está apenas fazendo isso por você, mas por ele também. Ele tem o direito de saber que você existe,” Clara respondeu, com a sinceridade que sempre a caracterizou.

“Certo,” João disse, olhando ao redor, sentindo o peso da situação. “Vou fazer isso.”

Ele puxou o celular e abriu o aplicativo de mensagens. Seu coração batia forte enquanto digitava. “Oi, meu nome é João. Sou o irmão mais velho do Miguel. Fui informado sobre a sua adoção e gostaria de saber mais sobre ele. Estou ansioso para conhecê-lo, se isso for possível.”

Depois de revisar a mensagem, ele pressionou “enviar”. Um frio na barriga tomou conta dele, como se estivesse pulando de um penhasco sem saber o que havia abaixo. Clara colocou a mão em seu ombro, um gesto de apoio que o ajudou a acalmar a mente.

“Você fez a coisa certa,” ela disse, com um sorriso encorajador. “Agora é só esperar.”

As horas se arrastaram, e a ansiedade começou a tomar conta de João novamente. Ele tentou se distrair, mas seus pensamentos sempre voltavam à mensagem. E se eles não respondessem? E se o que ele havia dito não tivesse soado bem?

Finalmente, ao final da tarde, o celular de João apitou, fazendo seu coração disparar. Ele olhou para a tela e viu que era uma notificação de mensagem. Suas mãos tremiam enquanto abria o aplicativo.

“Oi, João. Fico feliz que você tenha entrado em contato. Miguel sempre soube que tinha um irmão mais velho. Estaríamos mais do que felizes em conhecer você. Vamos marcar um encontro? – Ana.”

A resposta era inesperada e cheia de calor. João sentiu uma onda de emoções — alívio, alegria e um brilho de esperança que ele não sentia há muito tempo. “Eles querem nos conhecer!” ele exclamou, olhando para Clara, que estava quase tão animada quanto ele.

“Isso é incrível!” Clara disse, pulando de alegria. “Agora você pode finalmente conhecê-lo!”

“Sim, mas e agora? O que eu faço? Não quero parecer um estranho. E se ele não gostar de mim?” As inseguranças de João estavam de volta, sua mente girando em círculos de dúvidas.

“Você só precisa ser você mesmo. Não se preocupe com a primeira impressão, apenas se concentre em ser honesto sobre seus sentimentos,” Clara aconselhou. “E lembre-se de que Miguel também deve estar se sentindo nervoso. Vocês têm muito em comum, e isso pode ser um ótimo começo.”

João assentiu, tentando absorver a sabedoria de Clara. Ele passou a tarde discutindo os possíveis cenários com ela, aliviando a tensão enquanto planejavam como seria o encontro.

No dia seguinte, a reunião foi marcada. Seria no parque, onde a família de Miguel costumava passar os fins de semana. João não sabia se estava mais nervoso por encontrar Miguel ou por ter que conhecer a mãe dele, que provavelmente sabia de toda a história.

Na manhã do encontro, João se preparou com cuidado. Ele escolheu uma camiseta simples, mas que o fazia sentir-se confiante, e praticou mentalmente algumas palavras para dizer. Quando chegou ao parque, sua ansiedade disparou. Ele olhou ao redor, procurando por qualquer sinal da família de Miguel.

Finalmente, viu uma mulher em pé ao lado de um menino, ambos sorrindo. Era Ana, a mãe de Miguel, e ao seu lado estava um garoto que parecia ter a mesma idade de João. O coração de João disparou ao perceber que aquele garoto era Miguel.

“Oi, você deve ser o João,” Ana disse, acenando para ele. “Estamos felizes que você veio.”

João sentiu as pernas tremerem, mas respirou fundo. “Oi, Ana. É um prazer conhecê-la.” Ele desviou o olhar para Miguel, que parecia um pouco tímido, mas curioso. “E você deve ser Miguel.”

“Oi,” Miguel respondeu, com um sorriso tímido. “Eu ouvi falar muito de você.”

As palavras o tocaram profundamente. João se lembrou do que Clara havia dito, que eles tinham muito em comum. “Eu também ouvi sobre você. Espero que possamos nos conhecer melhor.”

“Sim!” Miguel respondeu, um pouco mais animado. “O que você gosta de fazer?”

O bate-papo começou a fluir mais naturalmente. Os três se sentaram em um banco sob uma sombra fresca, e João começou a compartilhar suas histórias de infância, enquanto Miguel fazia perguntas sobre sua vida. A tensão que ele sentia inicialmente começou a se dissipar, e logo eles estavam rindo juntos como se fossem amigos de longa data.

Enquanto conversavam, João percebeu que, apesar de serem estranhos, havia uma conexão inexplicável entre eles. Era como se o passado os unisse de alguma forma, e a conversa fluiu com uma facilidade surpreendente.

Conforme a tarde avançava, João sentiu uma onda de gratidão por estar finalmente construindo uma ponte com seu irmão. Ele estava começando a entender que, embora o passado estivesse repleto de dores e segredos, o futuro poderia ser brilhante e cheio de novas memórias. A cada risada, a cada história compartilhada, o vazio que havia sentido por tanto tempo começava a se preencher.

A luz do sol começava a se pôr, lançando um brilho dourado sobre eles. João sentiu que essa reunião era o começo de algo especial. Ele tinha um irmão, e agora estava determinado a construir um relacionamento significativo com ele.

Ao final do dia, quando Ana sugeriu que se encontrassem novamente, João não hesitou. “Claro! Vamos fazer isso.” Ele mal podia esperar para ver Miguel novamente, ansioso pelas novas aventuras que os aguardavam.

Quando finalmente se despediu, uma sensação de esperança o envolveu. Ele havia dado um passo importante para curar as feridas do passado e estava pronto para continuar a jornada. Havia muito mais a descobrir, e agora, mais do que nunca, João se sentia pronto para enfrentar o futuro — ao lado de Miguel.

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