A Borboleta no Armário

O verão em Pembina costumava ser uma época cheia de liberdade e aventuras ao ar livre. Como qualquer criança da minha idade, eu adorava explorar o quintal, capturar insetos e construir pequenos mundos imaginários. O calor do sol, o cheiro da grama recém-cortada e a sensação do vento no rosto eram os ingredientes perfeitos para me fazer esquecer, mesmo que por breves momentos, da presença perturbadora da Garota das Sombras. Contudo, naquele verão, eu estava prestes a descobrir que, por mais que tentasse escapar para o mundo externo, as sombras estavam sempre à espreita.

Minha obsessão por borboletas começou de forma inocente. Elas eram criaturas fascinantes, com suas asas coloridas e movimentos delicados. Durante um final de tarde, encontrei uma borboleta de asas vibrantes pousada em uma flor no jardim. Sem pensar duas vezes, corri para dentro de casa, peguei um copo na cozinha e, com cuidado, capturei a pequena criatura. Na minha mente, guardar aquela borboleta era como manter um pedaço daquele dia perfeito, algo que eu podia preservar e admirar.

Mas então veio a pergunta: onde eu poderia guardar minha nova amiga alada sem que ninguém a encontrasse? Lembrei-me do armário das minhas irmãs, um lugar raramente usado por elas e, portanto, o esconderijo perfeito. O armário ficava no quarto do segundo andar, um cômodo que minhas irmãs dividiam, mas que costumava ficar vazio durante o dia. Coloquei a borboleta debaixo do copo, com um ramo de planta, e cobri o topo com um pedaço de papel que tinha um desenho malfeito do robô de "O Gigante de Ferro", um dos meus filmes favoritos na época.

Aquela noite, eu dormi com a expectativa de, no dia seguinte, encontrar a borboleta viva e bem, aguardando para ser libertada de seu cativeiro improvisado. Mas o que aconteceu a seguir transformou o que deveria ter sido uma brincadeira infantil em algo muito mais sinistro.

Na manhã seguinte, subi as escadas correndo, animado para ver minha borboleta. Ao entrar no quarto das minhas irmãs e abrir a porta do armário, senti um calafrio percorrer minha espinha. A borboleta estava morta. Suas asas, outrora vibrantes, agora pareciam frágeis e sem vida, como se tivessem sido drenadas de toda cor e energia. A tristeza me atingiu de forma inesperada, mas havia algo mais além do luto por aquela pequena criatura. Uma sensação de que algo estava errado, muito errado.

Fiquei ali parado, olhando para a borboleta morta, quando algo me fez levantar a cabeça. A janela do quarto estava aberta, deixando entrar uma brisa suave que mexia as cortinas, mas o que realmente capturou minha atenção foi o que estava do lado de fora. Lá, no quintal, à distância, estava a Garota das Sombras. Ela estava parada, imóvel, com seus olhos brancos fixos em mim. A visão dela, do lado de fora da casa, me deu uma nova dimensão de terror. Até então, eu sempre havia sentido que ela estava confinada às sombras dentro de casa, mas agora, ela parecia ser uma presença muito mais onipresente e ameaçadora.

Seu olhar não piscava, não se desviava. Ela me encarava com uma intensidade fria, como se soubesse exatamente o que eu estava pensando, como se soubesse o que havia acontecido com a borboleta. Era como se ela estivesse se alimentando daquele pequeno momento de morte e perda, como se tivesse alguma conexão com o que acontecera no armário.

Minha reação foi quase instintiva. Larguei a borboleta e fui em direção à janela, ainda mantendo o contato visual com a Garota das Sombras. Cada passo que eu dava parecia tornar a presença dela mais forte, mais palpável. Quando cheguei à janela, não consegui resistir. Estiquei a mão, como se, de alguma forma, pudesse tocar ou confrontar aquela entidade. No entanto, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ela começou a se mover.

Assim como da última vez, seu corpo flutuava suavemente, deslizando pelo chão sem que seus pés parecessem tocar o solo. Ela se virou lentamente, sem nunca dobrar as pernas, e desapareceu atrás de uma cerca viva que separava o nosso quintal do terreno vizinho. O que restou foi apenas o vento suave e o som das folhas farfalhando ao longe.

Fiquei ali parado, em choque, por alguns minutos. A sensação de ser observado ainda pairava no ar, mesmo com ela fora de vista. Finalmente, me afastei da janela, tentando compreender o que havia acabado de acontecer. Será que a Garota das Sombras havia aparecido por causa da borboleta? Será que, de alguma forma, minha tentativa de capturar a criatura tinha invocado sua presença? Essas perguntas começaram a tomar conta da minha mente, preenchendo os momentos que, até então, eu dedicava à diversão e à inocência infantil.

Aquela noite, ao tentar dormir, as imagens da Garota das Sombras e da borboleta morta continuavam a invadir meus pensamentos. Fechei os olhos, mas a visão dos olhos brancos e da figura sombria não me deixava em paz. Algo estava mudando, e eu sabia que não era para melhor. A presença dela, antes limitada a momentos de tensão silenciosa, agora parecia estar se expandindo, tomando conta de partes da minha vida que eu jamais havia imaginado que ela poderia tocar.

Os dias que se seguiram foram tomados por uma sensação de vigilância constante. A cada esquina que eu dobrava dentro de casa, esperava vê-la. Cada vez que eu me aproximava de uma janela ou de uma porta, olhava com cuidado, temendo encontrar seus olhos brancos fixos em mim. E, embora eu tentasse ignorar, uma parte de mim não podia evitar sentir que a morte daquela borboleta era mais do que uma coincidência. Era um presságio. Uma advertência.

Eu sabia, com uma certeza assustadora, que a Garota das Sombras não havia terminado. Ela estava esperando. Observando.

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