Capítulo 16

Hadassa Stevens

Paro um instante segurando a maçaneta da porta e ouço novamente.

— Aisha, já está decidido. Você vai se casar com o Don da máfia chinesa — meu sogro fala entre os dentes.

— Aisha não vai sair daqui para ir para outro país, Miguel. Melhor não assinar esse acordo ridículo, ou te garanto que não terá meu perdão. Podemos não nos divorciar, mas nos tornaremos dois estranhos aqui dentro — minha sogra fala, determinada.

— Sabe que isso de nos separar não existe, né? Além do mais, sou eu quem decide o destino desta família. Se tem algo de que me arrependo, foi a maldita aliança com os Stevens. Em vez de uma mulher, veio uma diaba que confronta todo mundo, até o próprio noivo, na frente de todos. Já decidi Aisha VAI CASAR e ponto final! — Miguel grita as últimas palavras.

— Eu não quero me casar com ele, pai — Aisha diz, no momento em que entro na sala e vejo lágrimas escorrendo pelo seu rosto. — Eu não quero me casar com um homem que nem conheço, com uma reputação horrível. Não quero sofrer e ser condenada a uma vida infeliz para o resto da minha vida.

— Você não tem que escolher nada, Aisha. Eu digo e repito: eu sei o que é melhor para nossa família. E se eu falei que você vai se casar com ele, é porque você vai.

— Miguel…

— CALA A BOCA, MALU — ele grita, e vejo minha sogra se encolher em seu próprio corpo.

— EU NÃO VOU ME CASAR COM ELE, E FAREI DE TUDO PARA IMPEDIR ISSO, NEM QUE TENHA QUE PASSAR POR CIMA DA SUA ORDEM, PAI — Aisha grita, e vejo meu sogro levantar a mão e acertar um tapa em seu rosto.

As lágrimas escorrem pelo rosto dela enquanto ela segura a mão no lugar onde ele a atingiu. Malu estava completamente sem reação, e o silêncio ensurdecedor se instala na sala.

— Aisha — Ryan fala, e só agora percebo sua presença. Ele corre até a irmã e a aninha em seus braços enquanto os soluços escapam da garganta dela. — QUE PORRA VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO, CARALHO? — Ryan grita, me tirando do choque em que me encontrava.

Minha sogra começa a chorar, e o encara com ódio nos olhos. Ela vai até a filha e a abraça.

— Não ouse me desafiar, Aisha, ou eu mesmo farei você pagar as consequências. Eu sei o que é melhor para nossa família e para a máfia.

— EU TE ODEIO — ela grita, limpando o rosto. — Nunca vou te perdoar por isso, NUNCA! — Ela fala e sobe correndo as escadas.

Ryan abraça minha sogra e tenta confortá-la de alguma forma, mas eu podia imaginar como seu coração de mãe estava despedaçado.

As palavras estavam entaladas em minha garganta, e o ódio que eu sentia era maior que tudo.

— Vai me bater também? — falo, caminhando em sua direção e atraindo a atenção dos três para mim. — Bate, se você tem coragem, porra. Encosta um dedo em mim! — Eu também sou contra essa merda — altero o meu tom de voz, ficando cara a cara com ele. — BATE, SE VOCÊ É HOMEM, CARALHO! — grito. — Cadê o homem foda que levantou a mão para bater na própria filha? Cadê sua coragem? Quer empurrar a sua filha para um casamento de merda e vê-la infeliz? Ela vai sofrer! Quer entregar ela como uma mercadoria para um estranho com a pior reputação da China, para depois acontecer o pior e você vir banca o pai arrependido? — Deixo uma gargalhada amarga ecoar pela casa.

— Hadassa — Ryan me repreende.

— Controle a porra da sua mulher, antes que eu perca a paciência, Ryan — ele fala, passando as mãos pelos cabelos.

— Hadassa, chega! Quando chegarmos em casa, conversamos — Ryan fala, mas o ignoro.

— Sabe o que você é, Miguel Cooper? Um covarde. Um homem que prefere sacrificar a própria filha por um acordo que só vai trazer sofrimento. Se acha que ela vai te perdoar algum dia, está muito enganado. Você é patético! — Cuspo as palavras, vendo seus olhos brilharem de ódio, como brasas acesas.

— Já chega! — Miguel avança um passo, sua voz cheia de veneno. — Insolente. Nem mesmo seus pais conseguiram te dar a educação que você merece, não é? — Ele dispara, tentando me ferir.

— Vai se foder! — respondo, minha voz baixa e gélida, antes de me virar para Ryan. — Não aceite isso, Ryan. Aisha é sua irmã. Você é que comanda a Rússia, mas também é humano. Ela não merece esse destino.

— Hadassa, sobe e vai atrás da Aisha. Manda ela arrumar uma bolsa; ela vai ficar lá em casa até nosso casamento. Meu motorista vai levar vocês. Vou ficar aqui para conversar com meu pai — ele diz, ainda segurando a mãe em seu peito. — Quer ir com elas, mamãe?

— Não, vocês precisam de privacidade. Ficarei bem aqui e dormirei no quarto de hóspedes — ela diz, beijando o rosto do filho e lançando um olhar de desgosto para o marido.

— Sogra, você será muito bem-vinda na nossa casa. Não vai nos atrapalhar — digo, e meu sogro me fuzila com o olhar. — Ficarei feliz em tê-la na minha casa.

— Vou pedir para Aisha descer — ela avisa, subindo as escadas e parando no meio do caminho. — Meu filho, avise Nikolai que houve um imprevisto com o jantar e que não poderá acontecer hoje — ela fala, limpando o rosto. Ryan mexe no celular.

Miguel entra no escritório, batendo a porta com força. Ryan me encara, e posso ver seu olhar frio sobre mim.

— Nem vem me encher o saco. Faria tudo isso pela Aisha. Seu pai não passa de um merda, e ninguém tem coragem de desafiá-lo e dizer a verdade.

— Vai para casa e cuide da Aisha. Quando chegar em casa, conversamos.

— Ryan, não concorde com essa loucura do seu pai, por favor. Ela é sua irmã. Independentemente dessas malditas leis que seguimos, ela será infeliz nas mãos do pior homem. E você, como irmão e Don, não pode aceitar isso.

Aisha desce com Malu. Seu rosto está vermelho e marcado pela mão do canalha que se diz pai dela. Está inchado, e posso ver como isso tudo está sendo difícil para ela.

— Se cuida, princesa. Qualquer coisa, me ligue que vou até lá — Malu fala, beijando a filha.

— Não brigue com papai — Aisha pede, limpando as lágrimas. — Não quero que briguem por mim.

— Vai ficar tudo bem, não se preocupe — elas se abraçam. — Cuide dela, Hadassa.

— Ela vai ficar bem com a gente, não se preocupe, sogra. Vamos, Aisha.

Saímos da propriedade. O motorista estava nos esperando e seguimos para casa em segurança. No carro, Aisha ficou o tempo todo em silêncio, e eu sabia que ela estava devastada por ter sido agredida por alguém que ela via como seu herói.

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