Capítulo 11

O silêncio do quarto hospitalar é perturbado apenas pelo som rítmico das máquinas que sustentam minha vida. Mas hoje, há algo mais. Sinto o toque de Laura. É leve, quase imperceptível, mas sei que é ela. Não posso responder do jeito que quero, não posso dizer o que preciso, mas sinto que algo mudou. Por dentro, grito para ela, implorando que não me deixe. Mas o único som que sai é o som de minha respiração monitorada por essas máquinas.

Tudo parece distante e ao mesmo tempo incrivelmente presente. A cada dia que passa, minha mente se torna mais afiada, mais consciente do que está acontecendo ao meu redor. Eu ouço a conversa dela com Leonardo na área externa do quarto, e sei que estou perdendo a batalha. Ouço o tom na voz dele, a maneira como ele se aproxima dela, com toda a sensibilidade e empatia que eu nunca consegui demonstrar. E parte de mim, aquela parte orgulhosa e arrogante que sempre me definiu, quer odiá-lo por isso. Mas não posso. Porque, no fundo, sei que ele está apenas preenchendo o vazio que eu mesmo criei.

Laura sempre foi melhor do que eu. Sempre enxergou algo em mim que eu não conseguia ver. E agora, eu percebo, talvez tenha sido tarde demais para corresponder. Ela está cansada. Posso sentir isso. A maneira como seu corpo hesita ao me tocar, a forma como sua voz carrega aquele peso de alguém que está à beira de desistir.

A verdade é que, se ela desistir, eu não a culparei. Como poderia? Por tanto tempo, tudo o que fiz foi afastá-la. Eu me envolvi nos negócios, nas aparências, em manter o controle sobre tudo ao meu redor, sem nunca pensar no que isso custava.

Agora, ironicamente, estou completamente fora de controle. Um prisioneiro em meu próprio corpo. E, com isso, percebo que tudo o que fiz até aqui foi em vão. O sucesso, a arrogância, a frieza... nada disso importa se Laura não estiver ao meu lado. E, pela primeira vez, sinto que talvez o fim esteja se aproximando.

Ela falou em desistir. Eu ouvi isso. E isso, mais do que qualquer outra coisa, me apavora. Porque, apesar de tudo, ela ainda está aqui. Apesar de todas as razões que dei a ela para me deixar, Laura ainda vem todos os dias. E agora, estou lutando com cada fibra do meu ser para não perder a única pessoa que me mantém ligado à vida.

A pressão que ela faz na minha mão... é sutil, mas é tudo o que tenho. Tento apertar de volta, um gesto minúsculo, mas significativo. Talvez ela sinta. Talvez não. Mas, por dentro, eu sei que estou mais perto de quebrar essa prisão. Só preciso de um pouco mais de tempo.

Mas e se ela não me der esse tempo?

A angústia me sufoca, e eu me sinto esmagado pela possibilidade de que, quando eu finalmente conseguir acordar, ela não estará mais aqui. Que eu tenha esperado demais. Que o peso de tudo isso a tenha levado para longe de mim... para Leonardo.

O simples pensamento me apavora. Tento me concentrar, reunir todas as forças que me restam, mas o medo me consome. Não posso perder Laura. Não agora. Não quando finalmente entendo o quanto ela significa para mim.

***

Estou sentada ao lado dele, segurando sua mão, e pela primeira vez em meses, sinto algo diferente. Um pequeno movimento, um sinal de que Alex ainda está lutando. Meu coração acelera, mas logo é seguido por uma onda de dúvida. Será que ele realmente está tentando voltar para mim? Ou é apenas meu desejo desesperado de ver algum progresso?

Eu deveria estar mais animada, deveria estar cheia de esperança com esse pequeno sinal. Mas a verdade é que estou esgotada. Seis meses... Seis longos meses em que tudo o que fiz foi esperar. E no meio disso, Leonardo apareceu. Com sua gentileza, sua paciência, ele se tornou o pilar que Alex nunca foi. E isso me confunde mais do que qualquer outra coisa. Como posso estar me sentindo assim, quando meu marido está aqui, ainda vivo, tentando lutar por sua vida?

— Alex... — digo baixinho, observando seu rosto, em busca de qualquer outro sinal. — Se você realmente está aqui... lutando para voltar... precisa me mostrar. Precisa me dar algo mais.

Eu não sei se ele pode ouvir. As enfermeiras dizem que é possível, que pacientes em coma podem ouvir as vozes ao seu redor, que às vezes isso ajuda. Mas, até agora, nada me convenceu de que Alex realmente está aqui. Até agora. Esse pequeno movimento... ele me deu algo em que acreditar. Só que parte de mim já não sabe mais o que esperar.

— Eu estou cansada, Alex... — admito, minha voz quase falhando. — Não sei quanto tempo mais posso continuar assim.

Há um longo silêncio, onde tudo o que ouço são as máquinas ao nosso redor. E pela primeira vez, permito-me pensar no que a vida seria sem Alex. Ele sempre foi uma presença tão dominante, mesmo quando não estava por perto. Mas esses últimos meses me mostraram algo que eu não queria encarar: que talvez, só talvez, a vida sem ele fosse mais fácil.

E então há Leonardo.

Eu não posso mentir para mim mesma. O que sinto por Leonardo é real. Algo começou a crescer entre nós, silenciosamente, mas cada vez mais palpável. Ele me oferece uma chance de ser feliz, de ter alguém que me entende, que está presente. E por mais que eu queira lutar contra isso, a verdade é que a ideia de seguir em frente com ele tem me dado forças para enfrentar esse pesadelo.

Mas e Alex? Esse movimento... essa esperança frágil... não posso simplesmente ignorar.

Estou à beira de um abismo, sem saber para qual lado me inclinar. E, enquanto espero por mais um sinal, mais uma prova de que Alex ainda está lutando, a dúvida me consome.

***

A luta dentro de mim é incessante. Tento me agarrar a cada pensamento, a cada memória de Laura. Não posso deixar que ela vá embora. Não posso. Mesmo que meu corpo me traia, mesmo que eu esteja preso aqui, preciso encontrar uma maneira de mostrar a ela que estou aqui. Que estou lutando por ela.

Porque, se eu perder Laura... então já perdi tudo.

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