As semanas passaram, e as visitas ao hospital já se tornaram uma rotina mecânica. Eu entro, falo algumas palavras, mas a verdade é que a esperança parece se esvair a cada dia que passa. Hoje, porém, sinto algo diferente. Há uma tensão no ar, algo que não sei exatamente explicar.
Estou sentada ao lado de Alex, como sempre. O ambiente do quarto é opressor, cheio de lembranças silenciosas. Ele continua deitado, imóvel, e por mais que eu tente, é difícil enxergar algum progresso real. As enfermeiras me dizem que há reações mínimas, que ele pode estar ouvindo, mas, na prática, nada muda. As máquinas fazem o trabalho de mantê-lo vivo, enquanto o Alex que eu conhecia parece cada vez mais distante.
Eu solto a mão dele devagar e me levanto. Preciso de um pouco de ar. O hospital começa a me sufocar, com seu cheiro de desinfetante, suas luzes brancas e impessoais. No corredor, dou de cara com o Dr. Leonardo.
— Está tudo bem, Laura? — Ele pergunta, com aquele tom que mistura preocupação genuína e profissionalismo.
— Eu... acho que sim. Só preciso de um momento fora desse quarto. — Respondo, tentando manter a compostura.
Ele faz um gesto indicando o caminho para a área externa do quarto, e eu o sigo. O ar aqui fora oferece um pequeno respiro do caos que é estar presa naquele quarto, dia após dia, observando Alex sem sinais claros de melhora.
— Eu sei que você está cansada — diz Leonardo, sua voz suave enquanto caminhamos pelo jardim. — Ninguém te culparia por querer desistir.
Essas palavras me atingem como uma pancada. "Desistir". Há meses tenho tentado evitar esse pensamento. Eu deveria estar ao lado de Alex, firme, mas a verdade é que estou esgotada. As visitas diárias, o peso da incerteza, a solidão crescente. E agora, Leonardo, com sua presença constante e gentil, está aqui, oferecendo uma espécie de refúgio.
— Não é que eu queira desistir... — digo, hesitante. — Mas não sei quanto tempo mais posso continuar assim. Parece que... que ele está preso, sem chances reais de voltar.
Leonardo para de andar e se vira para mim, colocando a mão suavemente no meu braço. O toque é delicado, mas firme.
— Laura, ninguém pode te dizer o que é certo ou errado nessa situação. Só você pode decidir o que é melhor para você. Você não precisa carregar esse fardo sozinha.
Olho para ele, e por um momento, há um silêncio entre nós. Seu olhar é intenso, cheio de compreensão, e me sinto exposta de uma maneira que não esperava. Ele entende o peso do que estou passando, mas, ao mesmo tempo, há algo mais ali. Algo que eu venho tentando ignorar há meses. A proximidade entre nós não é mais puramente profissional. E o pior é que parte de mim não se sente culpada por isso.
— Eu não sei o que fazer, Leonardo — admito, minha voz quase um sussurro.
— Você não precisa decidir agora — ele diz, sua voz firme e segura. — Mas só quero que saiba que estou aqui. Por você.
Há uma hesitação no ar. Um momento em que tudo parece mudar, em que uma linha invisível começa a se formar entre o que é aceitável e o que não é. E, por mais que eu tente me convencer de que estou no controle, que posso manter as coisas em um nível profissional, sei que algo está mudando. Algo que talvez eu não consiga mais conter.
Sinto o impulso de me afastar, de dizer a mim mesma que isso não pode acontecer. Mas também há uma parte de mim que está cansada. Cansada de lutar contra o inevitável, cansada de segurar o peso sozinha.
Olho para Leonardo, seus olhos buscando os meus como se ele pudesse ver através de mim. E pela primeira vez em muito tempo, sinto algo além da dor e da culpa. Algo que eu nem sabia que ainda era capaz de sentir.
Mas antes que qualquer coisa possa acontecer, antes que eu tome uma decisão precipitada, uma enfermeira se aproxima, interrompendo o momento.
— Sra. Laura, você pode voltar ao quarto do Sr. Alex? — Ela diz com uma voz ligeiramente agitada. — Acho que ele está... reagindo.
Meu coração dispara.
— Reagindo? — Pergunto, incrédula.
— Sim, eu notei um movimento leve, quase imperceptível, mas... — Ela parece ansiosa, como se tentasse escolher as palavras com cuidado. — Acho que ele pode estar acordando.
Leonardo e eu nos entreolhamos, e de repente o ar ao nosso redor muda. A culpa, o peso do momento entre nós, tudo isso desaparece, substituído por uma onda de esperança e medo. Estou correndo de volta para o quarto antes que eu consiga pensar em qualquer coisa, minhas pernas movendo-se automaticamente.
Quando entro no quarto, paro abruptamente. Alex ainda está lá, imóvel, mas há algo diferente. Sua mão está ligeiramente contraída, e seu rosto parece mais... vivo. Mais presente.
Me aproximo devagar, quase com medo de acreditar. Sento-me ao lado dele e, hesitante, toco sua mão. Por um segundo, juro que sinto uma leve pressão de volta. Um aperto, quase imperceptível, mas o suficiente para fazer meu coração disparar.
— Alex? — Sussurro, meu rosto próximo ao dele.
Não há resposta. Mas pela primeira vez em meses, sinto que ele está tentando. E isso, por menor que seja, é tudo o que preciso agora.
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Atualizado até capítulo 25
Comments
Juliana Juh
há um resquício de esperança!
2024-09-21
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