Capítulo 9

Eu ouço. Ouço o eco dos passos pelo corredor, as palavras sussurradas ao Dr. Leonardo. Cada som, cada detalhe, fica marcado na minha mente como um eco doloroso. Não há como fugir. Não há como desligar o que está acontecendo ao meu redor. Tudo o que tenho são os meus pensamentos e os fragmentos de conversas que alcançam meus ouvidos, e agora isso está me destruindo.

Laura está se afastando de mim. Posso sentir. Não é apenas o tempo ou o cansaço, mas o peso de tudo o que eu causei. O acidente pode ter me jogado nessa cama, mas foram as minhas escolhas que a empurraram para longe. Sei disso agora, mais do que nunca.

A voz do Dr. Leonardo ainda paira na minha mente. Ele é tudo o que eu não fui para ela. E por mais que isso me deixe furioso, sei que não posso culpá-la. O que eu ofereci a Laura, afinal? Frieza, distância, palavras duras. Sempre distante, sempre preocupado com os negócios, com meu próprio sucesso. E agora, deitado aqui, impotente, percebo o quanto fui cego.

Meu corpo ainda não responde. Meus dedos, minhas pernas, nada. Apenas a lágrima que escapou, um reflexo involuntário, foi o único sinal de vida que consegui manifestar em seis meses. Não sei se ela percebeu. Não sei se isso fez alguma diferença para ela. Mas, por dentro, estou gritando. Desesperado para sair desse lugar, para poder me redimir, para poder ser um homem melhor.

Laura merece mais. Merece mais do que eu fui capaz de dar a ela.

Mas estou preso.

Os médicos falam em pequenas reações, em leves sinais de atividade cerebral. Mas ninguém sabe o que está acontecendo dentro da minha mente. Eles falam como se eu não pudesse ouvir, mas eu ouço. Ouço tudo. E o que escuto é o medo. O medo de que Laura me abandone, de que ela desista de mim. E, se isso acontecer, o que restará de mim?

Antes do acidente, eu era um homem de controle. Controlei minha vida, meus negócios, até meu casamento, como se fosse um contrato a ser cumprido. Nunca deixei as emoções me atrapalharem, porque isso me fazia vulnerável. E agora, ironicamente, estou mais vulnerável do que jamais estive. Sem controle, sem poder, sem voz. Tudo o que resta são os pensamentos, e eles me atormentam dia e noite.

Quero lutar. Preciso lutar. Mas como? Não há uma batalha física para enfrentar, nenhum obstáculo visível para derrubar. Estou lutando contra o próprio silêncio, contra a incapacidade de agir. E, enquanto isso, Laura está se distanciando.

Eu me lembro do dia do acidente. Era mais um dia comum. Estava a caminho de uma reunião importante, concentrado em negócios, como sempre. Laura havia tentado falar comigo pela manhã, mas eu a ignorei. Ela sempre tentava, e eu sempre achava que haveria outra oportunidade, outro momento para lidar com nossos problemas. Como fui idiota.

Agora, cada palavra não dita, cada gesto de carinho que não ofereci, me atormenta. Tudo o que fiz foi empurrá-la para longe, sem perceber que estava criando um abismo entre nós. E agora, deitado aqui, tudo o que quero é uma chance de voltar, de corrigir meus erros. Mas o tempo continua passando, e Laura está se aproximando de outro homem. Um homem que é tudo o que eu deveria ter sido.

Eu me sinto sufocado. A impotência é esmagadora. Tento mover meus dedos, meus braços, qualquer coisa. Mas não há resposta. O desespero é uma onda que me engole, e por um segundo, sinto que estou me afogando na minha própria mente. O silêncio é insuportável. Eu preciso acordar. Preciso fazer alguma coisa.

Por favor, Laura, não desista de mim.

O que mais me assombra são os pensamentos sobre o que ela pode estar sentindo agora. O quanto ela já sofreu por minha causa. A culpa me corrói por dentro. Eu sempre pensei que estar no controle era o mais importante, mas agora percebo que o controle que eu acreditava ter nunca foi real. No fundo, eu estava perdido, tentando proteger algo que eu nem sabia o que era.

E agora, a única coisa que me resta é o amor de Laura. A única coisa que importa.

Eu não sei se ainda tenho uma chance. Não sei se posso fazer algo a tempo. Mas, por mais desesperador que seja, algo dentro de mim começa a despertar. Uma faísca, um resquício de força, de vontade. Isso não pode ser o fim. Não posso deixá-la ir sem lutar.

Fecho minha mente ao resto do mundo e me concentro em uma única coisa: o desejo de voltar. Preciso lutar contra essa prisão. Preciso fazer meu corpo reagir, mesmo que seja um esforço titânico. O desejo de viver, de consertar tudo, começa a queimar dentro de mim. Está fraco agora, mas está lá. E eu me agarrarei a isso com tudo o que tenho.

A batalha está apenas começando.

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Comments

ele tem que acordar logo pra conversar com ela

2024-09-21

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