Capítulo 16

Laura

O silêncio que preenche o quarto é insuportável. Fico olhando para Alex, tentando encontrar as palavras certas, mas tudo que vem à mente parece vazio ou cruel. Eu quero dizer a verdade, mas tenho medo. Medo de feri-lo ainda mais, medo de me perder no meio de toda essa confusão.

— Alex... — tento mais uma vez, minha voz baixa. — Eu esperei tanto por esse momento... para ver você acordado. Mas agora... não sei o que fazer.

Ele me observa em silêncio, seus olhos transmitindo uma mistura de dor e compreensão. Sei que ele sente o peso do que estou prestes a dizer. Sabe que não será fácil ouvir.

— Esses meses... — continuo, sem coragem de encará-lo diretamente. — Eu me perdi, Alex. A dor, a incerteza, o medo... Tudo isso me consumiu de uma forma que eu não esperava. E então, Leonardo...

Eu paro. Dizer o nome de Leonardo em voz alta para Alex é como atravessar uma linha invisível que não quero cruzar. Mas preciso ser honesta.

— Ele esteve aqui... por mim. Quando tudo parecia desmoronar.

A expressão de Alex se fecha um pouco. Não há mais questionamentos em seus olhos, apenas uma aceitação amarga da realidade.

— Eu... — ele tenta falar, sua voz falhando.

— Não force — interrompo, o instinto de protegê-lo ainda intacto. — Não quero que se machuque mais.

Mas ele ignora meu pedido. Com um esforço visível, ele move os lábios lentamente, as palavras saindo fragmentadas, mas claras o suficiente para me alcançar.

— Você... ainda... ama ele?

A pergunta me pega desprevenida, e meu corpo todo tenciona. A verdade é que eu mesma não sei. O que sinto por Leonardo é confuso, uma mistura de conforto e atração, mas o que sinto por Alex... É muito mais profundo. Complexo. Algo que esteve presente por tantos anos, através de tantas dificuldades.

— Eu não sei — digo com sinceridade, minhas palavras carregando todo o peso da incerteza que venho sentindo. — O que sinto por ele... é diferente. Não é o mesmo que sinto por você, mas não posso negar que ele esteve aqui quando eu mais precisei.

Alex fecha os olhos, e por um momento, parece que estou vendo-o lutar contra uma dor que vai além da física. Ele sempre foi orgulhoso, sempre acreditou que poderia lidar com tudo sozinho. Ver essa vulnerabilidade em seu rosto é devastador.

— Você... vai... embora? — Sua voz falha novamente, mas consigo entender sua pergunta.

Eu me levanto da cadeira, meus olhos fixos nele, o coração acelerado. Nunca pensei que estaríamos aqui, nesse ponto. Tantas coisas passaram pela minha cabeça enquanto ele estava inconsciente, mas nada se compara à realidade de agora.

— Eu não sei o que fazer, Alex — admito, as lágrimas escorrendo livremente pelo meu rosto. — Parte de mim quer ficar, lutar por nós, como sempre fiz. Mas outra parte está cansada, exausta de lutar sozinha. E essa parte... essa parte pensa em seguir em frente.

Ele vira o rosto, o olhar perdido em algum ponto no teto, e sei que, para ele, essa talvez seja a maior dor de todas. Não o coma. Não os meses perdidos. Mas a ideia de que, mesmo agora, com ele acordado, eu ainda estou indecisa sobre ficar ou partir.

***

Alex

As palavras de Laura me atingem como uma lâmina afiada. Cada frase carrega consigo uma dor que não sei se sou capaz de suportar. Eu sabia que algo estava errado, mesmo antes de acordar completamente. Senti isso no ar, na maneira como as pessoas falavam ao meu redor, nas conversas que, mesmo inconsciente, eu conseguia ouvir.

Leonardo. O nome dele me atormenta. Ele não só esteve ao lado de Laura durante todo esse tempo, como também se tornou o que eu não fui capaz de ser: o apoio dela. E agora, mesmo acordado, eu percebo que talvez seja tarde demais para retomar o que tínhamos.

Eu não sou estúpido. Sei o que está acontecendo. E sei que a culpa é minha. Durante anos, priorizei meu trabalho, meu orgulho, meus próprios interesses, acreditando que Laura sempre estaria lá. Nunca imaginei que, ao me afastar, daria espaço para outro homem.

— Você... merece... ser feliz... — As palavras saem com dificuldade, mas sei que preciso dizê-las. Laura não merece ser presa a mim, a essa situação de incerteza. Se ela encontrar a felicidade com Leonardo, por mais que me doa, quem sou eu para impedir?

Ela me olha com surpresa, seus olhos cheios de lágrimas, como se não esperasse que eu fosse ceder tão facilmente. Mas a verdade é que não tenho forças para lutar. Não mais.

— Alex, não... — ela começa, mas eu a interrompo.

— Eu... falhei... com você.

Ela balança a cabeça, como se não quisesse aceitar isso. Mas é a verdade. Sempre foi. Durante tanto tempo, eu pensei que estar presente fisicamente era o suficiente, que prover segurança e estabilidade financeira era tudo o que ela precisava. Mas agora vejo que estive cego. Laura queria mais, precisava de mais. E eu não estava lá.

— Não quero que você se sinta culpado — ela diz, sua voz embargada. — Eu fiz minhas próprias escolhas. Mas o que aconteceu... foi porque, durante todo esse tempo, eu me senti sozinha, Alex.

Essa admissão me destrói. Eu sempre soube, em algum nível, que estava negligenciando o que importava de verdade. Mas ouvir isso da boca de Laura, tão diretamente, é como ter o chão arrancado debaixo dos pés.

Eu não sei o que vem a seguir. Não sei se ela vai escolher ficar ou partir. Mas, de qualquer forma, eu estou preparado para o pior. Porque, no fundo, eu sei que mereço.

***

Laura

As palavras de Alex são um soco no estômago. Ele está me dando permissão para ir, para encontrar a felicidade em outro lugar, e isso me despedaça. Parte de mim quer gritar que não, que vamos resolver isso juntos, que ainda podemos ser felizes. Mas outra parte... outra parte quer abraçar essa oportunidade de seguir em frente.

A verdade é que estou perdida. O homem que amo está bem aqui, mas as cicatrizes dos últimos meses não vão desaparecer tão facilmente. A presença de Leonardo também me assombra, como uma sombra do que poderia ser, uma nova chance.

Eu sei que preciso tomar uma decisão, mas a verdade é que não sei se sou capaz.

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