Eu estou aqui. Estou aqui! Por que ninguém me ouve?
É uma agonia sem fim. Me sinto como se estivesse gritando dentro de uma caverna, com as palavras ricocheteando de volta para mim, mas sem som. Eu ouço tudo, cada palavra, cada conversa. Sei que Laura vem me ver todos os dias, sei que ela está ao meu lado. Eu a escuto falar, sinto quando ela segura minha mão. Mas, por mais que eu tente, meu corpo não responde. Tento mover meus dedos, meus braços, qualquer coisa... mas não acontece. É como estar preso em um pesadelo do qual não consigo acordar.
Seis meses. Sei que já se passaram seis meses porque ouço os médicos falarem, ouço Laura comentar, ouço até o relógio na parede, marcando cada segundo que se arrasta como uma eternidade.
E eu estou impotente.
Minha mente, no entanto, não para. É um turbilhão. Fico preso em meus pensamentos, girando em círculos, lembrando de tudo que fiz – ou não fiz. Como cheguei até aqui? Como deixei minha vida chegar a esse ponto?
Penso muito em Laura. Nas coisas que eu deveria ter dito. Nos momentos que perdi. Sempre achei que tinha todo o tempo do mundo para lidar com isso. Achava que, por sermos casados por conveniência, por termos nos casado por causa das famílias, o resto não importava. Para mim, era simples. Eu tinha o controle da minha vida, dos meus negócios. Não precisava de mais nada.
Mas agora... agora vejo o quanto fui cego.
Laura era tudo o que eu nunca soube que precisava. E eu a empurrei para longe.
Lembro-me de como ela era quando nos conhecemos. Ela estava tão animada com o casamento, cheia de esperança, cheia de expectativas. Eu, por outro lado, via aquilo como uma transação. Algo que eu precisava fazer para cumprir com minha parte no acordo entre nossas famílias. E então, depois do casamento, tratei-a como se ela fosse uma formalidade. Um apêndice na minha vida, algo com o qual eu não precisava me preocupar.
Eu nunca a tratei como ela merecia ser tratada.
E agora... agora eu posso perdê-la.
Eu percebi isso há algumas semanas. Ouvi o médico falar com ela, ouvi o tom em sua voz. Ele se importa com ela. E, de certa forma, eu entendo. Laura é incrível. Ela é tudo o que eu nunca fui. Forte, resiliente. Mesmo agora, depois de tudo que fiz – ou melhor, depois de tudo que não fiz –, ela continua aqui. Ao meu lado. Mas, ao mesmo tempo, percebo que ela está cansada. Eu posso sentir isso em sua voz, na maneira como ela fala comigo, como ela suspira ao entrar no quarto.
Eu a estou perdendo. E não posso fazer nada para impedir.
Por que eu nunca percebi o quanto ela era importante? Por que sempre fui tão focado em mim mesmo? Tudo girava em torno dos meus negócios, do meu sucesso. Eu nunca parei para pensar no que ela sentia. Nunca parei para perguntar se ela estava feliz, se ela estava bem.
E agora, aqui estou eu. Preso, impotente, enquanto o mundo ao meu redor continua girando. Enquanto ela continua vivendo, sem mim.
Ouço passos entrando no quarto. Laura, com certeza. Há algo de reconfortante em sua presença, mesmo que eu saiba que ela está exausta. Ela murmura algo, sua voz suave como sempre, mas há um cansaço ali que eu nunca havia notado antes.
"Eu não sei mais o que fazer", ela sussurra. E eu quero gritar. Quero dizer a ela que ainda estou aqui, que estou lutando, que não desisti. Mas nada sai. Nada.
O médico entra logo depois. Sinto a mudança no ar quando ele se aproxima dela. Há algo entre eles. Sei que é inevitável. Ele está lá por ela, de uma maneira que eu nunca estive. Ele faz perguntas, tenta entender o que ela sente, enquanto eu... eu nunca fiz isso.
Eles conversam, mas as palavras parecem se misturar. Tudo o que consigo focar é no fato de que, se eu não acordar logo, vou perdê-la para ele. Ela merece alguém que a trate bem, alguém que se preocupe com ela, alguém que não a faça sentir-se como um segundo plano. E, ironicamente, isso é o que me dói mais: saber que eu falhei com ela.
Se eu pudesse voltar no tempo... Se eu tivesse outra chance... Eu faria tudo diferente. Eu diria a ela o quanto ela é importante, o quanto eu preciso dela. Eu seria o homem que ela merece.
Mas agora... agora só posso lutar. Lutar para sair dessa escuridão, lutar para voltar. Porque, se eu não lutar, sei que a perco para sempre.
As memórias começam a me inundar. Momentos, pequenos e insignificantes na época, mas que agora pesam sobre mim. O dia em que ela tentou planejar uma viagem para nós dois, algo para nos aproximar, e eu recusei, alegando que estava ocupado com o trabalho. O jantar de aniversário que ela preparou, esperando que eu chegasse em casa mais cedo, mas eu nem sequer me dei o trabalho de avisar que ficaria até tarde no escritório. Ela sempre foi tão paciente, tão compreensiva... e eu nunca a retribuí da maneira que deveria.
Eu fecho meus olhos, mesmo sabendo que eles já estão fechados. A escuridão me envolve novamente, mas desta vez, eu luto contra ela.
Eu preciso acordar. Preciso fazer isso por ela.
Por nós.
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Atualizado até capítulo 25
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