Capítulo 8

Os corredores do hospital são sempre tão frios, tão indiferentes. Enquanto caminho em direção ao meu carro, a conversa com o Dr. Leonardo ainda ecoa na minha mente. Ele sempre tenta me confortar, ser aquele porto seguro em meio ao caos, mas cada vez que ele fala, me sinto mais dividida.

A verdade é que não sei o que sinto por ele. Ou talvez eu saiba, mas tenho medo de admitir. Porque admitir isso seria o mesmo que aceitar que Alex e eu... que nós talvez não tenhamos mais conserto. Que essa espera, esses seis meses, têm sido apenas uma maneira de adiar o inevitável.

Eu entro no carro, fecho a porta e fico ali, parada por alguns minutos. O silêncio ao meu redor é quase ensurdecedor. Antes, eu costumava amar a tranquilidade, mas agora parece que a calma me sufoca, como se me obrigasse a encarar verdades que eu não estou pronta para aceitar.

Alex não era o marido perfeito. Longe disso. Ele sempre foi tão... frio. Tão distante. Quando nos casamos, eu sabia que seria um desafio, mas acreditava que o tempo mudaria as coisas. Acreditava que, se eu fosse paciente, se eu o apoiasse, ele eventualmente abriria seu coração para mim. Mas os meses passaram, e tudo que eu recebi em troca foram palavras duras, silêncios intermináveis e uma sensação crescente de vazio.

Então, veio o acidente.

Naquele primeiro momento, quando recebi a notícia, pensei que fosse perder o chão. O homem que eu amava, mesmo com todas as suas falhas, estava entre a vida e a morte. Passei noites sem dormir, rezando para que ele sobrevivesse, para que tivesse uma segunda chance. E ele teve. De certa forma, ele sobreviveu. Mas não está realmente aqui, está? Ele está preso, em algum lugar distante, onde eu não posso alcançá-lo.

Eu levo as mãos ao volante, apertando-o com força. O Dr. Leonardo disse que eu não precisava carregar isso sozinha, mas a verdade é que eu não sei se consigo dividir esse peso. Eu me sinto culpada. Culpada por me sentir atraída por ele, por desejar sua presença, seu apoio, quando deveria estar apenas esperando por Alex.

Mas quanto tempo mais posso esperar? Quanto tempo é o suficiente antes que eu possa seguir em frente sem me sentir uma traidora? Porque, no fundo, acho que já comecei a seguir em frente, mesmo que eu não tenha coragem de admitir.

Olho pelo retrovisor e vejo o hospital ao longe, suas janelas frias refletindo o final da tarde. Em algum lugar lá dentro, Alex está deitado, imóvel, preso naquele corpo que não o obedece. E eu... eu estou aqui, lutando contra a culpa, contra o cansaço. Lutando contra o desejo de desistir.

Desisto de tentar conter as lágrimas. Elas vêm, quentes e silenciosas, escorrendo pelo meu rosto sem aviso. Eu nunca imaginei que chegaríamos a esse ponto. Que eu estaria, sozinha, no meio de um estacionamento de hospital, chorando por não saber o que fazer.

Uma parte de mim quer correr de volta para o quarto de Alex, segurar sua mão e prometer que estarei aqui, que não vou desistir dele. Mas a outra parte... a outra parte está tão cansada. Tão cansada de esperar por algo que talvez nunca aconteça. Cansada de ser a única a lutar.

O Dr. Leonardo tem sido gentil. Ele me escuta, me apoia, e às vezes, isso é tudo o que eu preciso. Alguém que esteja presente, alguém que não esteja tão distante quanto Alex sempre esteve. Mas o que isso diz sobre mim? Que tipo de pessoa eu sou por considerar a ideia de estar com outro homem enquanto meu marido ainda está vivo, mesmo que em coma?

Eu suspiro, secando as lágrimas com as costas da mão. Não posso continuar assim. Preciso tomar uma decisão. Preciso escolher entre continuar esperando por Alex ou aceitar que, talvez, seja hora de seguir em frente. Mas como faço isso sem me sentir culpada? Sem sentir que estou traindo tudo o que um dia sonhei?

Fecho os olhos, tentando clarear a mente, mas só consigo pensar em Alex. No rosto dele, sempre tão sério, tão fechado. Nas poucas vezes em que o vi sorrir, aquele sorriso raro, quase esquecido. Nos momentos em que ele, por um breve segundo, parecia deixar suas defesas caírem, revelando um homem que talvez, só talvez, tivesse um pouco de ternura escondida em algum lugar.

Mas será que esses momentos foram suficientes? Será que algum dia ele poderia ter mudado, se o acidente não tivesse acontecido? E agora, será que ainda existe uma chance para nós?

O Dr. Leonardo me disse que não há problema em seguir em frente, que eu não preciso carregar esse fardo sozinha. Ele me ofereceu uma saída. Mas será que eu realmente quero seguir esse caminho? Ou estou apenas buscando uma forma de escapar da dor?

Minhas mãos ainda estão tremendo quando ligo o carro. O motor ronca suavemente, mas eu não me movo. Fico ali, encarando o volante, tentando encontrar alguma clareza no meio da confusão.

Preciso de uma resposta. Preciso saber o que fazer. E, enquanto dirijo para casa, uma parte de mim espera, desesperadamente, que Alex me dê um sinal. Algo, qualquer coisa, que me diga que ele ainda está lutando, que não desistiu. Porque, se ele desistiu... talvez eu também tenha que desistir.

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Comments

entendo que ela já sofreu, mas ela deveria esperar ele acordar e conversar com ele ,se ela quer continuar com ele ou não

2024-09-21

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