Capítulo 3

Laura

Eu não aguento mais.

Às vezes, sinto que estou à beira de desmoronar. Sentada aqui, nesse quarto frio de hospital, o som constante das máquinas e o cheiro de desinfetante são minha única companhia. A cada dia que passa, fico me perguntando por quanto tempo mais posso continuar. Por quanto tempo vou suportar esse ciclo interminável de esperar algo que talvez nunca aconteça?

Seis meses. Seis meses desde o acidente, desde que ele entrou em coma. Seis meses desde que eu perdi qualquer esperança de ter meu marido de volta.

A verdade é que ele nunca foi realmente meu. Sempre foi distante, fechado, preso em sua própria ambição e arrogância. Não éramos casados por amor, mas porque nossas famílias decidiram que era o melhor para os negócios. Para ele, foi sempre uma aliança conveniente, um contrato como qualquer outro. Mas eu... eu amava ele. Acho que ainda amo. Mesmo agora, vendo-o deitado ali, imóvel, sem nenhuma garantia de que um dia vai acordar, há algo dentro de mim que ainda o quer de volta. Só que, ao mesmo tempo, estou cansada. Cansada de lutar sozinha, cansada de viver em suspenso, esperando por alguém que talvez já tenha partido.

Lembro de quando nos casamos. Eu estava tão esperançosa, tão ingênua. Achei que, com o tempo, ele poderia me amar. Eu acreditava que, se eu fosse paciente o suficiente, ele veria algo em mim que ele não via em mais ninguém. Nos primeiros meses, tentei de tudo. Tentava conversar, criar momentos que nos aproximassem. Mas ele sempre estava ocupado, sempre com algo mais importante para fazer. No fundo, eu sabia que ele não me amava, mas continuei tentando. Porque, por algum motivo, eu via algo nele que nem mesmo ele enxergava.

E agora ele está ali, parado, inconsciente. E eu estou aqui, todos os dias, esperando por um milagre que talvez nunca venha. Tem dias em que eu nem sei mais por que continuo vindo. Talvez seja apenas a culpa. Talvez seja o amor. Ou talvez eu esteja tão acostumada com essa rotina que não consigo mais imaginar minha vida de outra forma.

O médico entra no quarto, como sempre faz, com sua expressão calma e controlada. Ele pergunta como estou, como me sinto, mas nunca tenho a resposta certa. Não sei mais como me sinto. É como se eu estivesse dormente, vivendo no automático. Converso com ele porque parece ser a única pessoa que entende o que estou passando. Ele é gentil, atencioso. Coisas que eu nunca tive com meu marido.

Já pensei nisso. Pensei em como seria fácil deixar esse quarto e seguir em frente. Seguir com minha vida, talvez até com alguém como o médico, alguém que parece genuinamente se importar comigo. Mas aí algo me impede. Um sentimento de lealdade, ou talvez esperança. Algo me prende aqui, nesse quarto, ao lado de um homem que, mesmo antes do coma, nunca realmente esteve presente na minha vida.

Eu sei que as pessoas me olham com pena. A família dele, os amigos, até mesmo a equipe do hospital. Eles me veem como a esposa dedicada que não desiste. Mas o que eles não sabem é que, por dentro, eu já desisti. Ou, pelo menos, estou perto de desistir. Há dias em que desejo que ele não acorde. Porque, se ele acordar, eu não sei o que fazer. Não sei se sou forte o suficiente para lidar com o que virá depois. Será que ele vai mudar? Será que vai ser o mesmo homem arrogante e frio que sempre foi? Ou será que, de alguma forma, esse acidente o transformou?

Eu olho para ele agora, tão quieto, tão vulnerável. Parece estranho vê-lo assim, tão diferente do homem que conheci. Ele sempre foi forte, cheio de confiança, quase inquebrável. Mas agora, ele está à mercê de máquinas, de médicos. À mercê de mim.

Minha mão, quase por reflexo, encontra a dele. Ele não aperta de volta, claro. Não há sinal de vida, nenhum movimento que me dê esperança. Mas ainda assim, eu seguro sua mão, como se fosse a última coisa que nos conecta. Uma parte de mim quer sentir algo, qualquer coisa, mas não sinto. Tudo o que sinto é cansaço.

“Eu não sei mais o que fazer,” sussurro, mais para mim mesma do que para ele. Minha voz soa fraca, quase distante. "Por quanto tempo eu posso continuar assim?"

O silêncio responde. O mesmo silêncio que me acompanha todos os dias. Tento me lembrar de quando as coisas começaram a dar errado, mas, se sou honesta comigo mesma, sei que nunca foram certas. Nunca houve um começo real para nós. Nosso casamento foi uma transação, um acordo que ele aceitou com a mesma frieza com que tratava seus negócios. Eu queria mais. Sempre quis mais. Mas ele nunca esteve disposto a dar.

Sinto uma lágrima ameaçar cair, mas engulo o choro. Não vou chorar de novo. Já chorei demais por ele, por nós. E agora, estou no limite. Seis meses. Seis meses de vazio, de espera. Eu não sei quanto mais eu posso aguentar.

Eu olho para ele uma última vez antes de me levantar. O médico está esperando do lado de fora, e sei que ele vai perguntar, de novo, como estou. E eu vou sorrir, de novo, e dizer que estou bem. Porque é isso que faço. É isso que sempre fiz.

Mas, por dentro, eu sei que não estou bem. Não estou nem perto disso.

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Comments

Juliana Juh

Juliana Juh

Laura te entendo, você se deu de mas, para alguém que bom merecia o mínimo, se voce se for, ele te entenderar.

2024-09-21

1

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