CAPÍTULO 10

...Natasha...

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O lindo André sai do meu quarto.

Quando ele fecha a porta solto um longo suspiro.

Deito-me na cama comparando a minha realidade de agora com a minha outra vida.

Eu morava num lugar horrível. Duvidoso.

Vivia ouvindo bêbados na rua brigando com alguém ou resmungando por algo. Várias vezes topei com prostitutas saindo do meu prédio, ou entrando nele.

Homens e mulheres se drogando pelos cantos tinham aos montes.

Agora estou aqui. Sem me preocupar com contas, comendo bem, sendo alvo da preocupação de um lindo homem.

A vida foi muito dura comigo, muito difícil de ser enfrentada. Não tive pai. Ele deixou minha mãe quando ela estava grávida de mim.

Ela se esforçou muito para nos manter. Trabalhava como faxineira em dois empregos. Mas sua saúde frágil não aguentou e ela pegou uma forte pneumonia e morreu.

De repente me vi sozinha, sendo tirada da minha casa e levada para um orfanato. Eu me senti jogada num canto sem valor.

Fiquei revoltada. Quando vinham os casais para adotar, eu fechava a cara. Não me sentia bem em abrir meu coração para eles. Só de pensar em substituir minha mãe por outra apertava meu peito com um forte um sentimento de culpa.

Fui burra. Deveria ter colaborado.

Deveria ter sido mansa.

E pior. Cresci no orfanato num clima ruim. Eu era odiada pelas garotas que me cercavam.

Admito. Fui culpada disso também. Eu não me abria com elas, vivia dentro de um casulo, num mundo de escuridão e dor. Não fazia questão nenhuma de ser receptiva com elas.

Até que um dia parei de ter pena de mim mesma e fiz amizade com uma garota chamada Letícia. Ela era dois anos mais velha que eu.

Uma garota muito alegre. Muito otimista e eu passei a me sentir muito bem ao lado dela. Ela conseguiu o impossível, transformar meu mundo cinzento num com outras cores.

Mas infelizmente para mim, nossa amizade durou apenas um ano. Um belo dia eu soube que uma família a tinha escolhido. Isso me entristeceu muito. Não foi fácil sorrir para ela, me mostrar contente por sua nova vida me sentindo quebrada por dentro.

Respiro fundo, controlando o choro por tudo que vivi. Aprendi cedo que, ou você se acaba em choro por causa da sua desgraça, ou tira dela uma grande lição e segue firme com otimismo que dias melhores virão.

Sorrio com a linda imagem de André, preocupado comigo, seu sorriso amigo e eu me agarro a ela com força.

Eu me senti tão bem quando ele confessou ter um sentimento de proteção por mim. É a primeira vez que alguém realmente se preocupa comigo fora do orfanato.

Um calafrio passa pelo meu corpo com aquele sentimento que tem me assolado, o medo de estar sendo enganada e no fundo ter entrado na toca de um grande lobo, que apenas está tentando ganhar minha confiança para atacar.

Não sei o que pensar sobre sua atitude. Ela não é normal!

Não para alguém como ele!

André realmente se interessou por mim por me achar diferente das garotas?

Solto o ar.

Uma coisa eu sei. Não posso me sentir dependente dele. Não posso me apegar demais a ele. Já tenho uma longa lista de perdas e rejeições nas costas.

Uma coisa é certa, eu gosto de me sentir cuidada. Talvez por me sentir tão carente de afeto.

Cada sorriso que ele endereça a mim, seu jeito lindo de ser, o jeito franco que ele expôs sua vida, tocaram profundamente meu coração. Não sei se Lola acabará com a imagem forte e protetora que tenho dele.

Espero que não!

Respiro fundo e vou até o banheiro. Preciso sair da toca. Enfrentar Lola e ouvir tudo que ela tem a me dizer.

Minutos depois no final do corredor vejo Lola em pé acenando para André. Ouço então a porta se fechar. Sinto ainda seu perfume maravilhoso pairando no ar enquanto avanço pela sala.

Lola ao ouvir meus passo gira sua cabeça para mim. Vai até o sofá e depois de se sentar me encara. Dá umas leves batidinhas nele com um sorriso. Seu gesto me lembrou o de André. Acho que ele assimilou isso dela. Ela devia ter feito muito isso quando ele era criança.

—Sente-se aqui ao meu lado, quero conversar com você. Obedeço.

Lola respira fundo.

—Quero que saiba que não tenho nada contra você.

—O senhor Nicolo me disse.

Ela me estuda por um longo momento.

—Então ele te explicou que minha diferença é com ele e não com você?

—Sim.

—Ele lhe disse o motivo?

Eu enfrento seu olhar.

—Ele me falou de sua preocupação de ele.... me seduzir. —Ele lhe disse isso? —ela se espanta.

Confirmo com um aceno de cabeça.

—Disse.

—E mesmo assim ficou?

—Eu devo dinheiro ao senhor Nicolo e estou encarando esse emprego com seriedade. Quero trabalhar para pagar a ele o que devo.

—Quanto deve a ele?

—Quatro mil dólares.... Se não for mais.

—Por que deve dinheiro a ele?

Conto-lhe o que ocorreu e a humilhação que sofri, como André me socorreu. Ela aperta os lábios.

—Então deve dinheiro a ele?

—Devo.

—Maledeto! —ela exclama. Então me encara. —Muito bem. Ser for esperta, trabalhará e pagará o que deve a ele sem se deixar envolver pelo seu magnetismo. Sei que André é um homem bonito, charmoso.

Eu que o diga! Esse homem mexeu comigo desde a primeira vez que eu o vi.

Aceno um sim para ela, ela continua:

— Por mais doces que sejam suas palavras, por mais candura que veja em seus olhos ou em suas belas ações, não desperdice seu tempo com ele, nem seus pensamentos. André não é uma pessoa confiável. Ele mudou muito.

—Ele me falou sobre sua esposa. Foi por isso que ele mudou?

—Ele se abriu com você? —ela demonstra surpresa. —Sim, ele me contou toda a sua história e como ele sofreu. Ela balança a cabeça.

—Bastardo! É pior do que pensei.

—Por que pior?

—Preste atenção Natasha—ela me encara de um jeito grave —André tem talento para arruinar corações. Não se comova com

sua história triste. Fique distante dele. Se ouvir meu conselho e fizer isso ficará bem.

Fico decepcionada com suas palavras, seus conselhos, embora esperasse que ela me dissesse isso. Lola parece uma pessoa sensata, ela não falaria isso sem ter algum embasamento.

—Tudo bem.

—Então atentará para o meu conselho?

Aceno com a cabeça para ela.

—Sim. Mas não entendo o porquê de tudo isso. O senhor Nicolo sempre me respeitou e nunca tentou nada comigo.

—Ele está ganhando sua confiança. Ele começará te fazendo se sentir especial, mas não se engane com ele. Se ceder ele ficará com você até enjoar e só. É triste o que vou te dizer, mas André se tornou um homem frio, cínico, duro e egoísta. Nos negócios e na vida sentimental. Ele é implacável, chega a ser cruel.

Eu tento não parecer muito chocada, mas do jeito que ela me contou sobre ele, sinto um espasmo de angústia.

—O que exatamente o senhor Nicolo faz?

—Ele é um investidor anjo minha cara, mas que de anjo não tem nada. Só se for o caído. Só os desavisados aceitam suas condições. O tubarão dos negócios tem engolido os peixes que confiam nele e por isso tem se fortalecido e crescido muito rápido.

—Mas ele não é culpado das pessoas quererem que ele invista. Ele deve colocar suas condições para elas.

—Ele se cerca de vários consultores meu bem que desvalorizam as empresas não passando seu valor real. E então o que você acha disso? Entendeu como sua ambição é desmedida? Isso já criou nele raízes profundas e ele dificilmente mudará.

Fico em choque. Engulo em seco.

—Ele parece ser uma pessoa tão humana.

—Ele era minha cara, mas mudou. Então não se engane com ele.

Assinto para ela com a expressão impassível, mas por dentro me sinto infeliz.

Deus! Gostaria tanto que André fosse diferente, que ele realmente tivesse algum sentimento bom por mim....

—Não vou me iludir.

—Ele te disse que eu o criei desde bebê? —Não, não disse.

—Claro que não disse...Isso só daria peso as minhas palavras. Eu o conheço como a palma de minha mão. Por isso, posso te dizer que falo com conhecimento de causa.

Eu me levanto. Não quero ouvir mais nada.

—Estou aqui para trabalhar. Já ouvi seus conselhos. O que posso fazer para ajudar?

Lola solta o ar e se levanta.

—Tudo bem. Vamos encerrar esse assunto. Agora vamos preparar nosso almoço e já deixaremos o jantar pronto.

—O senhor Nicolo disse que não dorme aqui, que recentemente se casou.

—Sim. É verdade. Tive sorte. Depois de velha me casei com um homem maravilhoso.

—Que bom—digo querendo o mesmo futuro para mim.

—Que horas você vai embora para casa?

— Eu fico até as duas da tarde.

Eu sorrio forçado, então ficarei a partir desse horário sozinha com André. Estremeço.

—E seu esposo, tem filhos?

—Tem, mas todos são casados, tem sua vida. E eu tenho André. Ele é como um filho para mim —ela diz emotiva.

Sua declaração piora muito as coisas dentro do meu coração.

Que mãe falaria mal de seu filho se não soubesse realmente quem ele é?

—Ele parece gostar muito da senhora. —Sim é verdade. Eu sei muito bem disso.

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