Capítulo 19

Marta…

Entramos na casa grande e Michelle, pede para um dos peões pegar as minhas malas que estão do lado de fora.

Eu não me envolvi na conversa dos meus chefes com a Michelle, pois não quero puxar para nenhum lado, mesmo torcendo para que Michelle vença essa guerra.

Lilian foi mais arrogante do que o normal, ela se incomodou muito com Michelle, acredito que deva ter sentido ciúmes, pois a minha amiga é maravilhosa.

Assim que eles vão embora, reencontro os meus pais. Quando os vejo entrando na sala, meu coração dispara e não controlo as lágrimas e os abraço fortemente.

— Minha filha, não imagina o quanto eu estou feliz de te ver aqui! — diz papai.

— Também estou muito feliz, meu pai! — digo o observando e acariciando seu rosto cansado.

Michelle nos deixou a sós, então nos acomodamos no sofá e lhes conto, que havia vindo a trabalho.

— Está tão linda, meu amor! — afirma mamãe.

— Nossa filha sempre foi linda, mulher!

— É modo de falar, homem! Esperei tanto pela sua chegada, minha filha!

— Por que não nos avisou que estava chegando? — indaga papai.

— Porque queria fazer uma surpresa e depois vim a trabalho, não sabia quando conseguiria vir visitá-los!

— Então logo terá que ir embora? — pergunta papai, com um semblante tristonho.

— Não sei pai, pode ser que sim e pode ser que não! Vai depender de como os negócios vão prosseguir!

— Você não vai mais embora, voltou para o seu lar e perceberá isso! Sua felicidade é aqui e se decidir lutar contra o novo recomeço que a vida está lhe dando, será infeliz para o restante de sua vida! — diz mamãe segurando a minha mão.

Suas palavras, fazem um arrepio percorrer a minha espinha.

— Credo mãe! — digo.

Ela sorri e me puxa para um abraço.

— Apenas siga o seu coração, eles nos guiam para o que é correto! — sorrio fraco.

Minha mãe acredita que ainda amo Héctor e que vou ficar na fazenda por ele.

Seguimos até a cozinha e quando entramos Helenice e uma moça estão preparando o almoço.

Fico apreensiva, com medo da reação da mãe de Héctor.

— Menina, que surpresa maravilhosa você aqui! — diz abrindo um lindo sorriso.

Ela se aproxima e me abraça forte.

Se afasta por alguns minutos e me olha de cima em baixo.

— Como está ainda mais linda e elegante, menina!

— Obrigada, Nice!

A mulher sempre me tratou muito bem e não foi diferente.

— Filha, essa daqui é a Lurdinha, trabalha aqui na fazenda! Lurdinha, essa é a minha filha Marta!

A garota me olha com desdenho, vejo em seu olhar que minha presença a incomodou muito.

Nos cumprimentamos com um aperto rápido de mãos.

— Vem filha, sente-se aqui, vou te servir um cafezinho que acabei de passar! — diz Helenice.

A mulher pega uma xícara e serve o café, o cheiro maravilhoso invade as minhas narinas.

— Como pode tratar tão bem a mulher que causou tanto mal ao seu filho, sogra! — diz a garota e meu coração erra as batidas.

… Sogra?…

— Para começo de conversa, não sou sua sogra e Martinha é como se fosse uma filha para mim! Tenho muito apreço por ela!

A mulher a ignora e me serve com a xícara com o café. A tal da Lurdinha saí da cozinha, com um semblante irritado.

Confesso que ficou um clima meio estranho depois de seu comentário.

— Não liga para essa garota, filha! Nos conte como foi a vida esse tempo que esteve fora?

Então lhes conto sobre o meu trabalho, os diferentes lugares que conheci ao longo dos anos e como conquistei meu lugar na empresa.

— Mãe! — diz uma voz grossa entrando na cozinha e estremeço toda.

Assim que o seu olhar me captura ali, diminui a velocidade de seus passos e o nosso olhar se conecta com uma forte e intensa magnitude que chega a ser palpável.

— Olha que coisa boa filho, olha quem voltou! — diz Helenice, nos tirando de nossos devaneios.

— Como vai Marta? — pergunta sério.

— Muito bem e você? — pergunto educadamente.

— Muito bem! — responde seco.

— Mi, comentou que você se formou e que é um excelente veterinário! — comento.

Ele concorda com a cabeça e nada responde.

— Mãe, estou indo à fazenda vizinha fazer um trabalho, eu volto logo!

— Mas o almoço está quase pronto, Héctor!

— Não se preocupe comigo, mãe! Eu perdi a fome! — diz olhando para mim.

Ele se retira e sua mãe pede desculpas.

— Não Helenice, Héctor está magoado e com toda a razão! Me espanta muito não ter ficado magoada comigo…

— Filha, você estava passando por um momento difícil da sua vida e ir embora foi a melhor opção para você naquele momento! E não posso te julgar por ter ido atrás dos seus sonhos! Você fez o que nenhum de nós nunca teve coragem…

Ela acaricia o meu rosto com ternura.

— Estaria mentindo se dissesse que ver o meu filho sofrendo não me revoltou, mas eu compreendi os seus motivos! Sempre te considerei como uma filha e isso nunca vai mudar!

— Eu juro que eu não queria tê-lo magoado!

— Eu sei e, no fundo, ele também sabe! Dê tempo a ele…

Assenti com a cabeça, forçando um sorriso.

... Ele já teve tantos anos!...

Não vou negar que a indiferença dele doeu mais do que pensei que doeria.

Fui com meus pais para a sua casa, que era cerca de um quilômetro de distância da casa grande.

— Espero que não se importe de ficar na nossa humilde casa, filha!

— Mãe, eu não sou assim! Eu amo tudo isso, ainda mais relembrar de todos os momentos que passei aqui com vocês e...

Algumas lágrimas rolam por meu rosto.

— Filha, eu sei que se sente culpada, mas não teve culpa! Tem coisas que acontecem, que estão fora do nosso controle e aquele era o momento, não adianta ficar remoendo isso!

Eles mudam de assunto, pois temem que eu não queira ficar ali.

Enquanto me acomodo no meu antigo quarto, eles vão trabalhar.

Sento-me em minha antiga cama e fico presa em algumas lembranças de infância.

Organizo as minhas coisas no guarda-roupa, quando encontro um vestido que ganhei de Héctor, assim que começamos a namorar. Passo as mãos suavemente pela peça de roupa e sorrio…

… O que está acontecendo comigo?…

Pego um vestido confortável em minha mala e o visto, ele molda muito bem o meu corpo.

Sigo para a casa grande e de longe avisto Héctor e Lurdinha conversando.

Vê-los juntos mexeu muito comigo, paro onde estou e fico os observando.

Ele está de costas para mim e assim que a garota percebe que estou os observando, o puxa para um beijo.

… Que abusada! Oferecida! O que está dizendo, Marta? Vocês dois não tem mais nada!

Balanço a cabeça, afastando todos os pensamentos e sigo para a casa grande.

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