Capítulo 11

Héctor…

Acordo, faço a minha higiene pessoal, tomo um banho e vou até a casa grande, tomar o café da manhã. É um costume que temos desde criança e, Michelle faz questão de estarmos todos juntos.

Entro na cozinha e cumprimento a todos.

Me acomodo na mesa, Lurdinha senta-se ao meu lado, a garota está muito quieta para o meu gosto.

Todos conversavam e percebo que minha amiga está tristonha…

— Aconteceu algo, Mi? Está tão quieta hoje!

— Estou bem, só preocupada com meu pai! — mente.

A conheço muito bem e nunca foi boa em mentir.

— Héctor, peça para um dos peões deixar o carro preparado, vou até a cidade depois do almoço!

— Quer que eu lhe acompanhe?

— Não precisa! Vou até a casa de penhor, venderei esse pingente para salvar um pouco das dívidas! — diz tocando em seu colar.

— Não tem com o que se preocupar menina, daqui a alguns dias tudo vai mudar! A felicidade está chegando e quando bater em sua porta, não fuja! Não deve se desfazer desse pingente…

— Do que está falando madrinha?

Ela nega com a cabeça.

Dona Joana tem esses mistérios…

— Mi, eu queria mesmo falar com você sobre isso…

— Vamos pegar os cavalos e no caminho conversamos!

Assenti com a cabeça, terminamos de tomar o café e seguimos para o haras.

— Héctor, não quero que se preocupe com nada, vou dar um jeito de resolver tudo!

— Se posso ajudar, não ficarei de braços cruzados!

— Tor, não se preocupe…

— Pelo menos ouve o que tenho a dizer! — exclamo e ela assenti com a cabeça. — Estou ganhando muito bem trabalhando para os fazendeiros da região! Como te conheço bem, te proponho que deixe de pagar o meu salário e o da minha mãe e use para outras coisas e quando tudo se estabilizar, pode pagar o que nos deve!

Ela respira fundo e deixa seus ombros relaxarem e diz:

— Vou aceitar, porque agora mais do que nunca precisaremos, mas prometo que vou lhes pagar tudo e se precisarem de dinheiro, não hesite em pedir!

— Aconteceu algo, Mi?

— S...

Antes que pudesse responder, somos interrompidos por um dos peões, ele diz que uma das vacas criou no meio da noite.

Subimos em nossos cavalos e fomos o mais depressa possível para o pasto em que ela estava.

Ao chegar, a vaca está lambendo o bezerro, retirando as membranas fetais, mucos e massageia o corpo da cria.

— Está tudo bem por aqui, vamos deixá-los, porque essa massagem é muito importante para o recém-nascido! Depois volto…

Fomos para o curral e assim que terminamos de tirar o leite, volto para ver como a vaca e o seu filhote estão.

Examino os dois e como estão bem, mando os peões os levarem para o curral e farei o meu trabalho no haras.

Estava distraído, quando Lurdinha entra no curral e me empurra para uma das baias.

— Ficou maluca, Lurdinha?

Ela toma meus lábios num beijo feroz e acabo correspondendo, mas logo a empurro.

— Chega! Aqui não! — digo segurando seus braços a afastando.

— Estou cansada de ser rejeitada por você e me usar só quando quer!

— Nunca te dei esperanças, já fui claro em dizer que não quero me envolver com ninguém! Nunca te prometi nada!

— Você é um idiota, isso sim! Ainda tem esperanças de voltar com aquela lá!

— Do que está falando? — indago, saindo da baia.

— Da filha da Joana! Sei que foi ela quem te magoou, ela quem deixou o seu coração em frangalhos!

Só de relembrar disso, fico cego de ódio.

— Ela não te merece, eu, sim, sou mulher para você!

— CHEGA! — grito.

— Sabe por que a Michelle estava triste hoje de manhã? Porque essa mulherzinha que você amou tanto, está noiva de um milionário e ele quer comprar as terras de todos os fazendeiros da região, para construir um… um hotel, eu acho!

Meu coração erra as batidas…

— Não pode ser! Isso é mentira!

— Eu ouvi toda a conversa! Seremos expulsos daqui pela sua amadinha… — diz com sarcasmo.

Nem deixo que ela termine, subo em meu cavalo e galopo em alta velocidade pelos campos, indo em direção à cachoeira.

Meus cabelos e as crinas do cavalo, esvoaçam com o vento enquanto galopo e uma poeira vai se formando logo atrás de nós.

Ao chegar no lugar, o cavalo mal para e pulo dele…

Não sei explicar o que estava sentindo, mas um nó se formou em minha garganta e estava me sentindo sufocado.

Desfiro chutes e socos numa das árvores.

Prometi a mim mesmo que nunca mais iria chorar por essa mulher, mas saber que ela vai se casar, fez um misto de sentimentos ruins invadirem o meu peito.

Sento-me na beira da cachoeira e respiro fundo, na intenção de afastar todos os pensamentos.

Assim que consigo me acalmar, terminei as minhas tarefas, fui para a casa grande almoçar.

Fui um pouco mais tarde, pois assim almoçaria sozinho.

Assim que entro na cozinha, minha mãe vem ao meu encontro.

— Filho onde estava?

— Trabalhando, mãe!

— Vem, guardei a sua comida! Sente-se já esquentarei!

Coloco meu chapéu sobre uma das cadeiras e me sento ao lado.

Assim que ela me serve, faço a minha refeição em silêncio, sentindo a boca amargar, recordando das palavras de Lurdinha.

— O que está te deixando encucado, filho? Não adianta mentir, te conheço muito bem!

— Nada não, mãe! Só umas coisas que a Lurdinha me falou aí…

— Fica longe dessa moça, filho! Eu não gosto dela…

— Lurdinha é uma boa moça, mãe!

— Eu não vou com o jeito dessa menina, ela nunca olha nos olhos da gente e o jeito que chegou aqui…

— Ela não tem ninguém nessa vida, só isso!

— Não digo nada, porque não tenho nada com isso, mas para mim essa garota cheira a problema! E problema dos grandes!

— Acredito que isso seja ciúmes do seu filho!

— Ciúmes nada! Quero te ver feliz filho e essa mulher não é para você!

— Só estou curtindo, mãe! Já disse que eu não quero nada sério com ninguém! E chega desse assunto dona Helenice!

Ela dá de ombros e fico em silêncio.

Durante a tarde, farei o meu trabalho de veterinário, nas fazendas vizinhas, para afastar esses malditos pensamentos ruins.

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