Capítulo 2

Michelle…

Como todos os dias, acordo as quatro da manhã, faço a minha higiene pessoal, me troco e sigo para a cozinha.

Tem dias em que acordo com uma angustia, e hoje é um desses dias.

Logo que saio do meu quarto, sinto o cheiro delicioso de café.

Entro na cozinha, Helenice, Joana e Lurdinha preparam o café da manhã, a mesa já está posta e a garota terminava de passar o café.

— Bom dia!

— Bom dia, minha filha! Sente-se que já levo o café! — diz Joana.

Deixo um beijo na testa de Helenice e outra em Joana. Tenho as duas como mães, pois sempre estiveram ao meu lado.

— O cheiro está maravilhoso!

Helenice, é mãe do Héctor e Joana a mãe de Marta.

Joana é minha madrinha, ela e minha mãe, eram melhores amigas desde a infância. E quando Helenice veio morar aqui, estabeleceram uma bela amizade.

Como todos os dias, tomo o café na companhia delas conversando, Héctor e senhor Sebastião entram na cozinha.

— Bom dia! — dizem eles, retirando o chapéu.

— Por favor, entrem para tomar o café, pois o dia hoje será de muito trabalho!

Eles se acomodam na mesa e tomamos o café conversando assuntos aleatórios.

Toda vez que Lurdinha vê meu amigo, ela fica se oferecendo e não se importa se tem ou não pessoas por perto.

Logo que terminamos o café, vou com senhor e Héctor lidar com os gados.

Saímos cavalgando em nossos cavalos para começar o trabalho.

Após a fazenda estar passando por momentos tão difíceis, mandei quase todos os funcionários embora. Mantive apenas dois peões, Héctor, sua mãe, Lurdinha, e os pais de Marta.

Eu trabalho igual a eles, para não termos que contratar outros funcionários e assim temos levado. O dinheiro que ganho com as colheitas, leite, gado, criações, dá apenas para pagar o salário deles e o restante uso para investir aqui mesmo, afinal os campos precisam ser bem tratados para produzir e as criações também.

Não sou de fazer corpo mole, comigo é trabalho duro e não tenho frescuras. Gosto, sim, de me cuidar, mas não deixo isso me impedir de colocar a mão na massa.

Sebastião e os peões, foram tirar o leite, enquanto eu e Héctor fomos passar o gado para outro pasto. Hoje os peões começam os reparos nas cercas, tive que usar o dinheiro da pensão para comprar arame farpado e mourões. As cercas estão muito velhas e precisam de conserto urgentemente.

— E aí, meu amigo, quando saí o casório? — pergunto, divertida.

— O seu? Por que eu não me caso! Sabe bem disso!

— Casamento, nunca mais! Tenho os meus filhos, o qual são as pessoas mais importantes da minha vida e quero apenas cuidar deles!

— Minha mãe comentou que seu cunhado quer casar com você!

— Sim, ele veio com essa proposta besta, dizendo que isso vai favorecer os dois, mas eu não me caso! Ainda mais sem amor e com um homem meticuloso como aquele! Solano não faz nada, de graça! Deve querer algo em troca!

— Sabemos que ele é apaixonado por você, mas preferiu o irmão dele!

— Jamais me casaria com Solano, ele sempre pensou em si próprio, ele combina muito com a Abby!

Ele gargalha.

Terminamos de passar os gados para o pasto e fomos cuidar dos cavalos.

De repente, Lurdinha chega assustada correndo e sem fôlego.

— O que foi, Lurdinha? — indago preocupada.

Sempre temo que possa ter acontecido algo com meu pai.

— Fala logo, mulher! — exclama Héctor.

— A polícia acabou de passar por aqui, mandou ficarmos em alerta, porque roubaram a fazenda vizinha e ainda mataram os pobres senhores donos de lá!

Nos olhamos assustados.

— Estão chegando cada vez mais perto da fazenda, estou com medo! — diz ela abraçando Héctor e eu sorrio de canto.

— Se acalme, mulher! — diz ele e afastando.

— Se vierem até aqui, eu meto bala neles! — digo, arrumando as rédeas do meu cavalo. — Temos armas, eles que ousem entrar na nossa propriedade, que não penso duas vezes para acabar com esses bandidinhos!

Ultimamente, as fazendas têm sido alvo de frequentes assaltos, quando não matam, torturam os pobres que acabam vendendo a fazenda e indo embora daqui.

Deixo meu amigo com Lurdinha e vou dar uma volta pela propriedade.

Paro num lugar mais alto e admiro toda a minha propriedade, fecho os olhos e respiro fundo sentindo a brisa tocar meu rosto e o cheiro do campo invadir as minhas narinas.

— Vou lutar até o meu último suspiro por essa fazenda!

Ao voltar para a casa grande, meus filhos estão saindo pela porta principal.

Mariah, vem correndo ao meu encontro.

Desço do cavalo e a abraço fortemente.

— Bom dia, minha filha amada!

Yuri se aproxima, acaricio o seu rosto, em seguida o puxo para um abraço.

Meus filhos são o que tenho de mais precioso nessa vida, Mariah é uma menina amorosa, extrovertida e comunicativa, já Yuri, é um adolescente amoroso, mas fechado e introvertido.

Não é que faça diferença entre eles, meu amor é igual pelos dois, mas sinto que Yuri precisa mais de mim, por ser tão fechado.

Héctor, já tentou se aproximar e ser a presença masculina que ele precisa, mas meu filho não se abre com ninguém. Ajuda com o trabalho na fazenda e conversa apenas o necessário com todos.

… Sinto que falhei como mãe!…

Meu pai saí da casa discutindo com tia Helenice.

— Eu já disse que não quero comer!

— Beba pelo menos o café, Francisco!

— Já disse que não quero, sua velha encrenqueira!

— Seu velho ranzinza! — retruca.

Acabamos rindo de toda a situação.

— Pode deixar que eu cuido dele, Helenice!

Ela volta para dentro da casa.

— Como o senhor está, papai? — pergunto, após beijar a sua testa.

— Muito bem! Hoje eu e minha Lindalva vamos passear pelo campo e aquela velha encrenqueira não queria me deixar sair!

Lindalva era a minha mãe e o grande amor de sua vida.

— Primeiro tem que tomar um café, papai! Lembra que sempre dizia que saco vazio não para em pé?

— Está bem, mas tem que ser rápido! — exclama irritado.

Mariah, entra de braços dados com seu avô e eu vou logo atrás com Yuri.

Hoje o dia será difícil.

(Lurdinha, 25 anos)

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