Era tudo mentira!

Capítulo Dezessete

Maya

— Boa Tarde, você é a Maya Belmonte Buarque? — Um homem aparece no corredor.

Me levanto e confirmo, ele me pede para acompanhá-lo, e fala para a Elo e o Dennis entrarem juntos.

Ela está de mãos dadas comigo, e nós duas estamos tremendo. Quando entro na sala, tem seis pessoas, duas parecem ser policiais, dois são médicos com certeza e tem duas mulheres sentadas no canto com um notebook na mão.

No fundo tem algumas cadeiras e no meio uma cadeira sozinha.

— Boa Tarde, Maya, pode se sentar no meio da sala. — Ele aponta e sento. — Por favor coloquem uma cadeira de cada lado dela, para os acompanhantes. — Ele fala, e sinto um alívio, não queria ficar sozinha.

Dennis e Elo sentam cada um de um lado meu, eles pegam minha mão e seguram com carinho, demonstrando que estão ali para me apoiar.

— Bom, Maya, nossa conversa será gravada, por isso gostaria que você falasse em voz alta seu nome completo e diga que concorda com a gravação. — Ele diz e aponta para um gravador.

— Meu nome é Maya Belmonte Buarque, e eu concordo que esta conversa seja gravada. — Digo em voz alta.

— Ótimo, obrigada Maya, sei que não é fácil estar aqui hoje, você deve estar cheia de perguntas, e vamos esclarecer tudo para você. — Ele fala de forma amigável. — Bom Maya, hoje você está nesta sala, por ser uma das pacientes do Doutor Roberto Marcelo de Souza…

Ele fala tudo sobre os casos e eu ouço com atenção. — Agora Maya, vamos falar sobre o seu caso em específico, peço que se quiser parar, fale conosco, não vamos te forçar a nada, tudo bem?

— Sim senhor. — digo e sinto minha voz trêmula.

Aperto com força a mão do Dennis e da Elo e fecho meus olhos. Sinto Elo acariciar minha mão, e noto que está nervosa também. Meu estômago está revirando, mordo minha boca com força, a ansiedade está me matando.

— No dia cinco do mês sete de dois mil e vinte quatro, a paciente Maya Belmonte Buarque, foi a primeira vez a uma consulta com o Dr. Souza, no dia a paciente se queixou de dores fortes na região do útero, tonturas, enjoos, e dores fortes de cabeça. — Ele pára, e ouço o barulho da página virar. — Exames foram feitos no dia, e mostraram que a paciente estava grávida de três meses — Nessa hora abri minha boca surpresa, começo a tremer mais ainda, mas tento manter a calma, não posso passar mal, tenho que ouvir tudo. — Tudo bem Maya? Se quiser, paramos.

— s…sim… — digo nervosa. — Pode…continuar.

— O diagnóstico de gravidez não foi informado à paciente. Após esta consulta, foi marcado para que ela comparecesse ao consultório novamente no dia Nove do mês sete de dois mil e vinte e quatro. — Ouço a página ser virada novamente. — Neste dia em específico, a paciente foi diagnosticada com Câncer de colo de útero. — Ele faz uma pausa e meu coração acelera. — Este diagnóstico foi dado de maneira falsa. — começo a chorar.

Fui enganada!!!

Solto a mão dos dois e cubro meu rosto. Sinto Elo me abraçar e tento respirar. Eles me trazem um pouco de água e tento me recompor.

— Maya, podemos continuar? — O doutor pergunta.

— Po…podemos. — Digo em meio às lágrimas.

— O diagnóstico dado de maneira falsa, foi feito para que a paciente fosse submetida a sessões de quimioterapia. Pelas anotações do Dr. Souza, o foco dele era na resistência… — Ele pigarreia e eu olho para ele. O mesmo afrouxa a gravata e me olha por alguns segundos e volta a atenção ao papel. — na resistência do feto à quimioterapia. — Sinto meu estômago revirar.

Olho para frente e vejo uma lixeira e sem pensar, vômito dentro dela. Elo e Dennis me ajudam e não consigo nem levantar, minha cabeça já estava doendo, e a vontade de vomitar estava maior. Como assim o foco era meu feto ? Ele fez experiência com meu bebê, com o bebê que nem sabia da existência, por deus, por que isso?

Levo alguns minutos para me recompor e logo estou sentada de novo na cadeira, minha cabeça está deitada no ombro de elo e ela está fazendo carinho, enquanto chora baixinho.

Eles pedem para continuar e eu dou permissão.

— Depois de dois meses de quimioterapia, a paciente teve um aborto. Exatamente no dia doze do mês onze de dois mil e vinte quatro a paciente foi submetida a uma cirurgia de Histerectomia total. — Novamente a página vira. — A paciente foi levada até o centro cirúrgico, mas nenhuma Histerectomia total foi realizada. — mais uma vez eu estremeço, meu coração está tão acelerado, eu não consigo nem respirar direito, mas quero ouvir tudo, preciso ouvir tudo. — No dia foi realizado a retirada do feto, e uma Laqueadura Tubária, procedimento envolve o corte ou selamento das trompas de Falópio, para que a paciente não engravidasse mais, além destes dois procedimentos, também foi colocado um diu para a tentativa de não haver mais sangramento.

Ele pára e eu peço mais água, respiro fundo e fecho meus olhos. Não tive câncer, estava grávida, aquele desgraçado usou meu bebê como experimento, ele fez um procedimento que tirou minhas chances de ter mais filhos. Por Deus, por que isso? O'Que eu fiz para merecer isso?

Ele voltou a falar e descobri que até minha ginecologista estava envolvida, os remédios que ela mandava eu tomar, além de estabilizar meus hormônios cortavam totalmente a minha menstruação, por isso, eu nunca mais sangrei e não corria o risco de descobrir algo.

Sempre fui certa com remédios e médicos, depois que tive esse diagnóstico, eu fiz tudo sempre à risca, para que eu não passasse por isso novamente. Mas era tudo mentira… tudo.

— Maya, foram feitos exames em você, para saber como seu corpo está, e se você teve algum problema durante os anos, pelo uso de remédios. — Ele fala. — Posso ler os resultados? — Ele pergunta.

Não aguento mais, eu tô quase desmaiando, minha pressão tá muito baixa, não consigo parar de chorar.

— Po…pode. — Respiro fundo.

— Maya, os exames feitos hoje mostraram que apesar dos medicamentos, você está saudável, além disso, feito um exame detalhado, descobrimos que sua laqueadura de forma natural foi revertida, isso raramente acontece. — Olho para ele.

— eu…eu posso…posso engravidar? — Pergunto.

Ele abre um sorriso e me olha com carinho — Não só pode Maya, como você já está grávida, de sete meses…

Não ouvi mais nada, nessa hora tudo começou a girar e apenas apaguei.

…

Sabe quando você não entende o real sentido da vida? Eu estou agora, pensando sobre isso, não entendo porque às vezes precisamos parar por tantas coisas loucas, e porque algumas pessoas sofrem muito e outras não.

Me casei com o homem que eu acreditei ser o amor da minha vida, estava grávida do John e totalmente iludida. Ele me deu tudo, cuidou de mim no começo e quando John nasceu, se mostrou ser o melhor pai do mundo. Dois anos depois começou a voltar tarde do trabalho, as viagens longas começaram. Eu boba, achava que aquilo tudo era normal, até que um dia resolvi passar no escritório dele sem avisar, e peguei ele comendo a secretária. Voltei para casa desolada e quando ele chegou, fui pedir o divórcio e pela primeira vez no casamento apanhei. Depois foram três longos anos, sendo ameaçada e apanhando, quando juntei provas e consegui enfim chamar a polícia e sair daquela casa, três meses depois descobri que tinha câncer. Na verdade, nem isso era, eu estava grávida, e nem sabia, perdi meu bebê, e nem tive a chance de saber da existência dele.

Passei por tanta coisa naquele ano, tive vontade de morrer diversas vezes, mas fui forte pelo John. Pensar que tudo foi uma mentira, pensar que nada daquilo que eu passei foi necessário, doi, doi tanto que parece que minha alma está sendo rasgada ao meio.

Porque tudo isso? Porque tive que passar por todas essas coisas ? Pra que toda essa dor sem sentido?

Acabei de descobrir que tô grávida, que de forma rara, a laqueadura que nem sabia que eu tinha feito, se reverteu de forma natural, mas não consigo me sentir completamente feliz.

Eu quebrei o coração do único homem que eu amei, e junto quebrei o meu, tudo por causa de uma mentira que implantaram na minha cabeça. No dia que eu me afastei dele, eu já estava grávida e nem imaginava, no dia que eu destruí nosso amor, eu já carregava nosso filho e nenhum de nós sabíamos.

Porque?

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