A confisão

Eu entrei na casa de Pierre com uma sacola cheia de lanches e algumas garrafas de suco. O som da televisão estava baixo, mas era alto o suficiente para eu identificar que ele estava assistindo a uma maratona de alguma série de super-heróis. Ele estava no sofá, com o braço engessado apoiado em várias almofadas. Quando me viu entrar, ele sorriu.

- Você trouxe comida, Emy? Que amiga maravilhosa! Por um segundo, achei que eu teria que sobreviver à base de salgadinhos até que meu braço melhorasse. Ele fez uma careta de dor ao tentar ajeitar a posição do braço.

Coloquei a sacola na mesa de centro e fui sentar ao lado dele.

- Salgadinhos? Pierre, estamos tentando te curar, não te mandar para a emergência por intoxicação alimentar. Eu respondo com ironia.

Peguei uma das garrafas de suco e entreguei a ele, enquanto eu mesma pegava um sanduíche.

Ele pegou a garrafa com a mão boa e fez um brinde comigo, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

- Ao melhor amigo do mundo, que sobreviveu a um ataque de raiva e ganhou um gesso bacana no processo! Ele diz rindo e eu sorri.

Mas o meu rosto demonstrou que estou meio sem graça. Pierre percebeu na hora.

- O que houve, Emy? Não está se sentindo feliz por ter um herói em sua equipe? Ou será que está com inveja do meu novo acessório? Ele diz em tom de brincadeira tentando quebrar a tensão.

Suspirei e dei uma mordida no sanduíche.

- Não é isso. Só... algumas preocupações com o futuro da empresa. Henrique teve uma atitude estranha. Eu disse tentando não demonstrar a frustração, mas Pierre me conhecia bem demais para não perceber.

- Ah, Henrique! Ele é bem confiante e decidido. Pierre diz, tomando um gole do suco.

- O que ele fez agora? Pediu para você mudar a cor do logo da empresa para laranja fluorescente? Ele diz com humor.

- Antes fosse isso. Respondi, revirando os olhos.

- O que foi então? Ele pergunta.

- Bom ele...é...ele me beijou. Eu digo tentando encontrar palavras.

- Ele o quê? Ha Ha Ha. Nãooooo acredito! Ele diz gargalhando.

Pierre engasgou com o suco e começou a tossir, provavelmente por não perder a oportunidade de me irritar.

- Henrique, o cara das ideias brilhantes, que adora te contradizer? Ele te beijou. Isso é novidade. Mas e você o que fez? Ele pergunta.

- Pi eu não sei dizer o porque mas, eu retribui o beijo. Eu digo pensativa.

- Que babado...nãããooooo pode ser verdade! A coração de aço, a mulher que faz tudo que quer...concordou e beijou um empregado??? Ha Ha Ha. Ele ri alto.

- Mas me conta como foi isso? O que estavam falando? Como chegou a isso? Ele pergunta curioso e cheio de empolgação.

- Estavamos discutindo e ele me chamou de mal amada, eu perdi a papaciência lhe dei um tapa no rosto.

- Nãããoooo!!!!! Pi grita.

- Eu perdi tudo isso. E ele.

- A discussão continuou, quando eu fui bater novamente, ele segurou o meu pulso e puxou e beijou.

- E o clima depois do beijo? Ele questiona.

- Simplesmente começamos a falar sobre o que fariamos com o Sr. Pedro. Eu digo.

- Caramba! Vocês são esquisitos. Ele diz.

- O pior nem foi isso. Quando ele ia embora eu pedi que não contasse a ninguém o que tinha acontecido, porque não significou nada. E ele disse que não tinha porque contar. Pois só queria me fazer calar a boca. Que ele não tem interesse em mim

- Bem... é um jeito diferente de encerrar uma discussão, sem dúvida. Mas parece que deu certo. Pierre diz.

- Eu só não entendi, do nada ele me beija e depois me despreza dizendo que não quer nada comigo. Quem faz isso?"

Pierre limpou a garganta e sorriu, ainda tentando recuperar o fôlego.

- Bom, talvez ele esteja um pouco confuso. Ou talvez ele tenha um senso de humor bem torto. Mas, sério, quem faz isso? Esse Henrique parece um personagem de uma comédia romântica ruim. Ele diz.

Eu ri, mas era uma risada de frustração.

- Sim, exatamente. Eu não entendo. Ele passa semanas me provocando, me contradizendo, fazendo tudo parecer um jogo, e então ele me beija e diz que era para me calar.

Pierre deu de ombros com o braço bom.

- Talvez ele só não saiba o que quer. Ou talvez ele só esteja tentando ver até onde pode ir. Você é uma mulher poderosa, Emy. Não é todo mundo que consegue lidar com isso. Pierre diz.

Eu olhei para Pierre, pensando nas palavras dele. Talvez ele estivesse certo. Talvez Henrique estivesse apenas tentando entender seus próprios sentimentos. Ou talvez ele fosse apenas um idiota confuso. Mas, de qualquer forma, eu não tinha paciência para isso.

- Bem, seja qual for o problema dele, não tenho tempo para lidar com dramas desse tipo. Eu disse, tentando soar confiante.

- Tenho uma empresa para dirigir e um braço engessado para cuidar. Eu digo e Pierre sorri.

- Obrigado, Emy. Sempre posso contar com você para me lembrar que o mundo tem problemas maiores do que eu ser um herói de braço quebrado. Ha Ha Ha. Ele diz rindo alto.

Ele é um bom amigo. O tipo de amigo que fazia piadas para te animar mesmo quando estava se recuperando de um machucado. E, no fim, isso era o que importava. Eu tinha pessoas ao meu redor que me apoiavam.

- Emy eu odeio ficar em casa. Me sinto um inútil..Ele diz.

- Pierre só fazem algumas horas que você está aqui. Aproveite e descanse. Eu digo.

- Ah sem essa! Vou descansar bastante quando eu for velho. Eu quero trabalhar. Ele diz.

- Eu não posso permitir.Se alguém denunciar ou pegar você de braço quebrado trabalhando. Eu estou ferrada. É crime. Eu digo.

-.Eu sei. Mas eu posso trabalhar online, de casa. Controlando a sua agenda e atendendo algumas ligações. O que acha? Por favor, me diz que sim?

- Você sabe que não é o ideal. Mas vou concordar. Mas não trabalhe muito, resolva apenas o que for urgência. Combinado? Eu pergunto.

- Combinadissimo chefinha. Ele diz.

- Preciso ir para casa. Se precisar de algo me liga. Eu digo, beijo a sua testa e saio.

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