12° Capítulo

Mesmo estando feliz por estar finalmente trabalhando ao lado da minha mãe, não consigo me concentrar em absolutamente nada, pois os pensamentos invadem a minha cabeça como um enxame de abelhas.

Penso em Henry e como pude me encantar por ele em tão pouco tempo. Talvez me permitir viver esse amor não seja uma boa ideia, até porque isso pode interferir no meu plano e talvez mudar absolutamente tudo.

Por isso, depois de muito pensar, tomei a decisão de manter esses sentimentos trancafiados em meu coração, sem chave.

Fujo dos meus pensamentos quando uma mulher se aproxima de mim.

— Oi, desculpe se a interrompi. — Ela diz, se mantendo parada ao lado da minha mesa com um sorriso no rosto.

— Oi! Não se preocupe com isso. — Me levanto, revidando o sorriso.

Seus cabelos são longos e castanhos. O seu vestido vermelho colado ao corpo valoriza cada detalhe corporal, e os seus olhos açucarados que mostram uma delicadeza em si. Ela parece realmente ser uma mulher simpática e elegante.

Emma

— A dona Berenice me pediu para te ajudar, caso você precise.

— Ah sim. Obrigada! Eu vou precisar mesmo de uma mãozinha. Ela me explicou tudo direitinho, mas eu sou muito desajeitada com esse tipo de coisa. — Juntas, rimos do que eu acabei de dizer.

— E a propósito, chamo-me Emma, prazer!— Ela estica seu braço até mim, me cumprimentando.

— Prazer em conhecê-la, Emma! Me chamo...— Ela me interrompe, dando continuidade às minhas palavras.

— Marjorie Del Rey. A dona Berenice já me falou de você.

Começamos a conversar sobre minhas funções e ela me ajuda com algumas coisas que ainda não consigo fazer sozinha, mas logo somos interrompidas por Aurora, que se aproxima de nós, deixando seu veneno escorrer pela boca.

— Não sei onde a madrinha estava com a cabeça quando decidiu contratar uma mosca morta. Você não sabe nem sequer mexer em um computador, minha filha? — Ela diz enquanto eu e Emma nos mantivemos concertadas no que estávamos fazendo.

Após tanto insistir em nos incomodar, Aurora finalmente se retirou, seguindo para o seu escritório. Eu me mantive calada, mas se não estivesse no local de trabalho, eu ia arrancar os cabelos dessa cobra metida.

— Não liga não, Marjorie. A Aurora é assim com todo mundo que não é da mesma classe social dela. Na verdade, ela se acha rica, mas os pais estão falidos. — Ouvia atentamente cada palavra que Emma dizia, mas sem tirar os olhos do computador.

— Uhm. Ela pode ser o que ela quiser, desde que se mantenha longe de mim.

(...)

As horas se passam e finalmente vejo a Editora vazia, ficando apenas eu, Minha mãe e a cobra.

Já do lado de fora do prédio, ouço meu telefone tocar e o atendo rapidamente, ouvindo a voz da pessoa que eu menos queria ouvir naquele momento.

— Precisamos conversar, Marjorie.  Por favor! Eu preciso esclarecer as coisas, você tem que me ouvir. — Me mantive calada, tentando pensar em uma resposta para o que estava a pensar. Eu já sabia o que tinha que fazer, mas não quero machucar os sentimentos de Henry. Eu estou realmente apaixonada por ele, mas nesse momento, me aproximar da minha mãe é o meu objetivo.

— Eu também acho que precisamos conversar, Henry. Olha, vamos marcar para nos encontrarmos em algum lugar, porque por telefone não vai dar.

Encerramos a conversa por telefone depois dele marcar de me encontrar no lugar que está entre os lugares mais românticos, na minha opinião. A praia, que aliás, deve estar linda com o brilho da lua que clareia a noite.

(...)

Após servir uma das mesas, Alessandro foge da realidade ao ver Miguel entrando no restaurante, guiando os olhos em sua direção e lhe mostrando um lindo sorriso antes de se sentar em uma mesa no canto da parede, afastada das outras.

— E o senhor? O que irá pedir?— Alessandro se aproxima da mesa, sem tirar o sorriso do rosto.

— O que você me indica, garçom?— Com a mesma feição, Miguel perguntou, sem tirar os olhos de Alessandro.

Após fazer o seu pedido, Miguel e Alessandro começam a conversar de forma discreta.

— Eu... — Ambos diziam ao mesmo tempo, mas se calam ao notar as semelhanças nas palavras que saiam de suas bocas.

— Você primeiro. — Alessandro diz.

— Alessandro, depois que você me salvou e me levou para casa, eu... — Ele parou por alguns segundos, indo logo ao ponto do assunto. — Eu não consigo parar de pensar em você. Eu não sou de demostrar meus sentimentos assim, sabe? Sou bem fechado, mas com você... Em apenas uma noite você conseguiu mudar a minha cabeça de uma forma inexplicável.

— Eu não consigo tirar você dos meus pensamentos.  Assim como você não conseguiu se esquecer de mim, eu também não conseguir me esquecer de você. — Eles se declaravam, palavras escapavam de seus lábios automaticamente, revelando os sentimentos que ambos estavam descobrindo sentir um pelo outro.

Eu nunca me imaginei me declarando para alguém dessa forma. Lembro que o meu último relacionamento foi por água a baixo porque ele deu ouvidos a família e tomou a decisão de não continuar. Depois daquilo passei a temer os meus sentimentos e me permitir amar alguém novamente.

Quando eu me assumi a minha bissexualidade para a Marina, ela já veio logo me perguntado sobre meus namorados e namoradas. Só a Marina mesmo.

Miguel parece ser o jovem tão delicado, tão sensível e doce, isso me encantou nele. Agora eu estou aqui, sentado ao seu lado, revelando os meus sentimentos.

Eu nunca acreditei nessa coisa de amor a primeira vista. Mas, com ele, eu passei a acreditar. Amor a primeira vista existe. Agora só resta descobrir se é um sentimento recíproco.

(...)

Ele estava lá, sentado na areia, de costas para mim, mantendo o olhar perdido no horizonte do mar. Sua camisa ao seu lado, enquanto seu corpo semi-nu absorvia o ar fresco da noite.

— Henry? — Me aproximei e ele se levantou rapidamente, me olhando dos pés a cabeça, notando o meu vestido branco florido e meus pés descalços, já que eu havia acabado de tirar os chinelos. Meus cabelos sendo levados contra o vento e meus braços cruzados, abraçados um ao outro.

— Que bom que você veio! — Henry se aproximou, me abraçando e tentando me beijar, mas me desvio e fujo de seu abraço.

— Eu não vim aqui para isso, Henry. — Eu tenho certeza que o que  eu estou prestes a dizer irá machucar os sentimos de ambos, mas também sei que essa é a melhor decisão. Sei que quando eu fizer isso, talvez eu vá  perde-lo para sempre, mas não posso arriscar.

— Henry, eu... — Ergo a minha cabeça e engulo minhas lágrimas, me mantendo firme e decidida. — Eu não te amo, Henrique. Eu não te amo e nem vou te amar. Eu quero que você esqueça do que aconteceu, assim como EU esqueci.

Aquelas palavras saiam da minha boca como uma tortura. As lágrimas escorriam dos olhos de Henry, que não fazia questão de esconde-las. Me mantive forte, segurei minhas lágrimas e meu coração se partiu ao meio.

— Agora que eu já disse tudo que tinha para dizer, preciso ir. — Virei de costas e me permitir finalmente chorar. Meus passos são cessados quando a voz de Henry invadiu os meus ouvidos.

— Eu não acredito em você, Marjorie. Você me ama e eu sei disso. Aquele beijo foi verdadeiro, um beijo de puro, o mais puro amor. Mas, já que você prefere se deixar enganar, ótimo! Eu te amo, mas não vou deixar esse sentimento me dominar. Eu vou continuar vivendo, até porque, vivi todos esses anos sem você, por que não iria viver agora, não é mesmo?

Henry encerrou as suas palavras se retirando da praia, e eu me mantive lá, chorando, mas consciente do que  havia acabado de fazer. Eu espero que ele possa, assim como eu vou fazer, seguir sua vida.

Agora que  estou trabalhando na editora, não preciso me preocupar em encontrá-lo, mas, não posso negar que iria adorar vê-lo várias e várias vezes.

Agora Henry Almeida é apenas um conhecido para mim, um conhecido que passou pela minha vida.

Um conhecido que, com um único beijo, conseguiu se tornar dono do meu coração.

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