6° Capítulo

                  

Meu coração acelerou, como se fosse pular para fora do peito naquele instante. Teodoro havia me chamado para conversar no escritório dele. Acredito que seja sobre o meu trabalho durante esses dias. Espero que ele não esteja insatisfeito.

Eu estou fazendo um ótimo trabalho, até os trabalhos que não são meus.

— Bom dia, senhor Teodoro! — Me mantenho de pé em frente a sua mesa e com as mãos entrelaçadas e abaixadas, tentando não demonstrar meu nervosismo. Engolindo seco.

— Marjorie, eu te chamei aqui para... — Não conseguir esperar ele terminar de falar e o interrompi, já imaginando o pior.

— Olha, senhor, se você não estiver satisfeito com os meus serviços, saiba que eu posso melhorar tá? Eu só não posso perder esse emprego. Por favor, não me demita! — Me ajoelho a sua frente, me humilhando feito uma idiota.

Teodoro deixou claro que a última coisa que ele queria, era me demitir.

— Mas eu não vou demitir você, muito pelo contrário. Eu te chamei aqui para parabenizar você pelos seus ótimos serviços, e também...— Ele se levantou da cadeira, indo até uma segunda pequena mesa, e tirando de uma das gavetas um envelope, se aproximando de mim, me levantando  e colocando o envelope em minhas mãos.

— Seu primeiro pagamento. Eu espero que você continue trabalhando conosco, você é uma funcionária muito competente.

Não conseguia acreditar no que havia acabado de ouvir. Teodoro Almeida até poucos dias era o homem que desgraçou o casamento dos meus pais, e agora está se mostrando ser um bom samaritano.

Será que ele está fingindo? Isso é um pouco difícil.

— A Selma falou que vocês estavam aqui.— Berenice entrou no escritório, se aproximando de nós e dando um beijo nos lábios de seu marido.

Para mim é difícil ver ela beijando esse homem, sabendo que ela deixou tudo para trás só pra viver nesse mundo que acredita ser o dela.

A olhei dos pés a cabeça, percebi que ela  gosta bastante de usar vestidos longos e de cores fortes e vibrantes, assim, como eu.

— Meu marido me falou de você e da sua competência, Marjorie. Meus parabéns, e espero que continue assim. — Abraçada ao marido e com um sorriso em seu rosto, ela elogiava o meu trabalho. Como se eu estivesse aqui para receber elogios.

— Obrigada, senhora Berenice! — Agradeço ao elogio me curvando. Mas que diabos! O que foi que eu acabei de fazer?

— Pode voltar aos seus serviços, Marjorie. – Teodoro caminha até a sua mesa novamente, ao lado da minha de Berenice.

Volto para a cozinha, me sentando a mesa. Minhas pernas esqueceram que eu às comando, fiquei sem equilíbrio por alguns instantes e me senti na necessidade de me sentar em algum lugar para não correr o risco de cair. Eu não vou conseguir me acostumar com isso.

— Posso saber o que a vossa realeza pensa que está fazendo? —Uma voz masculina adentrou os meus ouvidos, me fazendo literalmente pular da cadeira.

— Desculpe-me, não tive a intenção de assustar você.

— O senhor não me assustou, senhor Henrique. — Me mantive de cabeça abaixada, evitando qualquer troca de olhares entre nós.

Trabalho aqui a pouco tempo, mas pude perceber como o Henrique Almeida é... Como dizer isso sem o ofender? Um galinha. Cada dia uma mulher deferente saia de seu quarto, e seu pai não gostava nada disso. Era impossível não vê-los discutindo pelos cantos da casa.

— Por favor, me chame apenas de Henry, tá? Não sou tão velho assim e não gosto que me chame de Henrique, parece que estão bravos comigo.

Ele pode até ter essa fama que ele faz questão de aproveitar e dar motivos para tê-la, mas é um cavalheiro e super comunicativo. Sempre que me vê, puxa assunto comigo. Talvez isso seja preocupante justamente pela fama que tem.

— Está bem...Henry.  — Ele se aproxima de mim, segurando delicadamente no meu queixo, me fazendo olhar diretamente nos seus olhos.

— Não tinha  reparado na cor de seus olhos. Você é linda! — Os olhos dele brilhavam ao se referir a mim, aquilo me deixou muito desconfortável e ao mesmo tempo encantada.

— É... — Selma passou pela porta da cozinha, vindo até nós. Como sempre, super graciosa.

— Posso saber o que a senhorita está fazendo aí parada? Volte ao trabalho, agora!

Passo minhas mãos pelos cabelos, os jogando para trás, usando como desculpa para me afastar de Henry, que se retira da cozinha logo depois.

— Cadê a sua touca, mocinha?— Selma às vezes me dá medo. Se sitio do pica amarelo estivesse sendo gravado nos dias de hoje, ela com certeza iria ser uma ótima cuca. Ou talvez a mula sem cabeça.

As horas se passam voando quando você faz seus serviços ouvindo música.

Subo até o segundo andar da casa com os fones de ouvindo, me impedindo de ouvir qualquer som que não fosse a música que tocava no telefone no bolso da minha calça jeans.

Entro no quarto de Miguel. O quarto dele é bem solitário, mas tem cores tão vibrantes que até dói a visão. Cores amarelas.

Meus olhos se arregalam quando noto a presença de Miguel em frente a porta do banheiro. Parecia que ele estava ali a um bom tempo me observando e rindo. Aí, meu Deus.

— Você seria uma ótima dançarina, Marjorie.— Ele vai até seu guarda-roupas, enquanto conversa comigo.

— Eu não sabia que você estava em casa, eu devia ter batido na porta antes de entrar no seu quarto. Desculpe.

— Sem problemas, tá? É o seu trabalho. Mesmo que não precise ficar limpando o meu quarto. Eu prefiro que eu mesmo faça isso.

Mesmo sendo fechado, Miguel demostra ser um menino bem simpático e comunicativo, da forma dele. Não sei porquê, mas, as vezes parece que ele não se sente bem ao lado da família. Essa curiosidade ainda vai me matar, já que eu nunca vou ter coragem de perguntar a ele.

Com a toalha ainda sobre o seu corpo, ele coloca suas roupas sobre a cama e guia seus olhos em minha direção, e eu entendi que ele queria ficar sozinho para se trocar.

— Ah... depois eu volto para limpar, tá? Se você concordar, é claro. — Me aproximo da porta, aguardando uma resposta.

— Você pode limpar meu quarto, depois que eu me vestir. — Um sorriso discreto escapou de seus lábios

Me retiro do quarto, me mantendo parada de costas para a porta. Olhando pro corredor e para os quatro quartos que ainda terei que limpar.

— Pra quê limpar quarto de hóspedes se eles não tem hóspedes?— Penso em voz alta, e Henry surge na porta do seu quarto usando apenas uma sunga e com uma toalha no seu ombro. Ele me olhava com um sorriso no rosto.

Deus, que tentação! Por que esse homem tem que ser tão gostoso?

Passo por ele, indo até o quarto de Teodoro e Berenice.

Mesmo estando de costas para ele, era impossível não perceber que ele ainda estava olhando para mim. Respirei fundo e mantive minha compostura, adentrando o quarto e me livrando daqueles olhos arrebatadores.

Henrique Almeida. Esse homem pode acabar se tornando a minha ruína.

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Comments

Maria Alves

Maria Alves

Arrasou 👌👌👌👍👌👌👍👍

2024-07-08

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