Eu sabia que uma hora ou outra o Alexandre viria atrás de mim, mas não imaginei que seria tão rápido assim. A presença dele aqui pode pôr o meu plano em risco. Eu não posso deixar isso acontecer. Eu vou encontrar a minha mãe, ele querendo ou não.
— Como entrou aqui?— Marina pergunta, se aproximando de seu irmão que continua sentado, mantendo fixo os seus olhos cor de mel na sua irmã.
— Essa casa também e minha. Marina, o que você pensa que tá fazendo? E não adianta mentir pra mim. Eu sei muito bem o que você veio procurar. O quê não, mas sim, quem.
Marina respira fundo e seus olhos arregalaram quando a mesma percebeu que o seu irmão já tinha conhecimento do que ela planejava.
— Como você... — Antes que tivesse a chance de completar a sua pergunta, Alexandre se pronunciou.
— Você nunca foi boa em guardar segredos. E também eu fui na Lan house lá da vila e descobri que você tava procurando informações sobre aquela mulher. — Sua voz soou como um trovão quando citou a sua mãe, deixando claro o ódio que sentia pela mulher que o seu pai mesmo lhe fez odiar.
— Eu não entendo.— Marina se sentou do lado de seu irmão, abaixando a cabeça, quebrando a troca de olhares.
— Por que esse ódio, Alê? A gente não sabe de absolutamente nada da nossa mãe, poxa. Tudo que sabemos foi o pai que contou. Eu... Eu só quero ouvir a versão dela. Ela tem esse direito.
Uma risada irônica escapa dos lábios de Alexandre antes de se levantar do sofá. Ele meneava com as mãos, enquanto tentava convencer a sua irmã de desistir da ideia de encontrar Berenice.
— Você é muito boba, Marina. Se ela se importasse mesmo, você não acha que ela teria desistido desse tal homem pra ficar com a gente? –Ele se ajoelhou de frente para a sua irmã, que deixava as lágrimas escaparem de seus olhos castanhos. Ela passava suas mãos nos olhos, afim de impedir que as lágrimas continuassem a cair .
Mesmo não querendo, ela sabia que seu irmão estava certo. Se Berenice se importasse mesmo com a família, ela teria voltado. Mas ao invés disso, ela preferiu o dinheiro. Ela mostrou que para ela bem material é mais valioso do quê o amor de uma familia.
Será mesmo que as coisas realmente aconteceram desse jeito?
Mesmo sabendo disso, Marina estava disposta a prosseguir com a ideia de se infiltrar nesse novo mundo que a agora a sua mãe vive.
— Eu... Você tem razão, Alê. — Ela se levanta do sofá junto ao seu irmão, que segura suas mãos.
— Mas eu já estou aqui e vou continuar com o meu plano. Desculpa, mas não posso viver com essa dúvida que me devora aos poucos por dentro. —Largando as mãos do irmão, ela as leva ao seu peito.
— Você vai se arrepender disso, minha irmã. Eu sei que você vai se arrepender. E eu vou estar aqui pronto para secar suas lágrimas e te mostrar o que é família de verdade. – Com as mãos no rosto de sua irmã, que continuava a chorar, Alexandre a abraçou fortemente.
No fim do dia, eles se reúnem para jantar.
Sentados a mesa, eles se serviam com arroz, feijão e um saboroso peixe que Alexandre acabara de cozinhar.
— Não acredito que você trouxe peixe da Vila, homem de Deus. – Um sorriso escapava de seu rosto, enquanto uma mexa de cabelo dançava na frente de seu rosto.
— Eu já vim preparado, ué. Nunca se sabe o que pode acontecer em cidade grande, não é mesmo? – Ele se servia, enquanto Marina apenas o olhava, admirando o irmão maravilhoso que tinha. Um irmão que se mostra verdadeiramente preocupado com ela. Um irmão que é capaz de tudo para vê-la feliz.
(•••)
Berenice Almeida costa. Uma mulher de classe, reconhecida mundialmente pelos romances que escreve. Romances esses que contam histórias de amores Verdadeiros, e que inclui o lindo amor que viveu ao lado de Vicente, seu primeiro amor. O homem que lhe deu dois filhos. Filhos esses que a fazem chorar toda noite de saudade.
— Meus bebês! Como vocês devem estar hoje? —Sentada sobre a cama, usando uma longa camisola vermelha e os seus longos cabelos castanhos soltos, Berenice admira uma foto onde se mostra estar muito feliz ao lado dos filhos e do marido.
— Eu só queria outra chance. Poder recuperar o tempo perdido. Mas você Vicente, fez questão de destruir tudo. Afastou de mim os meus bens mais preciosos. Meus filhos. Meus tesouros. Os dois frutos do nosso amor.
Ao ver a maçaneta da porta sendo girada, ela esconde rapidamente a fotografia na primeira gaveta do pequeno armário que fica ao lado da cama, que carrega um abajur logo acima.
— Boa noite, meu amor! Não vai descer para jantar? —Teodoro se senta ao lado da esposa, que sorri para ele.
— Eu não estou com fome. Eu estou com um pouco de dor de cabeça. Preciso dormir um pouco.
Por algum motivo, a sua justificativa não convenceu o seu marido, que continuou a insistir para que ela se reunisse a ele e aos seus filhos na mesa para jantar, mesmo que fosse apenas para lhe fazer companhia.
Sem outra alternativa, Berenice acaba cedendo aos caprichos do marido, que se retira, dando tempo para ela se vestir apropriadamente para a ocasião que, para a família Almeida é muito importante, já que dificilmente os seus filhos jantam com eles.
Antes de se casar com Berenice, Teodoro manteve um bom relacionamento com a mulher que hoje não está mais entre os vivos. Desse casamento, ele teve dois filhos. Henrique, que é chamado por todos de Henry, e Miguel, o caçula. Irmãos esses que são tão diferentes quanto água e vinho.
O vestido verde florido destacava os olhos cor de mel de Berenice, que descia elegantemente as escadas, seguindo para a sala de jantar, onde Teodoro já se encontrava ao lado de seus dois filhos e sua afilhada, que passa mais tempo na casa deles do que na sua própria.
— Você está linda, Madrinha! — A garota de pele negra e curtos cabelos enrolados; sentada ao lado de Henry, sorria, elogiando Berenice.
— Obrigada, querida! Você também está belíssima! —Ela se sentou ao lado de seu marido, ficando entre ele e Miguel, que olhou para a mulher com um sorriso tímido no rosto, e ela o olhou com o mesmo sorriso, porém, bem mais contagiante.
— Posso servir o jantar agora, senhor?—A mulher de curtos cabelos grisalhos, pele branca e com vestimenta de empregada doméstica da cor preta, perguntou, se mantendo próxima do homem.
— Pode sim, Selma. —Sem manter contato visual com ela, Teodoro respondeu, mas com um sorriso simpático no rosto.
Teodoro e Aurora, sua afilhada, conversavam, enquanto todos se mantiveram em silêncio, apenas degustando o jantar que Selma preparou.
— E como estão os seus país, Aurora?
— Estão muito bem, padrinho! Esses dias estiveram reclamando que o senhor e a madrinha não estavam indo mais visitá-los. A mamãe então... Nem digo nada. — Com uma de suas mãos nos ombros de Henry, Aurora conversava sorridente com Teodoro. Mas por algum motivo Henry se mostrava incomodado com aquilo. A mão de Aurora em seu ombro o incomodava, o deixava desconfortável. Ele sempre soube que a garota é apaixonada por ele, mas nunca demonstrou gostar dela. Pelo menos não como ela queria.
Henry é um homem sério, assim como o seu pai. Está sempre usando roupas que o deixam bem mais sério do que ele realmente é. Ele é um homem com uma fama nenhum pouco invejável, já que ele é conhecido como um galinha. Seus cabelos escuros curtos encaracolados e sua pele morena lhe tornam realmente uma tentação. Talvez seja também pelo seu corpo malhado. Seus olhos são escuros como os de seu pai. Um olhar sedutor. Está sempre em alguma festa, por isso dificilmente se reúne á família para jantar. Mesmo sendo um homem festeiro e famoso por ter todas as garotas que quer em sua cama, Henry se transforma em outra pessoa quando o assunto é os negócios da família.
Diferente do irmão mais velho, Miguel é tímido e apaixonado pela leitura. Foi por causa dessa paixão que ele tem pelos livros que ele se tornou o queridinho de Berenice. O garoto se apegou muito a ela, ao ponto de aprender a chamar a mesma de mãe. Miguel é um jovem gay, e todos a sua volta já sabem disso. Depois que se assumiu, aquela união que ele tinha com Hanry se desfez feito papel na água. Feito algodão doce na boca de criança. Aquela amizade de irmãos se foi como o vento.
Miguel tem a cor dos olhos da mãe, que morreu no parto, e por esse motivo ele é tão fechado. Miguel se sente culpado pela morte da mãe. Os seus olhos são verdes, destacados pela sua pele escura. Tudo nele lembra a mãe que se foi. Olhos, personalidade, até mesmo a sua timidez. Talvez por isso ele não seja um jovem de muitos amigos. Por causa da timidez. Com os seus vinte anos, Miguel cursa na faculdade de letras, já que ele deseja seguir a mesma profissão da Madrasta. A sua inspiração.
No fim do jantar, Berenice se despede de todos, voltando para o quarto e olhando novamente a fotografia dos filhos que deixou para trás a anos atrás, mas que nunca se esqueceu. Aquela fotografia aquecia o seu coração. O coração de uma mãe. O coração de uma mulher que se sente incompleta. Talvez, uma mulher amargurada.
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Atualizado até capítulo 28
Comments
Maria Alves
Uma história boa bem familiar.
2024-07-08
0
Ligiane Caldas
maravilhoso esse livro, estou amando ❤️❤️
2024-05-02
2
Dora Branco
Estória triste! Estou gostando muito!
2024-04-07
2