Cicatrizes de Traição

"Em um santuário de aparências serenas,

Uma mente envolta em tempestade interna.

No silêncio revelador, a preocupação ecoa,

A ausência como prenúncio de uma angústia à toa.

Nas entrelinhas dos papéis, inquietações se entrelaçam,

Um passado obscuro ressurge, laços que se embaraçam.

A revelação repentida, golpe como uma lâmina afiada,

A confiança quebrada, feridas abertas, alma desolada.

O irmão, mensageiro de uma verdade sombria,

O peso da traição revelada em noite tão fria.

A fúria que irrompe, descontrolada e selvagem,

Em um cenário de dor, redenção é miragem.

Cicatrizes de traição, no peito de ambos marcadas,

Um vazio profundo, uma alma dilacerada.

A busca por perdão, em meio à culpa e ira,

No silêncio do escritório, a reconciliação que suspira."

Alessandro

Meu escritório parece um santuário de tranquilidade, mas a verdade é que minha mente está em um campo de batalha.

Passaram-se dois dias desde a festa de noivado, e a ausência de Isabella é tanto um alívio quanto um motivo de preocupação.

Conhecendo-a, seu silêncio pode ser o prelúdio de uma tempestade. Estou diante da minha mesa, mexendo distraidamente nos papéis, mas minha atenção está muito longe dali. A questão da gravidez de Isabella e como revelar isso a Giulia me consome. Como posso trazer essa tempestade para a vida de Giulia ?

Uma batida sutil na porta me arranca dos meus pensamentos tumultuados.

- Entre- digo, tentando manter minha voz estável. A porta se abre, e meu irmão gêmeo, Fabrizio, entra. Seu semblante tenta transmitir calma, mas nossos anos de cumplicidade me permitem ver além da fachada. Algo o perturba profundamente.

- Está tudo bem?- pergunto, embora a resposta já ecoe em mim com um pressentimento sombrio. Fabrizio suspira, um som carregado de hesitação e peso, e assenta na cadeira à minha frente, sua postura rígida como se estivesse se preparando para um golpe.

- Tenho algo a contar... mas preciso que escute tudo o que tenho a falar antes de tomar qualquer decisão- ele diz, a tensão em sua voz tão palpável que parece se materializar no ar entre nós.

Olho para Fabrizio, sentindo minhas sobrancelhas franzirem levemente, um gesto reflexo da tensão que começa a se formar dentro de mim.

- Você pode me odiar pelo resto de minha vida... mas eu preciso falar... você precisa saber quem é Isabella- ele diz, sua voz carregada de uma seriedade que raramente vejo.

Minha impaciência, já à flor da pele, se manifesta. -Fale logo, Fabrizio- comando, a voz mais áspera do que pretendia.

Fabrizio solta um suspiro profundo, como se estivesse prestes a mergulhar em águas turbulentas.

- Há uns três anos atrás, eu também acabei me envolvendo com Isabella... eu a amava... amava tanto que isso me cegou- ele confessa, e sinto um calor súbito de raiva e traição subir pelo meu corpo. Fabrizio, meu próprio irmão, envolveu-se com Isabella, sabendo de minha relação com ela. Apesar do choque, permaneço em silêncio, deixando que ele continue.

- Eu estava iniciando minha carreira como arquiteto, e você estava lutando para provar a nosso pai que tinha capacidade de cuidar dos negócios da família, preparando uma grande campanha de marketing... Eu estava apaixonado por Isabella, e na época não tinha condições de proporcionar todo o conforto que Isabella desejava. Minha carreira ainda estava em ascensão, mas Isabella não se importava; ela queria sempre mais...- Fabrizio continua, e o aperto em meu peito se intensifica, antecipando aonde essa revelação está indo.

- Isabella, sabendo da campanha de marketing que estava sendo preparada por você, viu uma oportunidade de beneficiar um concorrente, o qual ela tinha ações. Ela ganharia um bom dinheiro e prometeu que te deixaria e ficaria somente comigo se eu a ajudasse...- As palavras de Fabrizio me golpeiam como um punhal, e meu punho se fecha involuntariamente, mas ainda assim, escuto.

- Então... eu aproveitei do acesso que tinha à empresa naquela época... foi eu quem forneci as informações confidenciais a Isabella, que as passou para a 'Magnus'. Fazendo com que eles lançassem uma campanha similar e distorcida antecipadamente.- A revelação me atinge em cheio. Naquele tempo, muitos foram acusados e demitidos, e nunca imaginaria que o verdadeiro traidor estava tão perto. A campanha da 'Magnus' foi um golpe duro, causando desconfiança e prejuízo não apenas nos negócios, mas também na confiança dentro de nossa própria família.

A revelação de Fabrizio me atinge como um soco no estômago, e por um momento, tudo o que consigo sentir é um vazio, uma incredulidade profunda. Como ele pode fazer algo assim? Como meu próprio irmão pode me trair dessa forma? Os segundos se estendem, pesados e carregados de uma tensão insuportável que parece sugar todo o ar do escritório.

- Seu bastardo, como pode?- A raiva explode dentro de mim, incontrolável, feroz. Não me reconheço. As palavras mal saem da minha boca, transformadas em um grito estrangulado pela fúria. Meu corpo age antes que minha mente possa ponderar as consequências. Estou em cima de Fabrizio antes mesmo de me dar conta, meus punhos encontrando seu rosto uma e outra vez. Cada golpe é um grito silencioso de traição, de dor, de incredulidade.

Fabrizio não reage, não se defende, apenas aceita os golpes como se acreditasse merecê-los. E, naquele momento, acredito que mereça mesmo. Uma parte distante de mim percebe o estrondo abafado, os gritos ao redor, mas é como se eu estivesse distante, desconectado da realidade, consumido pela necessidade de fazer Fabrizio pagar.

De repente, sou arrancado de cima dele com força.

- Caramba, Alessandro, se acalme, ele é seu irmão!- Luca, junto com um dos seguranças do prédio, me segura firmemente, impedindo que eu avance novamente sobre Fabrizio. A raiva ainda pulsa em mim, mas a presença de Luca, a preocupação em sua voz, começa a me trazer de volta à realidade.

Olho para Fabrizio, ainda no chão, agora sendo ajudado por outro segurança. Seu rosto está inchado, os sinais dos meus golpes marcados em sua pele. A visão me enche de um misto de satisfação e horror. O que eu fiz?

- Me perdoe, irmão.- A voz de Fabrizio é rouca, cheia de dor e arrependimento. Ele se levanta com dificuldade e, sem olhar para trás, deixa o escritório. Seu pedido de perdão ecoa em minha mente, mas o perdão é algo que, naquele momento, não consigo conceber. Ele pode até parecer arrependido, mas as consequências de seus atos vão muito além do físico, do emocional. Ele traiu a confiança, a família, tudo o que deveria ser sagrado entre irmãos.

Fico ali, parado, tentando recuperar o fôlego, o coração ainda batendo descompassado. Luca e o segurança me soltam, observando-me cautelosamente, como se temessem que eu pudesse explodir novamente a qualquer momento. Talvez eu pudesse. A verdade é que não sei mais o que sou capaz de fazer. O controle que sempre tive sobre mim mesmo se esvaiu no momento em que as palavras de Fabrizio me atingiram, deixando-me exposto a uma fúria que não sabia possuir.

Agora, com a poeira começando a assentar, com o escritório silencioso exceto pelo som da minha respiração ofegante, sinto o peso do que aconteceu. Não apenas a traição de Fabrizio, mas minha própria perda de controle. O caminho à frente é incerto, a ferida entre mim e meu irmão, talvez demasiado profunda para ser curada.

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Comments

Wal Laranjeira

Wal Laranjeira

Poxa! Fabrício depois que você quebra a confiança de uma pessoa, e o pior é que confiança não se remenda. Agora Alessandro tem que parar pra pensar que ele tá quebrando a confiança da noiva dele , aí eu quero vê o que ele vai fazer.

2024-04-20

5

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