Dúvidas e Desconfianças

"Na penumbra da noite, o silêncio pesa,

Uma sombra de dúvida, uma dor que não cessa.

Entre telefonemas e mensagens no ar,

Um coração angustiado, pronto a se entregar.

Na escuridão, um brilho azul surge,

O celular, mensagens que o destino urge.

Entre segredos e suspeitas, um mistério se faz,

E o caminho incerto desafia a paz.

Entre o passado e o futuro, o presente se desdobra,

E o coração, em conflito, por respostas roga.

Na dança da incerteza, o tempo se arrasta,

E a esperança, pequena chama, lentamente se gasta."

Giulia

Deito-me na cama, o silêncio da noite envolvendo o quarto como um manto pesado. A escuridão parece refletir a confusão e a insegurança que sinto por dentro. Mesmo tentando me convencer de que tudo está bem, uma vozinha na minha cabeça sussurra que algo não está certo. Alessandro não parecia completamente honesto ao telefone. Mas como posso confrontá-lo sem parecer uma noiva ciumenta e irracional? Afinal, nosso casamento foi arranjado há tão pouco tempo.

Subitamente, a tela do meu celular brilha na penumbra, cortando a escuridão com sua luz azul. Meu coração acelera, antecipando uma mensagem de Alessandro. Talvez ele tenha sentido minha inquietação e decidido esclarecer tudo. Rapidamente, pego o celular, mas a mensagem que vejo é de Laura.

- Oi, sou eu, Laura. Giulia, você chegou bem?

- Sim, Fabrizio me deixou em casa há pouco tempo. Ele já chegou?

- Sim, acabou de chegar.

- Posso fazer uma pergunta?- pergunto, hesitante.

- Claro- Laura responde rapidamente.

- Quando está ocupado, Alessandro acostuma a deixar o celular dele com a secretária, caso alguém ligue?

- O telefone pessoal dele? Não. Alessandro tem dois celulares, um que usa para os negócios do trabalho e o celular particular. Por quê?- Laura pergunta, sua curiosidade evidente na mensagem.

Eu explico a situação, contando sobre a mulher que atendeu o celular particular de Alessandro e como ele justificou ser sua secretária. Uma pausa agonizante se segue.

- Essa história está estranha... Alessandro não deixa seu celular particular com ninguém... Além disso, Luca comentou comigo que Alessandro demitiu a secretária há uma semana e que ele estava fazendo esse papel enquanto Alessandro não encontrava uma nova secretária- Laura finalmente responde, suas palavras fazendo meu coração afundar ainda mais.

- Quem é Luca?- pergunto, tentando desviar um pouco do assunto que começava a me sufocar.

- É o advogado da empresa e melhor amigo do meu irmão. Luca é o confidente do meu irmão.

- E seu o que Luca é?- insisto, curiosa.

Laura demora para responder, mudando de assunto em seguida.

- A mulher que te atendeu disse o nome dela?

- Não, eu também desliguei achando que tinha ligado errado- respondo, seguindo o rumo da conversa, mas ainda ansiosa por respostas.

- Laura... por favor, seja sincera comigo... seu irmão tem outra mulher?-pergunto, sentindo a angústia crescer dentro de mim.

- Não que eu saiba, mas essa história não está me cheirando bem... Vou te ajudar a descobrir, mas preciso que me prometa uma coisa- Laura digita, sua oferta de ajuda misturada com uma condição.

- Claro, o que?-pergunto, pronta para qualquer coisa que pudesse esclarecer a situação.

- Não conte ao meu irmão sobre Luca... e eu- Laura pede, deixando subentendido uma complexidade em sua relação que eu ainda não compreendo.

- Fique tranquila, não contarei a ninguém- digo, um sorriso leve surgindo em meus lábios apesar da situação.

- Você vai estar ocupada amanhã? Gostaria de conversar com você pessoalmente- Laura propõe, parecendo querer sair do ambiente digital para um encontro que promete ser revelador.

- Não vou, podemos nos encontrar à tarde- concordo, ansiosa por esse encontro.

Laura manda uma mensagem de boa noite e eu me despeço, mas sei que a noite será longa. A angústia e a confusão me consomem. Estou começando a gostar de Alessandro, a sentir uma conexão que nunca pensei ser possível. Mas e se ele estiver brincando com os meus sentimentos? E se essa história toda for muito maior do que eu imagino?

Alessandro

Afasto-me de Isabella, sentindo uma necessidade urgente de colocar distância entre nós. Meus passos me levam até o barzinho na sala de estar, onde agarro um copo com a pressa de quem busca um alívio para a turbulência em minha mente. O líquido âmbar do whisky brilha sob a luz suave da sala, prometendo um esquecimento temporário. Inclino a garrafa, despejando a bebida no copo, e sem hesitar, levo-o aos lábios e bebo de uma vez, sentindo o calor ardente descendo pela garganta, espalhando-se pelo meu corpo.

- Você está bravo comigo?- Isabella pergunta, entrando na sala com uma expressão triste. Sua voz, um sussurro inseguro diante do peso do silêncio que criei entre nós.

- O que você acha? Quem te deu permissão de atender meu telefone?- respondo, irritado, servindo-me de outra dose de whisky. Nem mesmo entendo a profundidade da minha irritação. Talvez seja a confusão de sentimentos, talvez seja o medo de perder o que ainda nem tenho.

- Desculpe, eu não sabia que era sua noiva- ela diz

- O nome da pessoa sempre aparece na tela quando ela liga. Você não se lembrou que o nome da minha noiva é Giulia? Ou estava tentando fazer outra coisa?- questiono, nervoso, já perdendo a conta das doses de whisky. Meu mundo começa a girar levemente, a bebida fazendo efeito mais rápido do que esperava.

- Está me acusando? Acha que eu faria algo para te prejudicar- Isabella retruca, sua voz embargada, e passo a mão pelo rosto, sentindo o peso das palavras, da suspeita, da bebida.

- Desculpe... só estou estressado... tudo aconteceu de uma vez, preciso de um tempo para processar tudo- digo, suspirando pesadamente. A verdade é que estou confuso, perdido entre o dever e o querer, entre o passado e o futuro.

- Eu entendo, meu amor, se quiser posso ajudar você a relaxar...- Isabella diz, sua voz melosa, seus dedos tocando meu cabelo numa tentativa de consolo.

Afasto-me, sentindo uma repulsa súbita por esse conforto oferecido. Todo o encanto que Isabella tinha parece desvanecer-se. Minha mente está em Giulia. Só consigo pensar no que ela deve estar imaginando, no que ela deve estar sentindo.

- Vou pedir ao motorista que te leve para casa. Preciso de um tempo sozinho para assimilar tudo- digo a Isabella, minha voz firme, decidida.

- Querido...- ela começa, mas interrompo-a. Não há espaço para mais palavras, para mais desculpas.

- Isabella, por favor, não quero discutir de novo... vá para casa- repito, e ela assente finalmente, sua expressão misturando surpresa e tristeza.

Assim que Isabella sai, sinto o peso do silêncio cair sobre mim novamente. Mando que o motorista a leve para casa, me deixando sozinho com meus pensamentos, com minha confusão. A culpa é minha, e agora vejo o quão complicado tudo se tornou. Giulia... ela é tudo em que consigo pensar. Preciso consertar isso, mas por onde começar? O whisky prometia esquecimento, mas tudo que trouxe foi uma clareza dolorosa: preciso de Giulia, mais do que jamais imaginei.

...

O som estridente e irritante do interfone me arranca de um sono pesado, tão abruptamente que por um momento não sei onde estou. A realidade se infiltra lentamente na minha consciência, e percebo que estou debruçado sobre a mesa do barzinho do meu apartamento, a cabeça latejando em um compasso que parece acompanhar o zumbido do interfone. Levanto-me da banqueta com uma destreza que certamente não possuo no momento, me apoiando na mesa para evitar cair. O mundo ao meu redor gira, um carrossel impiedoso da ressaca que me consome.

Arrasto-me até o interfone, tropeçando nos meus próprios pés, uma dança desajeitada e patética. A voz do outro lado é familiar e irritada, uma combinação que só pode significar uma pessoa: Fabrizio.

- Finalmente, achei que tinha morrido, já estava a chamando a ambulância - a voz de Fabrizio é como um prego na minha cabeça.

- O que você quer? - pergunto, a irritação tingindo minha voz, um reflexo do desconforto que sinto.

- Preciso falar com você, dá para liberar minha entrada? - ele insiste, e mesmo sem vontade, pressiono o botão para liberá-lo. Minutos depois, ele aparece, e suas primeiras palavras são um golpe na minha já frágil autoestima.

- Credo, você está péssimo, parece que foi atropelado por um caminhão.

Suas palavras, embora ásperas, não são uma surpresa. O espelho não mente, e eu sei que a imagem que reflete é a de alguém que enfrentou uma noite mais dura do que deveria.

- Obrigado, agora vai me dizer o que está fazendo aqui? - Minha paciência é um fio esticado, prestes a arrebentar.

Fabrizio então revela o motivo de sua visita inesperada: Luca, preocupado com minha ausência no trabalho, alertou Fabrizio. O choque da notícia é como um balde de água fria. Nunca antes havia me permitido tal deslize profissional. A culpa se instala, pesada e desconfortável.

- Ligue para ele, diga que já estou indo - digo, apressado em corrigir meu erro, mas minha pressa apenas contribui para minha desgraça. Tropeço nos próprios pés, e por pouco, não encontro o chão, graças a Fabrizio, que me segura a tempo.

- Ei, vá com calma. Luca disse que já está conseguindo dar conta de tudo, ele só ficou preocupado por você não aparecer na empresa - a voz de Fabrizio carrega uma mistura de preocupação e repreensão leve.

Fabrizio me guia até o sofá, onde me sento, o rosto enterrado entre as mãos.

- Faz tempo que você não bebe assim, o que aconteceu?

A pergunta ecoa na sala, pendurada no ar como uma neblina densa. A resposta jaz em algum lugar dentro de mim, escondida sob camadas de arrependimento

Esfrego novamente o rosto com as mãos, sentindo a textura áspera da minha pele cansada, e solto um suspiro profundo, um prelúdio ao desabafo que se aproxima. A sala está quieta, apenas a respiração de Fabrizio e a minha, um sussurro vacilante entre as paredes.

- Isabella está grávida - solto as palavras como quem joga um fardo pesado no chão, esperando pelo impacto.

- Sua ex-namorada? - Fabrizio pergunta, a confusão pintando suas feições.

- Ela não é minha ex... - começo, mas as palavras se perdem, sugadas pela gravidade da situação.

- Espera, você... Ah não, seu idiota, agora sim você tem um grande problema - Fabrizio murmura, e eu o olho irritado, minha paciência se desgastando como papel na chuva.

- Me ajudou, muito obrigado, irmão - respondo

- Só estou dizendo a verdade... contou a Giulia? - ele indaga, e a menção de seu nome acende um pavio curto dentro de mim.

- Não, está maluco? Se eu fizer isso, ela pode cancelar o casamento - digo, a ideia de perder Giulia, de alguma forma, mais assustadora do que qualquer outra coisa.

- O casamento é mais importante do que os sentimentos de Giulia? Alessandro, e se Giulia descobrir a verdade, como acha que ela vai se sentir, sabendo que você só a usou para conseguir garantir sua herança? É melhor ela saber logo a verdade - Fabrizio argumenta, cada palavra dele como um golpe que tento desviar, mas que acerta em cheio.

- Você está se preocupando demais com minha noiva, irmão. Tem algo que eu deva saber? Fiquei sabendo que você a levou para casa ontem - replico, e não sei por que, mas saber que Fabrizio está se aproximando de Giulia me incomoda, uma faísca de ciúme que não consigo apagar.

- Só estou sendo sensato, seu imbecil, coisa que você não tem sido nos últimos dias. Não estou tentando roubar sua noiva. Além disso, só fui gentil com Giulia ao levá-la para casa já, afinal ela vai fazer parte de nossa família - Fabrizio responde, e eu estreito os olhos para ele.

"É bom que seja só isso mesmo", penso, a desconfiança tecendo uma teia pegajosa em minha mente.

- Agora vá tomar um banho e trocar essa roupa, que você está fedendo a álcool - Fabrizio resmunga, e eu assinto, a consciência do meu estado atual se tornando mais aguda a cada palavra.

Levanto-me do sofá, sentindo cada músculo do meu corpo protestar, uma orquestra de dor e arrependimento. O caminho até o banheiro é longo, cada passo uma jornada através de minhas falhas e medos. O choque da água fria é um despertar, não apenas para o corpo, mas para a alma, uma limpeza necessária, mesmo que insuficiente para lavar os erros

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Comments

Wal Laranjeira

Wal Laranjeira

Eu acho que Isabella tá mentindo 🤥, e se ela estiver grávida, não é de Alessandro.

2024-04-02

3

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