Certas Escolhas

Giulia

Eu entro na cozinha, irritada com as palavras de Alessandro ecoando em minha mente. Como ele ousa insultar meu pai? A raiva fervilha dentro de mim enquanto abro a geladeira e pego uma garrafa de água gelada. Preciso me acalmar antes de confrontá-lo novamente.

De repente, a voz suave de minha mãe corta o silêncio da cozinha.

- Meu amor, está tudo bem?- ela pergunta, preocupada. Eu respiro fundo, tentando controlar minha irritação antes de responder.

- Por que você não me contou sobre o noivado?- pergunto, tentando manter a paciência em minha voz. Minha mãe parece surpresa com minha pergunta, mas responde prontamente.

- Bem... sua sogra queria que fosse uma surpresa. Ela disse que Alessandro estaria de folga no sábado, então seria a oportunidade perfeita para fazer a festa- minha mãe explica. Eu suspiro, sentindo-me frustrada.

- Devia ter me contado, mamãe... eu sequer tenho um vestido para usar no dia- desabafo, sentindo o peso da situação sobre meus ombros. Parece que tudo está acontecendo rápido demais e eu não estou preparada.

Minha mãe tenta me tranquilizar.

- Isso é fácil, no shopping há várias lojas. Você pode escolher um vestido em uma dela- ela sugere, mas meu desânimo é evidente. Claro, eu poderia encontrar um vestido facilmente, mas a possibilidade de Alessandro ter outra mulher em sua vida está me consumindo.

- Tem algo mais te incomodando, filha. Te conheço bem o suficiente para saber que não é só o noivado surpresa que te incomoda- minha mãe diz, sentando-se na cadeira em frente a mim. Eu suspiro, sentindo-me compreendida por ela.

- Eu gosto do Alessandro... mais do que eu quero admitir... mas... acho que ele tem outra- confesso, a frustração evidente em minha voz.

Minha mãe me olha, surpresa com minha revelação. - O que te faz pensar isso?- ela pergunta, curiosa.

Eu explico a ela o episódio da noite anterior, quando Alessandro saiu apressado durante o jantar e uma mulher atendeu o telefone quando liguei para ele. Ele alegou que estava resolvendo assuntos da empresa e que a mulher era apenas a secretária dele, mas eu simplesmente não consigo acreditar nele.

Enquanto compartilho os meus pensamentos e dúvidas com minha mãe, sinto um misto de tristeza e incerteza tomar conta de mim. Eu quero confiar em Alessandro, quero acreditar nele, mas algo em meu coração me diz para ter cuidado.

Afinal, como posso ter certeza de que ele não está escondendo algo de mim?

Minha mãe me olha com uma expressão tensa. A cozinha, antes um lugar de conforto e calor, agora parece o palco de uma decisão difícil. O cheiro do café que minha mãe fez mais cedo ainda paira no ar, mas seu aroma reconfortante não consegue me acalmar.

- Você tá certa, essa história está muito estranha. Vou conversar com o seu pai, tenho certeza que se ele souber das suas desconfianças, ele vai...- Minha mãe começa, sua voz cheia de preocupação, mas eu a interrompo, não posso permitir que ela faça isso.

- Não... eu não quero prejudicar o meu pai. Ele precisa desse acordo de casamento para salvar a empresa- digo, segurando a mão dela. Minha mãe olha para mim, seus olhos cheios de uma mistura de orgulho e medo pelo que estou prestes a enfrentar.

-Então o que você pretende fazer, filha?- Ela pergunta, sua voz suave, mas carregada de ansiedade.

Eu respiro fundo, reunindo minha coragem antes de responder.

- Quero descobrir a verdade... e se descobrir algo e conseguir reunir provas, vou confrontar Alessandro e fazer um acordo. Se ele tiver outra, nós cancelamos esse casamento, mas Alessandro ajuda meu pai a reerguer a empresa. E em troca, eu não revelo as traições de Alessandro à mídia, já que seria um escândalo.- Minha voz é firme, mas por dentro, sinto uma tempestade de emoções.

Minha mãe suspira, lógico que ela não gosta dessa ideia. Ela sempre acreditou na honestidade e na transparência como os melhores caminhos, mas também sabe que às vezes a realidade exige decisões difíceis.

Olhando para fora, através da janela da cozinha, vejo o jardim onde brinquei na minha infância. Parece que foi em outra vida. Agora, estou prestes a embarcar em uma jornada que pode mudar tudo o que conheço e acredito sobre amor, confiança e sacrifício.

Minha mãe finalmente aperta minha mão em resposta, um gesto de apoio e compreensão.

- Seja o que for que você decidir fazer, estarei aqui por você- ela diz, e suas palavras me dão um pouco de conforto.

Eu sei que o caminho à minha frente é incerto e possivelmente perigoso. Mas também sei que preciso fazer isso, não apenas por mim, mas pela minha família. Com um último olhar para minha mãe, eu me viro e caminho em direção à porta.

Meu coração ainda bate rápido com a decisão que tomei, mas agora, há outro assunto que preciso resolver: o vestido para o noivado. Com o celular em mãos, deslizo pelos contatos até encontrar o nome de Laura, minha cunhada. Ainda me sinto um pouco trêmula ao digitar a mensagem, perguntando se ela sabia do noivado. A resposta não demora, e a tela ilumina com a confirmação de Laura, juntamente com suas desculpas. Ela explica que a mãe de Alessandro insistiu que fosse uma surpresa e que ela não podia falar nada. Apesar da situação complicada, não consigo sentir raiva dela; Laura sempre foi gentil comigo.

- Está tudo bem, Laura. Eu entendo a situação- respondo, tentando transmitir compreensão através das palavras digitadas. Em seguida, arrisco um pedido, esperando não ser um incômodo.

- Você poderia me acompanhar ao shopping para escolher um vestido para o noivado? Sinto que preciso de uma opinião sincera ao meu lado.

Para minha surpresa e alívio, a resposta de Laura é imediata e positiva. Ela aceita prontamente, dizendo que será um prazer ajudar. Sinto um sorriso se formar nos meus lábios, agradecida por não estar sozinha nesse momento.

Alessandro

A dor latejante na minha cabeça parece ecoar pelas paredes do escritório. Sentado atrás da minha mesa, com pilhas de documentos que demandam minha atenção, nunca imaginei que minha vida se complicaria tanto. O peso das decisões que tenho que tomar, tanto pessoais quanto profissionais, nunca foi tão opressivo.

De repente, um aroma familiar corta o ar, desviando minha atenção dos papéis. É um Marocchino, um café italiano com uma mistura perfeita de espresso, cacau em pó e leite espumado. Levanto o olhar e vejo meu melhor amigo e advogado, Luca, acomodando-se na cadeira à minha frente, estendendo o café em minha direção.

- Conheço esse olhar... dia difícil?- Luca pergunta, e eu assinto, pegando o café com gratidão. A primeira golada é reconfortante, trazendo um breve alívio para minha dor de cabeça.

- Deixa eu adivinhar... problemas com a linda garota de olhos verdes...- Luca diz, e meu olhar o encontra, surpreso.

- Não lembro de tê-la apresentado...- respondo, meu tom indicando a surpresa.

Ele faz uma expressão assustada, como se tivesse falado demais, mas logo retoma a compostura.

- Eu... vi algumas fotos de vocês nos tabloídes...- Luca tenta se justificar, mas conheço meu amigo bem demais para saber que ele está mentindo.

- Minha irmã te contou- eu suspiro, entregando-me à verdade. Eu sei que Laura e Luca têm se encontrado às escondidas, e isso me incomoda. Luca sempre foi um tanto quanto cafajeste, e a última coisa que quero é que ele machuque o coração de Laura.

Luca suspira, sabendo que foi pego.

- Tem me vigiado?- ele pergunta, franzindo o cenho.

- Claro... você não é muito bom em disfarçar... Laura é minha irmã, e me preocupo com ela. Ela não é para você. É melhor se afastar...- digo, minha voz carregada de autoridade.

Luca ri debochado, sacudindo a cabeça.

- Tem medo que eu brinque com sua irmã assim como você está brincando com os sentimentos de Giulia?- ele retruca, erguendo uma sobrancelha.

- Que droga você está insinuando?- pergunto, irritado, sentindo a raiva borbulhar dentro de mim.

- Você e Isabella... Ainda estão juntos, não é? No dia em que você saiu apressado do jantar, Laura me mandou uma mensagem me perguntando se estava tudo bem, pois não é do seu costume me ligar àquele horário... Eu contei a ela que não havia te ligado. Fiquei preocupado e fui até sua casa para ver o que estava acontecendo e vi Isabella saindo de lá- Luca revela, e seu olhar é firme.

Meu coração afunda no peito. As palavras de Luca me atingem como um golpe, não apenas pela acusação, mas pela verdade que elas carregam. A complexidade das minhas escolhas parece uma teia intrincada de consequências, cada uma puxando a linha de outra, desenrolando um futuro incerto. Suspiro, minha cabeça ainda latejando com a dor que não é apenas física. Se as coisas continuarem assim, Giulia vai descobrir a verdade antes do casamento. E isso... isso seria devastador.

-Por que não casa com Isabella?-Luca pergunta, quebrando o silêncio que se instalou entre nós.

-Você sabe que não posso- respondo com um suspiro, sentindo o peso daquelas palavras. É a verdade cruel que vem me assombrando, a realidade da minha situação.

- Isso quer dizer que você não a ama...- Luca diz, e suas palavras me fazem olhá-lo, um tanto irritado e surpreso com sua conclusão.

- Como?- Minha pergunta sai mais afiada do que pretendia.

- Se você a amasse, não se importaria em abrir mão da herança... nada mais importaria além de Isabella - Luca diz, seu olhar distante, como se estivesse perdido em seus próprios pensamentos.

- Você fala com tanta propriedade...- comento.

- Porque é como me sinto em relação a Laura... Eu amo sua irmã, Alessandro, e não vou machucá-la- Luca diz, e é a primeira vez que ouço ele se declarar tão abertamente. Suas palavras trazem uma nova perspectiva, não apenas sobre seus sentimentos por Laura, mas também sobre as minhas próprias ações e sentimentos.

Nesse momento, olhando para Luca, vejo um reflexo das minhas próprias incertezas e medos. A diferença é que ele parece disposto a enfrentar o que vem pela frente, algo que eu ainda não consegui fazer. Sua confissão faz com que questione minhas próprias escolhas, meus próprios sentimentos.

Será que estou pronto para enfrentar a verdade sobre o que quero e o que estou disposto a sacrificar?

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