Sombras Do Crepúsculo

"Entre mesas de sorveteria e brisa fresca,

Segredos se revelam, como sombras ao crepúsculo.

Um coração inquieto, uma alma em agonia,

No entardecer, a verdade se desvela em meio à melancolia.

Um telefonema, um convite para o confronto,

Entre o passado e o presente, o dilema é pronto.

Os olhos procuram respostas, nos detalhes da conversa,

Enquanto a mente tece teias de incerteza.

Um noivado iminente, um casamento em preparação,

Mas entre as promessas, há uma sombra de traição.

O amor se entrelaça com o medo e a desilusão,

No crepúsculo da confiança, nasce a escuridão.

Os passos são incertos, os sentimentos em conflito,

Entre o dever e o desejo, um precipício infinito.

No entardecer da alma, onde a verdade se oculta,

Os corações buscam a luz em meio à sombra tumulta."

Giulia

A brisa fresca da tarde acaricia meu rosto enquanto me sento à mesinha da sorveteria, tentando encontrar algum conforto nas palavras de Laura. O sol se põe, pintando o céu em tons de rosa e laranja, mas a beleza do momento não consegue dissipar a tempestade em meu coração.

Laura olha para mim, seus olhos cheios de preocupação e solidariedade.

- Luca me disse que não ligou para meu irmão ontem à noite, e nem que Alessandro apareceu na empresa- ela revela, e sinto como se um punho invisível me apertasse o coração.

Então Alessandro mentiu.

A revelação é um soco no estômago, e eu luto para manter a compostura.

- Estou cada vez mais certa de que Alessandro estava com outra mulher...- murmuro, minha voz carregada de frustração e desapontamento.

- Não acredito que Alessandro seria tão cafajeste a esse ponto- Laura diz, indignada. Sua lealdade ao irmão é tocante

- Só não entendo, se ele tem outra, então por que não se casar com ela ao invés de casar comigo?- questiono, perdida em pensamentos sombrios sobre as possíveis razões por trás das ações de Alessandro.

- Não vamos tirar conclusões antes do tempo, Giulia. Não sabemos se essa tal mulher era de fato alguma amante dele. Ela poderia ser... uma amiga ou... alguma de nossas primas- Laura tenta me consolar, mas suas palavras soam vazias, incapazes de aliviar a dor que sinto.

- Isso não faz sentido... E por que ele mentiria dizendo que era a secretária?- indago, buscando alguma lógica em um mar de confusão e decepção.

- Vai entender o meu irmão... Só é difícil acreditar que ele faria algo do tipo. Alessandro abomina traições de qualquer tipo- Laura insiste, mas suas palavras parecem passar por mim sem deixar marcas.

- Talvez o pensamento dele tenha mudado- digo, um sorriso irônico surgindo em meus lábios, mesmo que não haja humor algum nele.

Nesse exato momento, meu celular começa a tocar, vibrando sobre a mesa com insistência. O nome de Alessandro brilha na tela, um lembrete pulsante da complicada teia de mentiras e segredos em que me encontro envolvida. Respiro fundo, tentando acalmar o turbilhão de emoções que ameaça me engolir.

Laura me lança um olhar preocupado, como se pudesse sentir a tempestade dentro de mim.

- Você vai atender?- ela pergunta, sua voz suave em meio ao barulho da sorveteria.

Encaro o celular, indecisa. Parte de mim quer jogá-lo na parede, quer gritar e exigir a verdade, enquanto outra parte, mais frágil, teme o que essa verdade pode significar para nós.

Com um suspiro, estico a mão e pego o celular, deslizando o dedo sobre a tela para atender.

- Alô?- minha voz sai mais firme do que me sinto

Ao meu lado, Laura observa em silêncio, sua presença um pequeno conforto na incerteza que me envolve.

O momento em que eu atendo o telefone, meu coração acelera. A voz de Alessandro, usualmente um som que me traz conforto, agora me enche de ansiedade e incerteza.

- Boa tarde, Giulia, está tudo bem?- ele pergunta, e eu me esforço para manter a minha voz estável.

- Sim, estou ótima, por quê?- respondo, tentando parecer indiferente, mas percebo que minha voz soa mais rude do que pretendia. Internamente, eu me repreendo por deixar qualquer emoção transparecer.

- Tem certeza que está tudo bem? Você parece estressada- ele insiste. Eu posso quase visualizar a expressão de genuína preocupação em seu rosto, o que apenas me irrita ainda mais, sabendo o que sei agora.

- Sim, estou bem. Foi só uma vendedora inconveniente aqui na loja que me tirou do sério- eu improviso rapidamente, desviando a conversa para longe de qualquer revelação verdadeira sobre meu estado emocional.

- Estou na sua casa. Gostaria de conversar sobre alguns assuntos com relação ao casamento. Onde você está? Posso ir aí para...- Alessandro começa, mas eu o interrompo antes que ele possa terminar.

- Estou no Shopping, mas já estou indo para casa. Não precisa vir... já te encontro aí- digo, desesperada para encerrar a conversa antes que ele perceba a verdadeira extensão da minha perturbação.

- Certo, estarei esperando então. Até mais- ele responde, e eu sinto uma pontada de algo que poderia ser remorso, mas rapidamente a afasto.

- Até- digo e desligo, sentindo um misto de alívio e apreensão.

Laura, que esteve ao meu lado em silêncio durante toda a conversa, me olha com curiosidade.

- O que ele queria?- ela pergunta, e eu sinto a frustração borbulhar dentro de mim ao pensar em Alessandro esperando por mim em casa para discutir nosso casamento, como se nada estivesse errado.

- Ele está em casa para conversar sobre o casamento. Como ele consegue ser tão cara de pau?- digo com raiva, e Laura solta uma risada leve, provavelmente mais pelo absurdo da situação do que por achar realmente engraçado.

- Preciso ir agora. Nós falamos mais tarde. Não comente nada com meu irmão que esteve comigo- Laura diz, levantando-se. Sua expressão séria agora, compreendendo a gravidade da situação.

Alessandro

Desligo o celular, sentindo uma pontada de frustração.

 "Maldita hora que esqueci o celular com Isabella," repreendo-me mentalmente.

Conheci Giulia há pouco tempo, mas já é suficiente para saber que algo está errado. Minha intuição, que raramente falha, me diz que não foi apenas uma vendedora inconveniente que a incomodou. Talvez ela já desconfie de algo. A inquietação cresce dentro de mim enquanto espero por ela.

Alguns minutos se arrastam como horas até que finalmente a porta da sala de estar se abre. Meus olhos imediatamente se fixam em Giulia, atraídos por ela como um imã. Ela está vestindo um vestido verde claro que realça a suavidade de sua pele e a cor dos seus olhos. O tecido flui graciosamente a cada passo que dá, como se estivesse dançando ao sopro de uma brisa suave. Seu cabelo, normalmente solto em ondas suaves, hoje está preso em um coque despojado, com alguns fios soltos emoldurando seu rosto, dando-lhe um ar de elegância casual. No entanto, é o olhar de Giulia que me prende. Ela está linda, como sempre, mas há algo em seu olhar, uma sombra de inquietação que não consigo ignorar.

- Giulia- chamo suavemente, tentando decifrar o que se passa por trás daqueles olhos. Ela me olha, e por um momento, sinto como se pudesse vislumbrar as profundezas de sua alma. Há uma turbulência lá, algo que ela está lutando para esconder.

- Oi, Alessandro - sua voz é tranquila, mas há uma tensão nela que não estava lá antes.

- Você queria falar sobre o casamento?

Caminho em direção a Giulia, sentindo o ar estremecer com a tensão.

- Você está bem?- pergunto

- Sim- ela responde, mas o sorriso em seu rosto parece forçado, sem a luz que normalmente irradia. Decido não insistir, não quero pressioná-la.

Respiro fundo e decido mudar a direção da conversa.

-Vim avisar que nosso noivado será no próximo final de semana- digo, e vejo surpresa cruzar seu rosto.

- Tão rápido?- ela pergunta, e eu a encaro, um sorriso se formando em meus lábios.

- É tão desagradável assim casar comigo?- brinco, tentando aliviar a tensão.

- Não é isso... você não acha que está muito em cima da hora? Eu não preparei nada, sequer tenho um vestido...- ela começa, mas eu a interrompo, - Minha mãe e sua mãe já prepararam tudo, ao que parece elas estavam trabalhando pelas nossas costas- dou um sorriso leve, tentando acalmá-la.

Giulia dá um pequeno sorriso e assente, mas posso ver que há algo errado.

- Tem certeza que está tudo bem?- pergunto, não conseguindo mascarar minha preocupação.

- Você conseguiu resolver tudo o que precisava no seu trabalho ontem à noite?- ela pergunta, e sinto uma pontada de irritação.

- Sim, por que a pergunta?- respondo, tentando manter minha voz calma.

- Só achei estranho o fato de você ter saído tão tarde para resolver assuntos da empresa- ela comenta, e eu suspiro, sentindo a tensão crescer.

- Sou o dono de uma das maiores empresas de marketing da Europa, coisas assim acontecem, Giulia. É melhor começar a se acostumar- digo, tentando não soar rude. Não gosto de ser pego na mentira, e é claro que Giulia está tentando fazer exatamente isso.

- Meu pai nunca precisou sair no meio da noite para resolver os negócios...- ela começa, mas eu a interrompo, a paciência se esgotando.

- É sério que vai me comparar com o fracassado do seu pai? O que está tentando insinuar, Giulia?- pergunto, a raiva fervendo dentro de mim.

Giulia me olha, surpresa, e eu percebo que fui longe demais. Mas é tarde demais para voltar atrás.

A expressão de Giulia muda, sua surpresa se transforma em irritação e uma fagulha de raiva queima em seus olhos.

- Fracassado?- ela repete a minha palavra, a amargura tingindo sua voz.

- Meu pai está tentando reerguer a empresa que herdou do meu avô. Uma empresa que estava quase falida quando caiu em suas mãos. Ele não tinha ideia das dívidas que meu avô havia deixado- ela diz, o orgulho e amor por seu pai evidentes em sua voz e postura. Posso ver a defesa em seu olhar, como uma leoa protegendo o seu amado pai

- Ele está lutando, Alessandro. Lutando para salvar o legado da nossa família, para garantir que a empresa não desabe. Por anos ele tentou fazer isso sem a ajuda de ninguém. Ele tentou fazer isso sozinho. Isso não é fracasso. Isso é coragem- ela continua, cada palavra dela me atingindo como um soco no estômago.

Ela olha para mim, os olhos brilhando com desafio e ressentimento.

- E só para constar, nosso casamento não é um fardo para mim, Alessandro. Mas parece que é para você!- ela diz, a raiva evidente em sua voz.

- Você está certa... me desculpe, eu passei dos limites- eu suspiro, esfregando o rosto com as mãos. Meus pensamentos estão em tumulto, uma tempestade de sentimentos e preocupações. O casamento se aproximando, a gravidez de Isabella, meus sentimentos conflitantes por Giulia e Isabella... tudo está me levando ao limite.

- Pelo menos você percebeu- Giulia retruca, cruzando os braços sobre o peito. Há um tom de amargura em sua voz que me faz sentir ainda mais culpado.

- Eu preciso ir agora... te mando mensagem mais tarde, está bem?- eu digo, sentindo a necessidade de algum espaço, de algum ar fresco para clarear a cabeça.

Giulia assente, seu rosto sério e pensativo.

- Está certo, Alessandro- ela responde, a voz suave, mas ainda carregada de ressentimento.

- Mais uma vez, me perdoe- eu digo, me aproximando dela e depositando um beijo suave em sua testa. É um gesto de carinho, um pedido silencioso de entendimento.

Nos despedimos e Giulia abre a porta para mim. Caminho até o meu carro, sentindo o peso da conversa ainda pendendo sobre mim. Entro no veículo, fechando a porta com um baque surdo.

Antes de dar a partida, olho uma última vez para Giulia. Ela está parada na porta, uma figura solitária e forte. Essa mulher mexe muito com a minha cabeça. Com um suspiro, dou a partida no carro e parto, deixando para trás uma casa, uma mulher e uma conversa que certamente me assombrarão nas horas que virão.

Mais populares

Comments

Andrea Aparecida Scagliusi Doretto

Andrea Aparecida Scagliusi Doretto

favor enviar atualizacao

2024-04-06

1

Ver todos
Capítulos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!