Capítulo 19

Rodrigo

Adentro o bar, ainda movimentado, e, por estar só, não escolho uma mesa. Sento-me em uma das banquetas de madeira escura próximo ao balcão. Cumprimento a amiga da minha… da Estela e peço uma cerveja sem teor alcoólico.

Olho em volta e nem sinal da Estela pelo salão, me viro para perguntar por ela a sua amiga de cabelos coloridos, mas, antes que eu diga qualquer coisa, avisto a Estela saindo do corredor de onde ficam os sanitários com o calhorda do chefe dizendo algo próximo ao seu ouvido e, pela expressão da garota, não é nada de agradável. Acho que acabei de mudar o nome do meu saco de pancadas!

É nítido que ela não gosta de trabalhar aqui, e gosta menos ainda desse tal de Ivan. Só queria que fosse menos orgulhosa e me deixasse conseguir algo melhor para ela.

Nossos olhares se encontram e um sorriso quase brota em seu rosto, mas ela é “durona” demais para admitir que ficou feliz em me ver, ou, é só cautela, não sei pelo que passou ao longo da vida.

— Oi! — Me cumprimenta ao se aproximar do balcão para pegar seu bloco e uma caneta. Lhe digo um “Oi”, mas não é exatamente o cumprimento que desejava, não olhando para a boca mais bonita que já vi e provei.

— Tem cliente esperando. — O tal Ivan diz e só aí me lembro de sua presença. Ela revira os olhos, ainda de costas para ele, põe um sorriso fraco nos lábios e segue para o salão. Dou um gole em minha cerveja e observo o sujeito se escorar no balcão e pedir seu whisky.

— Fiquei sabendo que uma das minhas funcionárias está lhe atendendo dentro e fora do estabelecimento. — Comenta sem me olhar, dando um gole em sua bebida.

— O que suas funcionárias fazem da porta para fora, não lhe diz respeito. — Bebo mais um pouco e apoio minha garrafa no balcão. Ele bufa uma risada debochada, que faz meu sangue ferver.

— Sabe… — Virando-se para me olhar. — Tenho que admitir que admiro você. A garota é até bonita, mas é muito cheia de “não me toque”, e vive na defensiva, não tenho paciência para esse tipinho. — Estreito meu olhar para ele e aperto minha mão em volta da garrafa com tanta força, que não estranharia se ela se partisse na palma da minha mão.

— Sabe que assédio é crime, não sabe? — Ele volta a rir e me contenho para não o partir ao meio.

— Não é assédio, e elas até se sentem lisonjeadas por acharem que um homem como eu, pode ter algum interesse em garotas como elas. — Dessa vez, sou eu quem bufo uma risada.

— Um homem como você… — Maneio minha cabeça rindo debochadamente e ele fica sério. — Garotas como elas, só aceitam trabalhar nesse lugar porque precisam se sustentar, e isso não lhe dá o direito de usar sua posição de chefe para assediá-las. — Ele dá mais um gole em seu whisky, olhando em volta do salão.

— Já disse, não é assédio, elas gostam de se sentir desejada. — Pegando um pacote no bolso e tirando dele, um cigarro e o levando até o canto da boca.

— Então não vai se importar se for denunciado, conseguirá provar sua inocência. — Ele tira o cigarro da boca e volta a me olhar, com um certo pânico em seu rosto. — E com a denúncia, vão acabar vasculhando sua vida, e tenho quase certeza de que o assédio não é a única coisa errada que acontece por aqui. — Vejo seu pombo de adão subir e descer e o restante de sua bebida, é tomada de uma só vez.

— Aceita um conselho, para de perturbar as garotas, diferente do que pensa, mulher nenhuma gosta ou deve ser

desrespeitada, e se não quiser perder esse bar e passar um tempinho atrás das grades, passe a tratá-las como merecem. — O cigarro que segura sofre as consequências das minhas palavras, é amassado com força entre seus dedos, e ele se afasta arquejando de raiva, sumindo pelo corredor de onde veio.

— Uau! — Me viro para frente ao ouvir uma voz feminina. — Gostei de você! — A amiga de franjinha da Estela me encara com admiração. — Essa é por minha conta! — Colocando outra cerveja no balcão. — Dissipando minha tensão. Agradeço com um sorriso e a Estela se aproxima, trazendo alguns pedidos anotados.

— O Thor está com saudade de você. — Comento sem olhá-la e tomo um gole da minha cerveja.

— Não pode ficar usando seu cachorro para me atrair até sua casa. — Diz virada para o balcão, enquanto espera sua bandeja.

— Não estou usando, tivemos uma conversa mais cedo. — Ela ri de canto, me olhando de soslaio. — Ele me disse que gosta de você, e acho que ele merece sua visita. — Seu sorriso se abre um pouco mais.

— Também gosto dele! — Meu coração erra uma batida, pois, tenho quase certeza de que isso não é sobre o Thor. Sorrimos um para o outro e ela empunha sua bandeja com copos e garrafas de cerveja, levando-a para o salão.

Chega a ser meio assustadora, essa necessidade que sinto de tê-la por perto o tempo inteiro, mas não quero recuar e nem me impor limites. É estranho, não sei explicar, mas, sinto como se estivéssemos em uma contagem regressiva e que devo aproveitar cada segundo ao seu lado, protegendo-a e tornando sua vida mais leve.

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Comments

Cristiane Paes Fagundes

Cristiane Paes Fagundes

tem muitos homens que não fazem ideia do que seja assédio....

2024-05-17

2

Elenilda Ferreira

Elenilda Ferreira

Autora, quando ela vai contar sua história para o Rodrigo.

2024-04-22

6

IRA ROSA 🌹

IRA ROSA 🌹

Ansiosa pelo desfeicho

2024-03-31

1

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