Capítulo 4

Um mês depois...

Rodrigo

— Acabou a moleza, chega de assistir TV o dia inteiro. — Lopes implica desferindo tapinhas em minhas costas. Mas a verdade é que eu enlouqueceria se passasse mais um dia em casa, afastado do meu trabalho.

O médico disse que tive sorte em fraturar apenas uma costela em um acidente que destruiu minha moto, mas não acredito em sorte, sei que ainda tenho muito a viver, não era a minha hora de partir.

— Acabou a moleza para vocês, vão ter que voltar a trabalhar de verdade. Soube que não avançaram em nada no caso da mochila. — Lopes revira os olhos e o Antunes parece pensativo. Os dois são meus parceiros dentro e fora do trabalho, somos agentes federais. O Lopes é mais impetuoso, já o Antunes é o oposto, mais centrado e tático.

Avisei no nosso grupo de troca de mensagens que fui liberado pelo médico para voltar ao trabalho e os dois insistiram para sairmos para comemorar e, mesmo sem poder beber, por conta dos medicamentos que continuo tomando, aceitei. Só estava saindo de casa para ir ao médico, está sendo bom respirar o ar noturno.

— Já chequei todas as câmeras do entorno daquele aeroporto, em nenhuma delas dá para ver o rosto da garota, ela simplesmente evaporou. — Antunes demostra sua frustração.

— Vamos pegá-los, a garota é só uma peça do quebra-cabeça. — Tranquilizo-o antes de adentrarmos o bar.

Estamos no encalço de uma quadrilha de traficantes de drogas há meses, e a pouco mais de um mês, recebemos a informação de que usariam uma mulher para transportar as drogas em uma mochila. Montamos um cerco no aeroporto e um dos funcionários nos avisou do comportamento estranho de uma garota e quando fomos checar, tudo que conseguimos, foi a mochila, que foi abandonada no banheiro, provavelmente por ela. Concluirmos que a garota deve ser uma novata e se assustou quando viu um de nós, e desde então, ela virou nossa obsessão. Se for mesmo inexperiente como achamos que é, não teríamos dificuldade em fazê-la entregá-los. Mas, mais cedo ou mais tarde, vamos pegá-los.

— Podemos não falar de trabalho está noite? Olhem a nossa volta, esse lugar está florido! — Lopes chama nossa atenção para a quantidade de garotas espalhadas pelo bar, o que não é muito comum por aqui, geralmente, os homens são a maioria no recinto.

Encontramos uma mesa em um canto e nos sentamos. Tiro meu celular do bolso ao senti-lo vibrar, já imaginando do que se trata, e o desbloqueio para ler e responder a uma mensagem da minha mãe, ela às vezes esquece que já tenho vinte e oito anos. Desde o acidente, ela me envia uma mensagem no mesmo horário, todos os dias, para saber como estou e se tomei meus remédios.

Como todos os outros dias, digito que estou bem e que não precisa se preocupar, enquanto escuto meus amigos pedirem suas cervejas a uma das atendentes que se aproximou da mesa.

— E você, Rocha, o que vai querer? — Antunes pergunta e eu envio a mensagem, antes de erguer minha cabeça para fazer meu pedido.

Olho para a garota a minha frente, com seu macacão preto, justo e decotado, seus olhos cor de chocolate sob seus óculos de grau e uma maquiagem discreta, e não consigo acreditar no que meus olhos veem.

— É você! — Digo com empolgação e a garota me olha como se nunca tivesse me visto. Mas aí lembro que, praticamente, não viu mesmo. — Talvez, se eu colocar um capacete, você lembre de mim. — Ela ajeita os óculos na ponte do nariz e seus lábios carnudos se abrem brevemente. Percebo os olhares curiosos dos meus amigos sobre mim, mas não me importo, cheguei a sonhar com essa garota, achei que nunca mais a veria.

— Ai meu Deus! — Ela diz, cobrindo a boca com sua mão livre. — Você é o motoqueiro do acidente. — Afirmo sorridente.

— Que bom que ficou tudo bem! — Desço, inconscientemente meu olhar até seu decote e ela o ajeita, parecendo

desconfortável.

— Só uma costela quebrada, mas já estou pronto para outra! — Me recosto na cadeira, me xingando mentalmente por ter constrangido a garota. Ela, claramente, não se encaixa nesse ambiente e nem nessa roupa, apesar de ter ficado perfeita em suas curvas.

Quando a vi, ainda deitado no asfalto, com seus cabelos longos ondulados da mesma cor de seus olhos, sua calça jeans e camiseta branca básica, pensei que sua beleza fosse uma miragem, e ainda tem o charme dos óculos… Já conheci muitas garotas bonitas, mas… não sei explicar, ela tem um ar misterioso que desperta algo em mim. Sua aparência não é frágil, e do tipo “mulherão”, o que contrasta com seu olhar triste, que dá vontade de pôr no colo e dizer que vai ficar tudo bem.

— O que vai querer? — Pergunta já sem o sorriso em seu rosto. Mas sei o motivo, deve estar acostumada a receber esse tipo de olhar, e parece nada confortável com isso.

— Um suco de laranja e uma porção de batatas, por favor. — Ela anota e se afasta sem voltar a me olhar.

— Suco, Rocha? — Lopes questiona.

— Ainda tenho alguns dias de medicamentos. — Respondo enquanto acompanho a garota se distanciar com seu longo rabo de cavalo balançando de um lado para o outro.

— Conheceu a garçonete no dia do acidente? — Antunes pergunta e eu assinto, ainda hipnotizado.

Respondo as suas curiosidades dos meus amigos, e penso que esse reencontro só pode ter sido coisa do destino, já estive neste bar algumas vezes e nunca a vi por aqui. Existe centenas de outros bares nas redondezas e escolhemos logo esse para vir, que nem é o melhor. Posso até não conseguir seu número hoje, já que mandei mal com aquele olhar atrevido, mas não volto para casa sem saber pelo menos seu nome.

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Comments

Cristiane Paes Fagundes

Cristiane Paes Fagundes

essa garota deve ser a "Estela"

2024-05-17

2

Raquel Martins

Raquel Martins

Ela deve ser a garota da mochila! Que situação.

2024-05-03

1

Maria Helenice

Maria Helenice

com certeza

2024-05-03

1

Ver todos

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