Capítulo 18

Rodrigo

— Você está obcecado por essa garota, isso não pode ser normal. — Reviro meus olhos com o comentário do

Lopes.

— A palavra correta é, apaixonado, mas tenho certeza de que você nunca soube o que é isso. — Antunes rebate.

Tudo isso porque disse que estou louco para que a noite chegue para convidá-la para o aniversário de casamento do nosso delegado. Imagina se eles soubessem que, depois do que ela fez ontem, eu teria assinado os papeis do nosso casamento, se estivem prontos. Pensar nela o dia inteiro e desejar que o dia passe mais rápido para vê-la, não é estar obcecado, é?

— E prefiro continuar sem saber. Não quero ficar igual a você, que ainda deve chorar no travesseiro pela sua ex, e nem quero ficar feito ele. — Apontando para mim. — Que passa o dia inteiro com essa cara de bobo e suspirando pelos cantos. — O Lopes é legal, juro que é, mas sabe ser desagradável quando quer.

— Enquanto se ocupam com a minha vida pessoal, estão deixando de cumprir seus deveres. — Repreendo-os e faço um sinal discreto para que acompanhem meu olhar até um casal que acaba de desembarcar.

Hoje não estamos usando nosso distintivo e nem nada que indique que somos policiais, estamos apenas nos misturando pelo aeroporto. Recebemos a informação de que um casal desembarcaria trazendo drogas na bagagem, e acredito que acabamos de encontrar nossos alvos.

Nos dividimos, montando um cerco discreto ao casal e os seguimos, aguardando o momento certo para a abordagem. A aparência dos dois, suas roupas e malas caras, estariam acima de qualquer suspeita, se não fosse

pela linguagem corporal. A mulher está agarrada a uma mala grande e azul como se sua própria vida dependesse dela.

O homem olha o tempo inteiro a sua volta, sem desgrudar de sua mala preta, do mesmo tamanho da outra, e vejo sua testa brilhar com o suor, e aqui nem está quente.

Mesmo estando quase certos de que são eles, escolhemos passageiros aleatórios para abordar ao mesmo tempo, para parecer só rotina, embora esse tipo de ação seja mesmo a nossa rotina.

O homem para próximo a um grupo de pessoas, pega o celular no bolso da calça e faz uma fotografia dele e da mulher que o acompanha. Seria uma situação normal, poderia ser apenas uma foto para as redes sociais, se não fosse a tensão em seus rostos. Geralmente isso é feito para avisar que já chegaram com a mercadoria, enviam para o traficante em questão para que saiba que deu tudo certo, e muitas vezes já tem alguém a espera deles aqui

mesmo no aeroporto, esse é um dos motivos da nossa abordagem cuidadosa, não queremos alarmar e provocar uma fuga.

Troco um olhar com meus parceiros, nos aproximamos do pequeno grupo e nos identificamos, dizendo ser apenas rotina. Pedimos a identificação de cada um deles e também que nos acompanhem até uma sala reservada. Os demais, que são apenas turistas, se assustam com a desconfiança, mas não hesitam em nos acompanhar. O casal também não hesita, mas trocam um olhar desesperado.

Fazemos perguntas básicas ao grupo, como, por que estão aqui, o que trazem nas malas… o casal responde em sintonia que estão em lua de mel, mas já esperávamos esse tipo de resposta, geralmente são bem instruídos antes da viagem.

Chamamos um a um, no reservado, deixando os outros a espera no corredor e checamos as primeiras malas, começando pelo grupo dos quatro jovens, para despistar. Vejo o suor do nosso suspeito escorrer em sua testa e a mulher ficar pálida encarando o chão, como se desejasse que um buraco se abrisse nele para se enfiar dentro.

Liberamos os jovens e, chegando na vez do casal, pedimos que entrassem juntos. Abrimos as malas e não encontramos nada além de roupas, calçados e tudo que se costuma levar em uma viagem, porém, as malas vazias continuavam pesadas. Fiquei responsável pela bagagem do homem e o Antunes pela da mulher, enquanto o Lopes ficava atento aos movimentos do casal.

Chequei o forro da mala e encontrei o que procurava, uma costura bem-feita em um dos cantos. Peguei meu canivete e fiz uma abertura na costura, encontrando o que tinha certeza de que acharia, dois quilos de pó branco, muito bem mascarado para passar pelo raio x, e o Antunes também achou o mesmo na mala que vasculhava. Após o teste, ficou claro do que se tratava.

Lágrimas escorreram pelo rosto da mulher, e o homem colocou as mãos atrás da nuca, fechando seus olhos com força. Sabem que estão encrencados. Levamos o casal até a sala do Bruno, delegado, e o deixamos conduzir o interrogatório.

Esse caso até que foi simples, drogas no forro de uma mala é o básico. Já encontramos em alças de bolsas, em

garrafas de vinho, embalagens fechadas de feijão, sola de calçados, introduzidas no próprio corpo… criatividade é o que não falta nesse pessoal.

Chego em casa no fim do dia e vou direto para os fundos da casa, e quando abro a porta de vidro, quase sou derrubado pelo Thor. Ele passa o dia inteiro do lado de fora, onde tem espaço para brincar e uma cama confortável, só posso deixá-lo entrar quando estou presente, pois, não quero ver a casa inteira destruída, e quando viajo, ele fica aos cuidados da minha mãe.

— E aí, rapaz, como foi seu dia? — Pergunto e me agacho, acariciando seu pelo, enquanto ele me fareja. — O meu foi estressante, como sempre. — Me levanto e ele passa por mim, vasculhando toda a casa. Me jogo no sofá e não demora até que suas patas estejam em meu peito.

— O que achou da garota que te apresentei, gostou dela? — Ele me responde com um latido. — Eu sei, vi como ficou todo manhoso. Também gosto dela. — Ele late mais uma vez e sai de cima de mim para aproveitar sua liberdade pela casa.

Tiro minha roupa, vestindo apenas um short e sigo para o meu quarto de treino. A casa tem três quartos, um deles é o meu, um está vazio e no outro coloquei alguns aparelhos, como de musculação, esteira, meu saco de pancadas e minha corda, que gosto de pular todos os dias ao acordar. Mas o que me “desestressa”, é o saco de

pancadas, por isso gosto de usá-lo quando chego do trabalho.

Calço minhas luvas e começo a espancar o coitado do saco, que tem até nome, Tedy. Gosto de boxe desde criança, até cheguei a competir quando mais jovem. Quando termino com o Tedy, estou pingando suor e me sentindo leve como uma pena.

A caminho do banho, penso em como essa falta de comunicação com Estela é esquisita. As garotas que namorei sempre me enviavam mensagem para saber onde eu estava, ou se já cheguei em casa… trocávamos mensagens durante o dia… mas com a Estela tudo é diferente. E aqui estou eu, de novo, pensando nela.

Saio do banho, me arrumo e me despeço do Thor, colocando-o novamente para fora antes de pegar a moto na garagem e ir matar minha saudade da garota que esteve o dia inteiro comigo em pensamento.

Mais populares

Comments

Deborah Lopes

Deborah Lopes

espero que ela conte logo a história dela sem esconder nada

2024-05-14

2

Maria Helenice

Maria Helenice

será que fez isso pra pagar dívida do irmão

2024-05-07

1

Mágda Virgínia Rocha

Mágda Virgínia Rocha

Espero que o Rodrigo não julgue ou culpe a Estela, afinal ela foi uma vítima

2024-03-26

5

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!