Estela
O lugar é bem iluminado, com mesas e cadeiras de madeira clara, arranjos de flores, de muito bom gosto, espalhados, e janelas que vão do teto ao chão. Acompanhamos a hostess até a mesa reservada e encaro o cardápio, para fugir do olhar do meu acompanhante, que sei que está sobre mim.
— Rodrigo! — Ergo meu olhar e vejo um homem bonito e muito alto, usando um dólmã preto, que destaca o verde de seus olhos, vindo em nossa direção com um sorriso largo. Rodrigo se levanta e os dois se abraçam
como velhos amigos. O homem deve ter a mesma idade ou uns anos a mais que o Rodrigo, e tem mais ou menos a mesma altura, poderiam facilmente serem jogadores de basquete.
— Vejo que hoje não está com a companhia de sempre! — O homem alto diz, olhando para mim.
— Companhia de sempre? Será que o Rodrigo tem uma namorada ou é casado? Aí meu Deus! — Penso e encaro suas mãos, em busca de pelo menos uma sombra de aliança, mas não encontro nada.
— Essa é Estela! — O homem estende a mão para mim com um sorriso gentil. — Estela, esse é o Breno, chef e dono desse restaurante. — Aceito a mão do chef e nos cumprimentamos.
— Como vão às crianças e a Maya? — Rodrigo pergunta e o tal Breno abre um imenso sorriso.
— Estão ótimos! Minhas pestinhas vão passar a noite na casa da tia fazendo bagunça com os primos e, sabe como é, não vejo a hora de fechar o restaurante e correr para casa, momentos a sós com a minha esposa, estão
ficando cada vez mais raros. Mas tenho certeza de que não trouxe essa linda moça para me ouvir falando dos meus filhos, vou voltar ao trabalho e deixá-los a sós. — Os dois trocam um olhar cúmplice, que me deixa sem jeito.
— O que sugere para derreter um coração congelado? — Rodrigo pergunta, antes que o chef deixe a mesa. Os dois me analisam e eu reviro meus olhos.
— Considerando que estamos no inverno e que a noite lá fora também está congelante, sugiro uma fondue Savoyarde, você conhece a tradição. — Ele pisca para o Rodrigo que sorri de canto.
— Perfeito, pode mandar trazer! — Breno se despede e eu semicerro meu olhar para o Rodrigo.
— De que tradição estavam falando? — Ele volta a sorrir de canto.
— A pessoa que deixar um pedaço de pão cair no creme de queijo, deve ser desafiada a fazer algo. — Explica e eu me recosto na cadeira, entendendo suas intenções.
— Então, acha que vou deixar cair e vou ter que fazer o que me pedir. — Ele assente. — A cumplicidade masculina é impressionante! — Reviro meus olhos e ele pressiona os dentes em seu lábio inferior.
— Quem é a pessoa que sempre traz aqui, sua namorada, noiva, esposa? — Ele bufa uma risada irritante.
— Está com ciúme? — Me provoca.
— Eu, com ciúme, de você? — Gargalho. — Só sou decente o suficiente para não querer estar em um restaurante acompanhada de um homem comprometido, que não larga do meu pé. — Achando graça, se recosta na cadeira cruzando os braços.
— Não sou comprometido, ainda não. O Breno estava falando da minha mãe, uma senhora assanhada, que diz que adora a comida daqui, mas sei que só vem para ver o chef. Acredita que o último namorado dela era dois anos mais novo que eu? — Seu jeito fica leve e divertido ao falar da mãe, o que me desarma um pouco.
— De onde conhece o chef, estudaram juntos, são vizinhos? — Ele nega com a cabeça.
— Na verdade, sou amigo do sogro dele, trabalhamos juntos. Conheci o Breno e o resto da família em um jantar, são todos, pessoas maravilhosas, você vai gostar de conhecê-los. — Arqueio uma das sobrancelhas.
Ele não pode estar pensando em me apresentar aos seus amigos sem termos absolutamente nada, pode? Talvez ele seja um daqueles caras obsessivos e eu devesse encontrar um jeito de fugir daqui. Olho a minha volta em busca de uma rota de fuga, mas nossa fondue chega à mesa.
— O que costuma fazer para se divertir, você faz isso, não faz? — Pergunta enquanto espetamos nossos pequenos pedaços de pães e começamos nossa batalha para ver quem vai deixá-lo cair. Mergulhamos em
todo aquele queijo borbulhante e sentimos um alívio quando nenhum de nós perde seu pão.
— Nunca fui de ficar indo à festa, se é o que quer saber, preferia ficar em casa comendo pipoca e assistindo TV. Passava as noites e os fins de semana assistindo séries com a… — Faço uma pausa e engulo em seco,
ao lembrar que era com a minha mãe que eu fazia isso, principalmente quando ela mal conseguia sair da cama. Seu olhar estuda meu rosto e eu foco em todo aquele queijo a nossa frente.
— Que tipo de série você assiste? Aposto que gosta daquelas bem dramáticas e cheia de mistérios! — Deixando de me encarar para espetar mais um pedacinho de pão. Maneio a cabeça e deixo escapar um meio sorriso.
— Assisto de vários tipos, mas as minhas favoritas são as “Chicago”. — Parando imediatamente o que está fazendo, volta a me olhar como se eu fosse um extraterrestre.
— Quando se refere a “Chicago”, está falando de “Chicago Fire”, “PD” e “MED”? — Assinto e ele se recosta na cadeira.
— Prefiro o “MED”, mas assisto os três, acho perfeita a forma como estão interligadas. — Um sorriso largo surge em seu rosto.
— Não pode ser… o “PD” é o meu favorito, mas também assisto todas. Passei o último mês me atualizando, andava atrasado pela falta de tempo, e aproveitei minha costela fraturada para assistir às duas
últimas temporadas… Aposto que você tem uma quedinha pelo Dr. Will. — Suspiro e sorrio ao lembrar do meu personagem preferido do “MED”, e o sorriso largo do Rodrigo desaparece de seu rosto.
— Parece que acabei de presenciar um milagre. — Franzo o cenho, confusa. — Você está sorrindo, achei que nem soubesse fazer isso. — Ajeito meus óculos e abaixo meu olhar, encarando a panela de cerâmica. Mas vejo algo que faz meus lábios se curvarem em um sorriso.
— Acho que alguém caiu na própria armadilha. — Ele acompanha o meu olhar e encaramos juntos o pequeno pedaço de pão, boiando no queijo. Seus olhos se fecham por alguns instantes e seus ombros se encolhem.
— Isso não vale, você fez de propósito, me distraiu falando da minha série preferida. — Se recostando com a frustração estampada em seu rosto.
— Vai, fala, qual meu desafio? Se for te levar café na cama amanhã cedo, só precisa me dizer se prefere café com ou sem açúcar. — Limpo a garganta e faço o que tem que ser feito para o nosso bem.
— Eu… só quero que pare com isso. — Suas sobrancelhas se arqueiam. — Isso, sabe… nós dois… não vai acontecer.
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Atualizado até capítulo 63
Comments
Glucck
Ah! Que fofo. Já sinto saudade do Breno.
Mas, será que esse Rodrigo é o amigo de escola dele? Ele não valia nada.
2024-04-27
1
Elenilda Ferreira
Ela está fugindo de algo grave e agora ele é um policial está investigando transporte de droga, onde são usadas mulheres para este crime.
2024-04-22
7
Mágda Virgínia Rocha
Chicago PD e a minha preferida kkk
2024-03-23
1