Capítulo 14

Uma semana depois…

Estela

— Fique à vontade, só preciso fazer uma coisa, já volto. — Assinto e tiro minha jaqueta enquanto olho em volta. Resolvi aceitar o convite do Rodrigo para vir até sua casa, ele tem ido quase todos os dias me buscar depois do trabalho, mas disse que alguns minutos por dia trocando beijos dentro do carro não são suficientes, por isso combinamos de passar a tarde juntos, assistindo a série que gostamos.

Confesso que estou surpresa, jurava que ele morava em um apartamento com “cara de solteiro”, mas não, mora em uma casa espaçosa, em um condomínio arborizado e com crianças brincando ao redor. A casa é limpa e

organizada, o sofá e a Tv, são gigantes e… um latido vindo da direção para onde ele foi quando me deixou na sala, chama minha atenção.

— Se comporta, temos uma garota em casa. — Ouço o Rodrigo dizer, antes de voltar para a sala trazendo ao seu lado, o cachorro mais bonito que já vi, um Husky Siberiano de pelo branco e cinza, que passa a sua frente e me ronda com um olhar desconfiado.

— Acho que não te contei que tenho um filho, esse é o Thor. — O Thor é grande, me derrubaria com muita facilidade, por isso tomo todo o cuidado para ganhar sua confiança, passo minha mão bem devagar por seu pelo e ele me fareja, enquanto o Rodrigo nos observa atentamente.

— Oi, Thor! Você é lindo! — Ele solta um latido, como se estivesse me agradecendo e, acabo de me apaixonar por ele.

— Você é um safado! — Rodrigo diz antes de se sentar no sofá. — Ele não é bonzinho assim, é um bagunceiro, mas parece que gostou de você, tem meu bom gosto. — Sorrio e me sento ao seu lado. Thor me acompanha e se

aninha as minhas pernas, enquanto acaricio seu pelo.

— Amo cachorro! Eu tinha um quando era pequena, mas… — Paro de falar, ao perceber que não é o momento mais apropriado para falar da morte do meu cachorro, que aconteceu pouco antes do falecimento da minha mãe. — Ele se parece com você! — Mudo o rumo da conversa e o Rodrigo franze o cenho.

— Ele é grande, bonito, imponente… mas é só receber um carinho e pronto, vira um filhotinho manso! — Ele ri e beija meu ombro.

— Nunca tinha pensado nisso, mas, acho que tem razão, somos mesmo parecidos. Estamos sempre atentos, de guarda, gostamos de nos exercitar, estar em movimento… e quando gostamos de alguém, baixamos a guarda e nos entregamos. — Viro meu rosto para olhá-lo, e meu coração dá um salto quando ele se aproxima e beija suavemente meus lábios.

Quando aceitei o convite, já sabia o que me esperava, não sou boba, sei que não vamos só assistir TV e depois vai me deixar no trabalho com um beijinho de despedida, mas, saber disso e querer que aconteça,

não me impede de ficar nervosa. Só tive um namorado na vida, não tenho toda a experiência que o Rodrigo deve ter.

— Vou levar esse rapaz lá para fora para começarmos. — Se levantando.

— Começarmos? — Pergunto com a voz mais exasperada do que deveria, e seu olhar se estreita.

— A assistir a série, não foi para isso que veio? — Afirmo com a cabeça e ele pressiona os lábios em uma linha reta, provavelmente contendo uma risada, antes de beijar o topo da minha cabeça e chamar o Thor, para que o acompanhe até os fundos da casa.

Minutos depois, ele volta carregando travesseiros e um cobertor cinza, apoiando-os no sofá ao meu lado, e vejo que já não usa mais o jeans de antes, agora está descalço e trajando uma calça de moletom preta.

— Não está fazendo todo esse frio. — Comento ao ver a espessura do cobertor. Estamos no inverno, e tem feito frio, mas hoje a temperatura está amena, tanto que só coloquei uma jaqueta jeans por cima do vestido que uso, porque saio tarde do trabalho e provavelmente estará mais frio.

— Mas fará, ainda mais para você, com esse seu vestidinho. — Percorrendo minhas pernas com o olhar. — Já volto! — Roubando- me um beijo antes de seguir para outra parte da casa, e aproveito para apreciar seu traseiro, que fica ainda mais bonito na calça que usa, do que no habitual jeans.

Não demora muito até que esteja de volta carregando uma bandeja com pipoca e queijo, cortados em pequenos cubos.

— O que vai querer beber? Tenho vinho, cerveja… — Apoia a bandeja na mesa de centro, arrastando-a para mais perto do sofá. — Mas acho melhor não tomarmos nada alcoólico, você ainda vai trabalhar hoje e vou dirigir para te levar até lá. Suco ou refrigerante zero? — Pergunta enquanto liga a TV e o ar-condicionado.

— Refrigerante, por favor. — Ele assente e volta na direção da cozinha.

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— Não acredito que ela vai ter coragem de mentir para ele. — Rodrigo comenta ao fim do episódio.

— Ela não tem outra saída, ele não entenderia. — Respondo, sentindo na pele o drama da personagem.

— Eles estão prestes a se casar, ela deveria confiar nele, não dá para começar uma vida, juntos, baseada em uma mentira. — Sem argumentos, encaro a bacia de pipoca quase vazia em meu colo e a devolvo para a

mesa.

— Meu Deus, princesa, você está gelada! — Comenta ao segurar minha mão carinhosamente. Ao contrário do que pensa, a temperatura da minha mão não tem nada a ver com o ar-condicionado, fico assim toda vez que cogito contar minha verdadeira história para alguém.

— Vem, deita aqui comigo para assistirmos ao próximo episódio, eu te aqueço. — Quando colocou a série, deitou-se na parte chaise do sofá e me convidou para juntar-se a ele, mas disse que pegaria no sono se fizesse isso, então, apenas coloquei as pernas no sofá em uma posição confortável. Não menti, realmente costumo dormir quando assisto TV deitada. Arqueio minhas sobrancelhas e ele gargalha.

— Não vou te aquecer do jeito que está pensando. Vem logo! — Chegando seus músculos mais para o canto, para me dar espaço. Me levanto carregando comigo o cobertor e faço o que pede, deito-me ao seu lado, com minha cabeça apoiada em seu bíceps, sentindo o calor do seu corpo junto ao meu.

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