Capítulo 5

Estela

Faz um mês que trabalho nesse lugar, os primeiros dias foram bem difíceis. Nem tanto pelo trabalho, não me importo de servir mesas e colaborar na limpeza quando as portas se fecham. O problema é que alguns homens acham que, por estar usando uma roupa justa e decotada, faço parte do cardápio. Não me sinto envaidecida, como algumas colegas de trabalho, fico enojada, mas achei que estava aprendendo a lidar com isso, era só fingir que não percebi o olhar malicioso e pronto, venço mais um dia.

Só que… não foi nojo que senti quando o motoqueiro acidentado, me olhou do mesmo jeito que os outros me olham, foi… vergonha. Senti vergonha por estar exposta nessa roupa que jamais usaria se tivesse escolha, de estar trabalhando nesse lugar, que preciso ficar atenta para não ser apalpada por um bando de caras alcoolizados, e por mentir o tempo inteiro para a pessoa que me estendeu a mão.

Pego a porção de batatas que o Túlio, cozinheiro do bar, coloca no balcão, e arrumo na bandeja junto as cervejas e ao suco de laranja. Respiro fundo, antes de me virar com um sorriso forçado, que aprendi com as outras meninas, e equilibrá-la até a mesa dos rapazes.

Os três são grandes, quase brutos. O loiro de olhos azuis, é um pouco mais baixo, que os outros, mas tão forte quanto, parece ser o mais observador. O moreno, usa uma camiseta preta tão justa, que parece que a qualquer momento seus músculos vão rasgá-la, e parece ser o mais disperso dos três e também o mais “faminto”, não sabe para qual garota olhar primeiro. E o… como é mesmo o nome dele?

Ouvi quando o chamaram de Rocha na mesa, mas sei que não foi assim que se apresentou quando estava deitado no asfalto. Rogério… Roberto… puxo um pouco mais pela memória, pois, aconteceu tanta coisa depois daquele acidente, que nem tive tempo para pensar nele.

Rodrigo! Esse é o nome do mais bonito dos três, ou talvez nem seja tudo isso, mas é o que mais me atrai. Tenho uma certa queda por homem tatuado, meu ex, e único namorado, tinha algumas, mas o Rodrigo, tem muitas. Não tinha visto nenhuma no dia do acidente, seu corpo estava todo coberto, mas hoje ele usa uma camisa preta de botões com as mangas dobradas na altura de seu antebraço, que me dá a visão das tatuagens que vão até seus

punhos, em seus dois braços, e uma que parece uma rachadura ou um raio, escapa pela gola da camisa.

Centralizo as batatas na mesa e distribuo as bebidas, sem encarar nenhum dos três, mas sei que estou sendo observada.

—Por que esse lugar está tão cheio hoje, alguma promoção de bebidas? — O moreno me pergunta, antes que me afaste.

— Uma banda irá se apresentar em alguns minutos. — Respondo e troco um olhar rápido com o Rodrigo, antes de me virar para sair.

— Ei! — Me viro novamente quando Rodrigo me chama. — Será que hoje posso saber seu nome? — Abraço a bandeja vazia e sinto minhas bochechas queimarem, ao perceber o sorrisinho malicioso dos outros dois.

— Estela. — Ele sorri satisfeito e me afasto, caminhando em direção a outra mesa, onde um rapaz levanta a mão para ser atendido.

— Lindo nome! — Rodrigo grita, mas não me viro para agradecer.

                             ***************

A banda sobe ao pequeno palco e os pedidos diminuem, me dando a oportunidade de me debruçar no balcão e assistir, pela segunda vez, a Paty cantar. Seu estilo é o rock, porém, aqui no bar, eles cantam POP, misturando de tudo um pouco, e sua voz parece combinar com qualquer música.

Olho em volta, atenta aos clientes, e a maioria está olhando para o palco, cantando ou conversando com amigos, menos o Rodrigo, esse está com seu olhar de gato, fixo na minha direção, chega a me causar um

arrepio.

— O que vai fazer quando sair daqui? — Reviro meus olhos ao ouvir a voz do Ivan próximo a minha orelha.

— Você nunca desiste? — Pergunto com exaustão, pois, todo dia, ouço a mesma coisa. Ele dá de ombros e dá um trago em seu cigarro.

— Já que estamos aqui… não me custa nada tentar. — Maneio a cabeça desacreditada em sua insistência.

O Ivan nunca passou dos limites, do que ele acha que é uma brincadeira, até já me acostumei com ele, às vezes até acho graça. Porém, fiquei abismada quando soube que é um homem casado e que tem três filhos.

— Acho que esquece que é casado. — Ele revira os olhos, traga novamente seu cigarro e minha vontade é de chutar suas bolas.

— Você é que se apega nos detalhes. — Pisca para mim e some para dentro da cozinha. Me viro para frente, na intenção de voltar a assistir a banda tocar e me assusto ao ver a figura gigantesca com o cotovelo apoiado no balcão e o queixo em seu punho, enquanto me encara com seus olhos verdes cristalinos.

— De todos os lugares que imaginei rever você, esse daqui nunca seria uma opção. — Rodrigo diz enquanto estuda meu rosto. Ajeito meus óculos, sem saber o que dizer e ele sorri de canto.

— Imaginei você como uma professora, bibliotecária, advogada, recepcionista de um consultório dentário…

— É um trabalho honesto. — Interrompo-o e pego meu bloco de pedidos para ir até uma mesa onde uma jovem está com o braço estendido.

— Não disse que não era. — Segurando meu braço quando tento passar por ele. — Só não combina com você. — Franzo meu cenho e solto meu braço de sua mão.

— Você nem me conhece. — Afirmo e lhe viro as costas, para fazer meu trabalho.

— Mas quero! — Olho por cima do ombro e encontro um sorriso torto. — Quero conhecer você, Estela. — Seguro meu bloco com mais força e não respondo nada, apenas sigo para mesa que me aguarda.

Ele é só mais um, fisgado pelo meu decote e julgando meu caráter, pelo meu uniforme de trabalho.

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Comments

Nanda

Nanda

Pior ela é a garota que os três agentes procuram.

2024-05-19

1

Heloiza Carvalho

Heloiza Carvalho

hummmmm

2024-03-21

4

Disandra Azevedo Dos Santos Barboza

Disandra Azevedo Dos Santos Barboza

mulherengo 😠

2024-03-05

1

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