Capítulo 13

Estela

 Entrei em casa com um sorriso no rosto, o coração saltitando e com certas partes do meu corpo, aquecidas. Porém, ao entrar no banheiro para tomar um banho, me olhei no espelho e logo veio a culpa. Ela sempre aparece quando me sinto viva novamente, e com ela vem as lágrimas, que sempre derramo debaixo do chuveiro. Não sei se em algum momento da minha vida, vou me sentir digna novamente de querer ser

feliz.

Deitei-me no sofá com meus protetores de ouvido e demorei a pegar no sono. Fiquei imaginando como seria trabalhar naquele restaurante, ao invés do bar, ter todos os meus direitos garantidos, um salário descente, um chefe que não ache que faço parte do cardápio… mas não posso sonhar com isso agora, não até ter certeza de que estou segura para usar minha verdadeira identidade. O que me faz pensar que não deveria começar nada com o Rodrigo, que parece estar sendo sincero comigo. O certo seria me afastar, já que talvez ele não entenda a minha história, quando contar, mas, depois do que senti esses dias sem vê-lo, parece um pouco tarde para me afastar.

Acordei às seis da manhã com a movimentação do Ryan abrindo a porta da sala para sair para trabalhar, tirei os protetores e não consegui voltar a dormir. Me levantei, ainda sonolenta, para preparar um café, e notei um pedaço de papel dobrado próximo à porta. Peguei achando que poderia ter caído do bolso do namorado da Paty, alcancei meus óculos na mesa de centro, desdobrei para saber do que se tratava e abri um sorriso de imediato.

“Bom dia, Estela!

PS. Ainda preciso pensar em um apelido fofo para você, embora goste muito do seu nome, é a única

 Estela que conheço.

Gostaria de te convidar para almoçar ou fazer qualquer outra coisa a tarde, mas nossos horários são incompatíveis, passarei o dia inteiro trabalhando, e você a noite, mas daremos um jeito de tornar isso

mais fácil!

Não saia daquele bar sem mim, não vou conseguir dormir sem seu beijo de boa noite!

PS. Esse lugar não é seguro, um dos seus vizinhos abriu a porta para mim sem nem me questionar.

Beijos, até mais!

Seu Rodrigo”

Pressiono o papel contra o meu peito, onde meu coração bate exageradamente rápido, e me sinto derreter no carpete, sem acreditar que ele veio até aqui só para deixar um bilhete de “bom dia” na minha porta.

— Bom dia! Que carinha é essa? — Paty pergunta encostada no batente da porta do quarto, descabelada, com a maquiagem do dia anterior, borrada e algumas marcas pelo pescoço. Mordo o canto dos lábios e volto para o sofá, me sentando ainda agarrada ao papel.

— Estela, o que mudou de ontem para hoje? Você estava toda triste e desanimada quando sai do bar ontem, e hoje está aí, com esse sorriso nos olhos. Não que eu não goste disso, prefiro ver você assim, é só por curiosidade mesmo. — A Paty é meio “tagarela”, às vezes ainda nem acordei direito e ela já falou sobre dez assuntos diferentes, mas já me acostumei.

— Não me diga que… o “Reacher” deu sinal de vida? — Arqueio minhas sobrancelhas.

— Quem? — Pergunto achando graça.

— O cara que você deu uns beijos, com olhos de gato e um metro e

noventa e cinco de músculos. Me desculpe, mas toda vez que assisto “Reacher” com o Ryan, me lembro dele. — Dobro calmamente meu bilhete, para aguçar ainda mais sua curiosidade.

— Se está se referindo ao Rodrigo, você é muito exagerada, ele não tem um e noventa e cinco, mas, sim, ele foi me buscar ontem. — Um sorriso malicioso surge em seus lábios.

— E aí, o que ele disse a respeito do sumiço? — Explico toda a situação, que ele estava viajando a trabalho e que o primo dela não me deu o recado, e a ouço xingar o Ivan de palavrões que nunca nem ouvi.

— Deu mais uns beijinhos nele? — Confirmo com a cabeça e ela faz uma dancinha maluca pela sala.

— Ele… ele queria que eu fosse dormir na casa dele. — Ela se senta ao meu lado e me olha como se esperasse por algo.

— E aí? — Pergunta gesticulando com as mãos para que eu continue.

— E aí, que estou aqui, não estou? — Sua cabeça pende para trás ao ouvir minha resposta, mas volta a me olhar arqueando uma das sobrancelhas.

— Me diz uma coisa, você é virgem? — Nego com a cabeça.

— Não, deixei de ser aos vinte anos, com um rapaz que namorei durante a faculdade. — Suas sobrancelhas quase alcançam o teto.

— Faculdade de que? Não sabia que era formada. — Droga! Sabia que em algum momento deixaria algo do meu passado escapar. Não que seja algo grave ela saber disso, só não quero ter que ficar mentindo.

— É, sou, sim. Enfermagem. — Digo entre os dentes e seus olhos se arregalam.

— Precisa ver logo esses seus documentos, não pode continuar naquele bar, podendo estar exercendo sua profissão em algum hospital da cidade.

— Vou ver isso. — Respondo e ela sacode as mãos no ar.

— Voltando ao assunto, qual é o seu problema, por que rejeitou passar a noite com o “Cratos”? — Arqueio minhas sobrancelhas. — “Cratos”, o deus da força. — Explica, provocando minha risada.

— Porque ainda é cedo, só saímos duas vezes. — Ela ri e segura minha mão.

— Então, você não tem vontade, não se sente atraída por ele a ponto de ir adiante? — Um breve filme da noite anterior passa em minha cabeça. O jeito como me beijou e se esfregou em mim, me bombardeando com pensamentos obscenos…

— Claro que ele me atrai. — Um sorriso faceiro se abre em seu rosto.

— Estelinha do meu coração, não tem cedo ou tarde, não se prenda a regras da sociedade e nem se sinta obrigada a nada. Basta que você sinta vontade, é o seu corpo, não importa se vai ser no primeiro, segundo

ou décimo encontro, se você quer, se permita.

Sabe quanto tempo demorei para transar com o Ryan? — Nego com a cabeça. — Uma hora! — Meus olhos se

arregalam. — Os meninos da banda o trouxeram aqui para me apresentar o novo baterista e uma hora depois estávamos transando nesse sofá. — Olho para o sofá onde estamos sentadas e me levanto por impulso.

— Ai, meu Deus! Durmo nele todos os dias! — Ela gargalha.

— Melhor você não ficar pensando nisso, já “batizamos” todos os cantos desse apartamento. — Me sento na mesa de centro a sua frente olhando a nossa volta, tentando não imaginar nada que me arrependa.

— Sabe por que aconteceu tão rápido com a gente? Não é porque sou louca ou coisa pior, foi porque nós dois

queríamos. Tínhamos certeza disso desde que apertamos nossas mãos, ainda na presença do pessoal da banda, e estamos juntos há quatro anos.

Não importa se vai ser hoje ou daqui a um ano, basta ter certeza do que quer, a decisão tem que ser sua.

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Comments

Maria Helenice

Maria Helenice

Nossa kkkk meu Deus uma hora kkk

2024-05-07

2

Heloiza Carvalho

Heloiza Carvalho

hummmm perfeitooooo👏

2024-03-21

4

Disandra Azevedo Dos Santos Barboza

Disandra Azevedo Dos Santos Barboza

Que fofo ❤️❤️❤️ um príncipe 😻

2024-03-07

2

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