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Numa quinta feira a tarde, passo horas no meu quarto estudando para as provas da escola, em menos de duas semanas entraremos nas férias do meio do ano. Eu quero aproveitar, alcançar as melhores notas da turma para que os meus pais fiquem alegres e me deixem ir para a cidade de Unaí. Se possível, quero ficar lá por duas semanas inteirinhas com o Bernardo, tem quase dois meses que não o vejo. Por mais que o Vitor tenha insistido, ele ainda nem ignora, o único jeito que vejo para mudar isso é indo até onde o meu primo está.

A noite, eu e os meus pais jantamos juntos, acho estranho ter três dias que o Mathias não vem até aqui. Ele aparecia constantemente para comer conosco, na verdade, acho que só queria me irritar com sua presença constante, provocações e aquele ridículo apelido que fica me chamando.

_ Porque o Mathias sumiu daqui esses dias pai? _ Pergunto enquanto comemos.

_ Nós o enviamos para o exterior _ o encaro, tenho a impressão que escuto errado o que diz. _ Vai fazer um intercâmbio durante dois anos para aprimorar os seus conhecimentos nos negócios _ paro com o garfo no meio do caminho até a minha boca, uma mistura de sensações tomam conta de mim.

_ Então é isso, cada dia manda alguém para outro lugar? Que absurdo! Porque estão fazendo essas coisas? _ Demonstro toda a minha indignação, as palavras saem sem controle, estou possessa sem saber direito o porque de agir assim. A minha mãe se assusta com esse meu rompante, o meu pai não entende nada.

_ Que isso filha? _ Ele me questiona.

_ Porque agiu assim? Para me punir? _ Depois que começo a discutir, não consigo mais parar.

_ Porque está tão irritada Gilda? Você nem mesmo gosta do Mathias _ ouço essas palavras da minha mae, fico muda. O que estou fazendo? Brigando porque aquele babaca foi embora do país? Porque? O que há de errado comigo afinal?

_ Só acho injusto sair mandando eles embora do nada _ tento me recompor. _ Primeiro foi o Bernardo, agora o Mathias, quando será o Vitor? O filho de vocês ainda mora nessa casa e vive atrapalhando a minha vida. Porque não enviam ele para outro planeta _ as besteira vão saindo da minha boca sem controle algum.

_ Deixa de agir feito uma louca menina _ ela ralha me olhando com a cara fechada.

_ Sou doida mesmo e a culpa é de vocês que querem tirar todo mundo de perto de mim _ continuo. _ Vocês não tem vergonha de fazerem isso?

_ Para com isso Gilda _ o meu pai tenta me controlar.

_ Vocês querem me enlouquecer de vez, vai chegar o dia em que vou embora dessa casa, nunca mais vão me ver _ ameaço, isso está virando rotina.

_ Cala a sua boca senão quiser levar uns tapas _ grita a minha mãe, saio correndo para o meu quarto.

Quando chega as minhas ferias, para piorar a minha situação, eles não aceitam que eu viaje para Unaí, confiscam todos os meus cartões, choro por um dia inteiro.

De repente, a minha vida simplesmente vira um inferno, os dias passam lentamente, sofro por estar longe do Bernardo, vivo no tédio pela ausência do Mathias com suas implicâncias comigo.

Emburrada, não participo dos almoços de domingo em família, coloco uma distância entre mim e as outras pessoas, stalkeio o Bernardo na internet. Fico sofrendo ao ver que ele segue com sua vida tranquilo enquanto eu tenho vontade de morrer por estarmos longe um do outro.

As férias acabam, perco o ânimo de voltar para as aulas, faço por obrigação, a depressão fica me rondando com frequência.

É quando recebo um emoji de sol de um úmero desconhecido, descubro ser o Bernardo. Demorou, mas a chantagem que fiz com o meu irmão deu certo, volto a falar com o meu primo por mensagem todos os dias.

Nem acredito na atenção que ele está me dando, mentira, ele só responde secamente e com educação, nada mais, nem parece ser a mesma pessoa. Tento chamadas de vídeo ou áudio, não funciona, me responde com mensagens curtas e diretas, deixa claro repetidamente que sou apenas a sua prima, que isso nunca vai mudar.

Como ele está longe, não ouso discutir, ou corro o risco de que me bloqueie novamente. É melhor eu manter esse pequeno contato do que nenhum, as vezes, a minha cabeça começa a imaginar que ele está com outra mulher, nessa hora fico louca de ciúmes.

" Bom dia Bernardo, Como você está hoje? Eu sinto tanta a sua falta, queria estar aí ao seu lado, estou morrendo de saudades, sem você aqui, fico desanimada, nem tenho vontade de ir para a escola." _ Envio para ele numa manhã de segunda feira.

" Mantenha o foco nos seus estudos, nossa vida sempre seguirá por caminhos opostos, para de se enganar achando que vamos ter alguma coisa. Quanto antes aceitar que somos somente primos, melhor será para você." _ Sua resposta é a mesma, palavras secas misturadas com as broncas que sei de cor.

" Não importa quanto tempo passe, sei que estaremos juntos no futuro, fomos feitos um para o outro." _ provoco.

" Minha querida prima, escolha com cuidado tudo o que escreve para mim, falta muito pouco para eu perder a paciência com você." _ Seu aviso me deixa sem fôlego, que safadinho, vai usar os meus métodos agora? Chantagem nua e crua? Observo a tela do celular, não sei o que responder, tenho medo de irrita-lo ainda mais. Chega outra mensagem dele, leio rápido. " Você sente saudades do Mathias também? " _ Releio várias vezes para ter certeza de que ele escreveu isso mesmo. Porque ele está querendo saber disso? Que estranho.

" Nem em sonho, aquele babaca não presta para nada." _ Garanto, ele demora para responder, chego a pensar que não vai enviar mais nada.

" Vai para a escola panda." _ O que? O idiota do Mathias contou para o Bernardo sobre aquele apelido horrível? Será que entrou em detalhes? Falou que dormimos juntos.

Mais que depressa começo a escrever tentando explicar a situação, porém apago várias vezes, não sei como tocar no assunto. Nervosa, ignoro sua última mensagem, vou para o colégio.

Durante a semana começo a observar que desenvolvo crises de ansiedade, minha mente me trai com imagens do Bernardo com alguma mulher.

Convenço minha mãe a me levar numa consulta com um psiquiatra, o profissional me atende, escuta minha triste história, invento tantas mentiras que não serei capaz de lembrar depois. Então, consigo o que eu quero, uma receita com alguns calmantes, sempre que a imagem do Bernardo com alguma vagabunda vem a minha cabeça, tomo dois comprimidos.

A minha mãe nem sonha que eu estou fazendo isso ou me internaria de vez num sanatório.

Já estipulei um tempo para me auto medicar, é só até o meu primo voltar para Belo Horizonte, depois jogo tudo fora.

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Comments

Simone Oliveira

Simone Oliveira

Essa Gilda está realmente desequilibrada

2024-07-13

1

Maria Joana Cunha Costa

Maria Joana Cunha Costa

Que doideira ah faça ela partir
pra outra esquecer esse Bernardo
já deu faça ela dá desprezo
viver a vida dela se valorizar aff

2024-02-06

1

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