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Mais um domingo em que estou com a animação total, passei a semana toda trocando mensagens com o Bernardo. Mentira! Ele não me respondeu uma única vez, aquele malvado, está me dando um gelo.

Hoje estou usando uma saia lilás bem curta e justa, sei que vou receber um olhar matador da minha mãe, não ligo. Como o meu corpo é avantajado para não dizer obeso, procuro ressaltar o que tenho de mais bonito, as pernas e os seios, quero deixar o Bernardo louquinho. Sorrio imaginando a cara que ele vai fazer.

A minha blusa é decotada, calço uma sapatilha delicada, sento na frente do espelho para fazer aquela maquiagem bem top. Vou cercar o Bernardo de todo o jeito que eu conseguir, vou me casar com ele, não importa se tiver que passar por cima do mundo inteiro.

Quando termino, pego o meu celular, envio uma mensagem para a Vitória pedindo que me avise quando o seu irmão chegar aqui em casa. Não vou descer com antecedência, quero causar, do jeito que a minha mãe é, se eu aparecer antes ela vai me obrigar a trocar de roupa.

Enquanto aguardo entro na rede social do Bernardo, admito que sou uma stalker com ele, sorrio igual uma besta por isso. Olha só, ele postou uma foto num clube do outro lado da cidade. Estranho quando percebo que ele está no lugar agora mesmo, aumento a tela, tem o ombro de uma mulher ao seu lado.

Uma raiva que nunca senti antes se apossa de mim, são quase dez horas da manhã, o safado está num clube com alguma vagabunda. Nesse instante recebo a resposta da Vitória.

" Gilda, minha mãe disse que o Bernardo não vai na sua casa hoje. "

" Sei bem disso, ele postou uma foto no clube. " _ Respondo.

" Gilda, pelo amor de Deus não vai atrás dele. "

" Não se preocupe, estou de boa. " _ Ao mesmo tempo que nego, chamo um carro pelo aplicativo.

" Estou falando sério prima, se for até lá as coisas vão ficar ruins para você. "

" Fica tranquila Vitória, estou de castigo se esqueceu? "

" Aí que bom, assim fico mais aliviada, daqui a pouco estarei aí e conversamos pessoalmente. "

" Vou te esperar. "

Decidida escolho uma bolsa para combinar com a minha roupa, coloco a carteira e o celular dentro, saio do meu quarto. Desço as escadas devagar, pelos barulhos a minha mãe deve estar na cozinha, ando com cautela até a porta de entrada.

_ Onde você pensa que vai? _ Escuto a voz do meu pai atrás de mim, viro para inventar alguma mentira.

_ Pai combinei de comprar uma bolsa nova com a Vitória, o aniversário dela está chegando, quero passar rapidinho no shopping, depois volto com ela para casa _ as palavras saem fáceis, quase que eu mesma acredito nelas.

_ Sua mãe não vai deixar _ avisa.

_ Por isso estou saindo escondida, não vamos demorar, mãe vai pensar que ainda estou no meu quarto _ faço uma cara de pedinte.

_ Você está de castigo filha.

_ Por favor pai, em menos de uma hora estarei de volta _ junto as mãos como se fosse rezar.

_ Está bem, se sua mãe descobrir, eu não sabia de nada ok?

_ Obrigado _ desapareço da sua frente.

O carro chega rápido, por ser domingo não tem muito trânsito, quase meia hora depois eu estou na porta do maldito clube.

Como não sou membro do lugar, pago um absurdo para entrar, está bem cheio, as pessoas estão alegres por todos os ambientes. Já ouvi falar desse lugar, mas não sabia que o Bernardo o frequentava, tem quadras, várias piscinas, área de campo, bar, lanchonete, restaurante, lugar para shows. Tudo muito diversificado, começo a tentar achar onde o meu primo está, não é uma tarefa fácil.

Para não perder tempo, pergunto aum dos garçons que passa por mim se sabe onde fica o lugar, ele me mostra, vou direto para lá.

Avisto o Bernardo de longe, como eu previa, tem uma mulher sentada ao seu lado, ela não é feia o que aumenta muito o meu ciúme. Fico cega, marcho com passos firmes até chegar ao seu lado, ele leva o maior susto ao me ver.

_ O que está fazendo aqui com essa mulher Bernardo?

_ Gilda? _ Se eu não estivesse com tanto ódio, iria rir da sua cara.

_ Eu mesma, vamos embora agora _ meu tom sai igual o de uma esposa que busca o marido no bar, sinto até um certo orgulho de mim mesma.

_ Quem é essa menina Bê _ a sirigaita decide se intrometer.

_ A futura esposa dele sua vagabunda _ ela abre a boca chocada com o que escuta, Bernardo sai me arrastando de perto da mesa, vamos para fora do bar.

_ Gilda você ficou louca de vez, foi? O que está fazendo aqui? A tia te colocou de castigo sua peste.

_ Quem é aquela mulher Bernardo?

_ Não é da sua conta! _ Sua língua está afiada. _ Não lhe devo satisfações da minha vida Gilda.

_ Como pode preferir vir para cá com outra mulher, a ir ao nosso sagrado almoço de domingo?

_ Acorda garota, para com essa cobrança, nós não temos nada um com o outro _ aumenta o tom de voz. _ Daqui a pouco vou precisar de uma medida protetiva contra você. A cada dia que passa fica mais doida!

_ Não fala assim comigo Bernardo, hoje é um dia sagrado para a nossa família, não acredito que se recusou a ir para a minha casa por causa de uma mulher _ daí em diante nossa discussão fica acalorada, as pessoas começam a nos olhar curiosas.

Meu celular começa a tocar sem parar, pego o aparelho, é a Vitória.

_ Oi

_ Gilda sua louca, onde você está? Cheguei na sua casa, o seu pai não entendeu nada, como você inventa que estava indo no shopping comigo sem me avisar?

_ Já estou indo para aí _ falo nervosa, o Bernardo me olha mau humorado.

_ Tive que sair do apartamento antes que a sua mãe me visse, anda logo, estou te esperando.

_ Ok _ desligo, tem muitas mensagens e ligações do meu pai, não respondo.

_ Olha só Bernardo, é melhor você me levar embora agora.

_ Não vou! Dá seu jeito de ir para casa.

_ Tudo bem, vou chegar lá e contar de uma vez para os meus pais que você abusou de mim e agora está fugindo da sua responsabilidade _ ameaço, ele ferve de raiva, trava os dentes, passa a mão nos cabelos, respira fundo.

_ Você venceu Gilda, me espera aqui _ volta para dentro do bar, deve estar indo se despedir da vagabunda.

Na volta tento puxar assunto com ele, não dá certo, mal olha para mim, está com bastante raiva.

_ Tudo o que faço é porque te amo Bernardo _ solto essas palavras com os olhos úmidos querendo chorar.

_ Se me ameaçar mais uma vez, eu mesmo vou contar o que aconteceu para os nossos pais _ seu tom é grave, me lança um olhar frio. _ E depois que eu fizer isso não vou olhar para a sua cara nunca mais _ começo a chorar alto.

Ele para o carro no acostamento, liga o pisca alerta, coloca a testa no volante, fecha os olhos, eu continuo em prantos.

_ Eu te amo _ gaguejo sentida, ele apruma o corpo, me encara, eu solto o cinto de segurança, o abraço apertado.

Crescemos juntos, vivendo um na casa do outro, nossa família é muito unida, compartilham o comando da empresa, não aceito o Bernardo sair da minha vida.

Isso é algo que nunca vou deixar que aconteça.

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