16 - Um primeiro passo

Sai do shopping a tempo de buscar o Luan. Chegando lá percebi que as mães estavam arrumadas e perfumadas demais, acabei ficando curiosa pela fofoca e fui falar com a inspetora das crianças. Ela é simpática comigo e sempre me conta se meu filho aprontou.

“O que está acontecendo aqui, hein!? Por que essas mulheres estão todas cheias de fogo?”

“Ah, você não está sabendo? Contrataram um novo professor para as crianças. Ele é jovem e bonitão, você não viu quando trouxe o menino?”

“Ah, nao…”, nossa, eu nem sabia que tinha professor novo e hoje eu deixei o Luan aqui e nem parei para conversar, não queria que ficassem falando que apareci com o Adam e o Luke aqui.

“Ah, ele está vindo aí!”, ela diz e eu me viro para a direção que apontou.

Estava vindo um homem jovem e realmente atraente, ele era loiro, alto e parecia ter uma idade próxima a minha. As crianças pareciam gostar dele, pois todas se aglomeram em volta dele. E ele estava segurando a mão do Luan e pensei que deve ser um cara legal pra já ter conquistado a confiança do meu filho.

As mães se aglomeram para falar com ele e eu fiquei no meu lugar, esperando que ele soltasse o meu filho para eu pegar. Não iria mesmo passar essa vergonha de ficar me jogando em cima do professor novo. Essas mulheres falam mal de mim, mas a maioria aqui é casada e tem essa atitude pedante.

“Oi, Helena, não é? Está esperando o Luan?”, ouço a voz do professor se aproximando, me surpreendendo, estava tão imersa em pensamentos que não percebi ele chegando.

Fiquei paralisada, olhando bem para ele de perto, senti uma sensação de familiaridade qua não sei por que.

“Nos conhecemos?”, pergunto, desconfiada.

Ele coça a nuca, sorri e responde, “Eu acho que não, até agora. Mas algumas pessoas dizem que eu pareço com alguém famoso, pode ser isso.”

“Hummm… ok…”,  não consigo me lembrar de ter visto ninguém igual a ele, mas a sensação de familiaridade não passa.

“Mamãe, esse é o tio Oliver! Ele ensinou a gente contar e cantou musiquinha pra gente!”, Luan já vem contando tudo.

Fiz carinho na cabeça dele e respondo ao professor, “Sim, eu sou a mãe do Luan. Pelo jeito a sua aula foi divertida, meu filho está muito contente.”

Ele sorri brevemente e diz, “Não foi nada, apanas cantei algumas músicas educativas.”

“Bom saber, o Luan parece que gostou muito. Ele é uma criança muito tranquila, mas me avise se ele aprontar na sua aula, tá?”, digo e me viro para ir embora, já estava louca para sair dali.

“Helena!”, Oliver me chama, me fazendo virar, “Depois deixe o seu número de contato, para conversarmos sobre o Luan.”

“Ah, meu número? A diretora tem o meu número, se precisar peça a ela.”, respondo e já pego o Luan no colo para a gente ir embora.

Cheguei em casa, eu e Luan almoçamos, tomamos  banho e depois eu resolvi ir a loja da minha tia com ele.

A lojinha cheirava a incenso, ela colocava uma música indiana ao fundo. O Luan adorava ir lá, porque ele achava que as estatuetas de deuses indianos e os cristais eram brinquedos.

Ele ficava entretido, enquanto eu podia conversar com minha tia.

“Por que a visita, Helena?”, ela já disse com um sorriso presunçoso, minha tia tinha uma intuição ferrada. Eu chegava perto dela e ela já intuía o que deveria ser.

“Pode jogar as cartas para mim?”, peço e já me sento em frente ao balcão.

Ela não hesita em pegar o baralho de tarot e começar a embaralhar as cartas.

“Está muito aflita, filha?”, ela pergunta, enquanto continuava a mover as cartas.

“Ah, tia, você sabe… com a volta do Adam e do Luke para minha vida, muitas dúvidas vieram junto. Você acha que aquele momento de escolher que você me disse será agora?”

“Vamos ver nas cartas.”, ela diz me oferecendo o baralho e eu retiro quatro cartas.

“Humm…” ela diz analisando, “ Vejo três homens na sua vida”

“Três?! Um deles é o Luan, né?”

“Não, são homens adultos e todos eles terão um papel no seu destino. O seu destino é incerto e vejo que algumas escolhas que fizer poderão ser desastrosas. Tome cuidado, filha!”, ela me olha e eu sinto um frio na minha barriga.

“Qual será a melhor escolha para o meu filho, tia?”

“Você saberá na hora, tá?”

Ela diz e eu fico um pouco insegura, porém, não posso parar minha vida por causa das cartas. Espero que eu faça a melhor escolha para o Luan.

“Ok, tia! Deixe essas cartas, a senhora pode ficar com o Luan hoje a noite?”

“É claro que eu fico! Que pergunta, menina! Vou adorar ter uma companhia para assistir comigo televisão.”

Reviro meus olhos, rindo. Minha tia era viciada nesses programas que as pessoas respondem perguntas para ganhar prêmios e todas as vezes que o Luan fica com ela, vem me contando cada coisa. Outro dia ele veio me dizendo do nada que o primeiro homem a pisar na lua era o Neil Armstrong. Não é uma coisa importante pra idade dele, mas foi muito engraçadinho ele dizendo. Pelo menos esses programas não ensinam coisas ruins para ele.

A noite finalmente chegou e eu vesti um vestido preto, mid, com mangas longas e as costas nuas. Prendi meus cabelos em um coque, calcei uma sandália preta de tiras e coloquei uma maquiagem bem feminina, com bastante rímel e batom rosa. 

Não sabia bem se Adam iria me levar a algum lugar chique, então vesti algo que não chamaria tanto a atenção em um lugar simples, mas ainda assim estaria bem arrumada para um lugar chique.

Adam chegou antes do horário marcado e ele estava lindo, vestindo uma camisa branca despojada, calça jeans e com os cabelos penteados para trás com gel.

Sorri involuntariamente ao ve-lo e ele me olhou por inteira e após disse que eu estava linda.

Percebi que o clima já estava esquentando entre nós, até que Luan apareceu e abraçou a minha perna, protetor.

“Oi Luan, você vai me emprestar a sua mãe hoje?”, Adam pergunta, se agachando para ficar na mesma altura do Luan.

“Não! A mamãe é só minha!”, sorri porque ele é muito ciumento as vezes.

“Olha, tome aqui!”, Adam diz tirando um dólar e oferecendo a ele. “Eu trago sua mãe de volta logo e você ainda pode comprar um doce.”

Luan olha a nota e ignora, balançando a cabeça em negativo.

“Ei rapaz, eu sei que sua mãe vale mais, não é? Tome, dez dólares!”

Luan olha para a nota, pensativo. Ele pega e depois volta a abraçar minha perna.

“Adam, você não pode ensinar o menino que ele pode vender a mãe dele?”, me viro para o Luan e digo, “Filho, a mamãe volta logo, tá? E ninguém vai roubar a mamãe de você, você é o homenzinho da mamãe!”

Ele sorri, mas não me solta. Eu não pensei que seria tão difícil sair de casa.

“Vejo que você é o homem dessa casa, não é?”, Adam diz e Luan acena em positivo, “Então vamos negociar, o que você quer para deixar sua mãe sair? Quer algum brinquedo? Eu posso comprar para você.”

Nesse momento, Luan fica pensativo, ele solta a minha perna e olha bem nos olhos de Adam e diz. “Eu quero um milhão!”

“O quê?!”, eu e Adam falamos juntos, igualmente surpresos.

“Um milhão, garoto… você nem sabe o que fazer com isso!”, Adam diz, sorrindo.

“Eu sei sim! Eu vou comprar um montão de brinquedo, sorvete e presente pra mamãe. Vou comprar um carro novo pra ela também porque o dela está uma lata velha!”

“O quê?!”, agora sou eu que digo, envergonhada. Meu Deus, não pode dizer nada na frente dele que ele repete tudo. Eu fico falando que meu carro está uma lata velha e agora ele vem dizendo o mesmo.

“Humm, entendo…”, Adam diz, olhando seriamente para Luan, como se ele fosse adulto, “Um milhão é muito dinheiro e eu posso te dar se você se formar na faculdade com as melhores notas.”, Luan acena em positivo, concordando. “Certo, então você tem que deixar que eu seja seu pai primeiro, assim eu vou poder cuidar de você e da sua mãe.

“E você vai me dar um milhão?!”, Luan pergunta novamente, com os olhos.

“Vou, mas eu já te disse. Você tem que me deixar ser seu pai e se formar na faculdade, temos um acordo de homens?”, Adam pergunta e oferece a mão para ele. Luan pega e ele balança, firmando o acordo.

Depois disso, Luan me libera e eu consigo sair. Estranhamente Adam tinha jeito com criança, ele podia ter ficado chateado porque o menino fez aquele pedido extravagante, mas entendeu que foi algo inocente.

Entramos no carro e antes de ele dar a partida, eu digo, “Você não levou a sério, não é? Não precisa dar um milhão para ele. Luan fica assistindo esses programas de tv que dão premiações se as pessoas respondem perguntas e ele está na idade que repete tudo que vê e que ouve.”

“É… na minha época crianças pediam cinquenta centavos.”, ele diz e eu começo a rir.

“Quanto eu devo estar devendo de pensão alimentícia, mesmo? Dependendo pode ser até que ultrapasse um milhão.”

“Não faço ideia, só sei que já gastei muito, viu? Não é nada barato ter filho hoje em dia.”

Adam me dá um beijo de surpresa e após diz, “Vamos para o nosso encontro? Eu tenho certeza que vai ser inesquecível a nossa noite.”

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